Por Fantástico


'Não consigo acreditar que ela não vai voltar', diz companheira de Marielle

'Não consigo acreditar que ela não vai voltar', diz companheira de Marielle

A arquiteta Monica Tereza Benício ainda tenta aceitar a perda de sua companheira, com quem vivia por 12 anos, a vereadora Marielle Franco, morta na última quarta-feira (14) no Centro do Rio. Em entrevista emocionada ao Fantástico, interrompida várias vezes pelo choro, ela relembrou a relação com Marielle, os planos interrompidos e o momento em que recebeu a notícia trágica.

Ela diz que sua companheira estava feliz e despreocupada, não falava em ameaças, nem se sentia em risco. As duas planejavam se casar em setembro do ano que vem e já tinham começado, aos poucos, os preparativos.

A arquiteta ainda tenta aceitar o que aconteceu. "Eu ainda não consigo acreditar que ela não vai voltar pra casa. Eu ainda não consigo entender por que fizeram isso com ela."

A seguir, os principais trechos da entrevista.

O DIA DO CRIME

"Ela mandou uma mensagem 'já tô no carro, vc tá precisando de alguma coisa? precisa que eu leve alguma coisa?' Falei que não, entrei em casa, achei que ela fosse chegar um pouco primeiro. E 20 minutos depois ela ainda não tava em casa, eu achei aquilo esquisito. Aí liguei mais 20 vezes e fui começando a ficar muito desesperada porque ela não atendia."

Uma amiga foi até sua casa contar o que havia acontecido.

"Eu falei 'Dani o que que aconteceu? Cadê a Marielle?' Ela falou: 'você precisa ser forte. A Marielle morreu'. E aí eu caí no chão porque eu não conseguia ficar em pé."

ABALO EMOCIONAL

"É muito difícil porque eu ainda não consegui concretizar que ela não vai voltar. Isso é uma coisa que eu ainda não entendo, eu não consigo dormir porque ela não tá do lado e, quando eu acordo e abro o olho e entendo o que tá acontecendo, é muito dificil querer levantar da cama. Eu pensava porque que eu não tava no lugar do Anderson. Porque eu não consigo entender o que que eu vou fazer da minha vida sem ela agora."

"Posso continuar falando porque eu acho que ela ia querer isso. Ela era muito forte na rua, na câmara, gritava e falava. Eu sempre brinquei que eu precisava daquela força e ela da minha racionalidade porque era muito impulsiva com algumas coisas e em casa ela era completamente o oposto daquilo porque era uma mulher super frágil, que chorava pelos conflitos do dia, chorava porque pessoas tinham perdido a casa."

'Não consigo acreditar que ela não vai voltar' — Foto: rede globo

PLANOS PARA O CASAMENTO

"A gente conversava muito sobre tudo isso [se sentir em risco], ela teria me dito alguma coisa, mas nada... ela tava feliz, tava despreocupada, a gente tava muito feliz. planejando casamento pro ano que vem. Tem um monte de coisa, de e-mail de casamento que eu vou ter que responder que nao vai mais acontecer (...) A gente tava esperando a data de setembro do ano que vem, porque esse ano ia ser ano de eleição e a gente queria organizar as coisas aos poucos esse ano e depois tentar organizar melhor as coisas pro ano que vem. Ela falava muito disso, ela queria muito isso, a gente demorou muito tempo pra conseguir ficar junta de verdade e quando a gente finalmente conseguiu, tudo muito breve.... Ela tinha me dito que ia ser pra sempre dessa vez. (chora muito)".

INÍCIO DO RELACIONAMENTO

"Começou, a gente tem, entre muitas idas e vindas, 12 anos de relação, 13 anos agora faria. A gente começou muito nova, a gente se conheceu por acaso numa viagem de carnaval com amigos em comum. E aí, desde o primeiro momento, que eu a vi a gente teve uma empatia muito grande. É difícil ainda assim andar de mãos dadas na rua sem ouvir muitas agressões, então, o início do relacionamento foi muito velado e muito difícil. Ela tava com a Loiara pequena, com cinco anos na época..."

Família de Marielle Franco pede Justiça e fim de mentiras e ofensas contra a vereadora assassinada — Foto: Reprodução/TV Globo

‘Só tinha uma maneira de calar minha filha’

Na casa dos pais de Marielle, a dor é intensa. Pai, mãe, irmã e filha unem forças para enfrentar o momento. Segundo eles, ela era a liderança da casa, quem unia os familiares. Uma pessoa forte e determinada, que não tinha medo de enfrentar as dificuldades.

“Ela sempre foi muito determinada. E só tinha uma maneira, só tinha uma maneira de calar minha filha, é o que eles fizeram com ela. Porque se eles não matassem ela ia alçar voos mais altos. Ela ia chegar muito mais longe”, diz o pai de Marielle, Antonio Franco.

Mentiras e ofensas na internet

Além de lidar com a dor da perda, os familiares sofrem com mentiras e ofensas publicadas na internet. “As pessoas estão colocando mentiras, cara. Minha mãe não era nada disso”, diz a filha Luyara, de 19 anos.

“Algumas pessoas não entendem o que é direitos humanos, essa que é a verdade. Nunca entenderam. Porque chamar minha filha de bandida, é inadmissivel”, diz a mãe da vereadora, Marinete.

Luyara desabafa e pede que as ofensas parem. “Que parem de falar mentira, as pessoas não conhecem ela, a gente conhecia, a gente sabe a história, a gente estava no dia a dia. Que respeitem a dor, nossa dor, nosso luto (...) Só respeito, peço justiça e que parem de inventar essas coisas.”

Infográfico mostra como ocorreu o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, segundo as investigações — Foto: Alexadre Mauro, Betta Jaworski, Igor Estrella, Juliane Monteiro e Karina Almeida/G1

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