Por G1


Rede de livrarias Saraiva faz pedido de recuperação judicial — Foto: Divulgação

A rede de livrarias Saraiva, maior do país, fez nesta sexta-feira (23) pedido de recuperação judicial depois de não conseguir acordo com fornecedores para renegociação de dívidas. A empresa listou no pedido débitos de R$ 675 milhões, de acordo com a Reuters.

Fundada há 104 anos, a Saraiva tem 85 lojas em 17 Estados do país e uma relevante operação de comércio eletrônico.

A empresa afirmou em comunicado ao mercado que "a recuperação judicial não altera, de forma alguma, o funcionamento da (área de) varejo, que segue, na data de hoje, com 85 lojas físicas em todo o Brasil e com sua operação de comércio eletrônico".

Maior rede de livrarias do país pede recuperação judicial

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No final de outubro, a Saraiva anunciou o fechamento de 20 lojas em todo o país. Segundo a companhia, cerca de 700 funcionários foram desligados em todas as unidades de negócios da empresa.

Em nota divulgada ao mercado, a empresa diz que tem tomado "diversas medidas para readequar seu negócio a uma nova realidade de mercado, com quedas constantes no preço de seu principal produto, o livro, e aumento da inflação".

"Em decorrência do agravamento de sua situação, a Companhia julga que a apresentação do pedido de Recuperação Judicial é a medida mais adequada nesse momento, no contexto da crise no mercado editorial, reflexo do atual cenário econômico do país", afirma a companhia.

A ação da Saraiva caiu 13,88% na B3, para R$ 1,80, na menor cotação de fechamento da sua história. No acumulado no ano, o papel da companhia já registrava perdas de cerca de 55%

Segundo dados da Economatica, a Saraiva estava avaliada até esta quinta-feira em R$ 58 milhões em valor de mercado, ante R$ 120 milhões no final do ano passado. Em janeiro de 2011, a empresa chegou a valer R$ 1,210 bilhão na bolsa.

Resultados negativos

No segundo trimestre deste ano, a Saraiva teve prejuízo de R$ 37,6 milhões. No mesmo período de 2017, o prejuízo foi de R$ 16,6 milhões.

Entre abril e junho, a receita líquida da companhia somou R$ 364,5 milhões, uma queda de 1,6% na comparação com o segundo trimestre de 2017. A receita com lojas foi de R$ 227,9 milhões, queda da 4,1% no período, e com o e-commerce chegou a R$ 136,5 milhões, crescimento de 2,9%.

A companhia acumula de janeiro ao final de setembro prejuízo líquido de R$ 103 milhões, mais que o dobro em relação ao resultado negativo de R$ 50 milhões de um ano antes.

Segundo o último ranking Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), a Saraiva é 52ª maior varejista do país, tendo registrado em 2016 um faturamento de R$ 1,89 bilhão. Fnac e Livraria Cultura apareciam, respectivamente, na 97ª e 120ª colocações.

Histórico

A Saraiva foi fundada em 1914 em São Paulo pelo imigrante português Joaquim Ignácio da Fonseca Saraiva. Funcionando próxima à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em 1917, passou a editar livros jurídicos.

A expansão da rede começou na década de 1970, com a abertura da segunda loja, na Praça da Sé. Na década seguinte, lojas foram abertas em shoppings e em outros estados do país.

Segundo a companhia, os negócios começaram a perder ritmo em 2014, com a estagnação da economia do país. A Saraiva diz ainda que o faturamento foi impactado no passado recente pela greve dos caminhoneiros e pela Copa do Mundo, pelo desabastecimento de fornecedores de telefonia e tecnologia, e por problemas na implementação do novo sistema interno de gestão.

Setor em crise

O setor de livrarias enfrenta uma crise severa. No mês passado, a Cultura entrou em recuperação judicial. A empresa justificou a decisão pelo cenário econômico nacional adverso e pela crise no mercado editorial. Segundo a companhia, o setor encolheu 40% desde 2014.

Também em outubro, a Cultura encerrou as atividades de todas as lojas da rede Fnac – a empresa da família Herz tinha comprado a rede em julho do ano passado.

A Cultura acumula dívidas de R$ 285,4 milhões – a maior parte com fornecedores e bancos.

O segmento de livros, jornais, revistas e papelaria é a atividade com o pior desempenho do varejo brasileiro em 2018. Segundo dados do IBGE, no acumulado no ano até setembro as vendas têm queda 10,1%, ante uma alta média de 2,3% de todo o setor comercial.

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