Política Bolsonaro

Senado pode derrubar decreto das armas nesta terça-feira

Governo aposta em pressão das redes sociais para reverter tendência de derrota
Plenário do Senado Federal Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado
Plenário do Senado Federal Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

BRASÍLIA — O Senado pode derrubar nesta terça-feira os decretos editados em maio pelo presidente Jair Bolsonaro para flexibilizar a posse e o porte de armas . Na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a derrubada dos decretos, por 15 votos a 9 . Apesar de a tendência ser de nova derrota no plenário, o governo tem apostado na pressão das redes sociais para reverter o resultado. Com isso, os dois lados evitam declarar vitória antecipadamente, prevendo uma votação apertada. Caso a decisão da CCJ seja mantida, ela ainda terá que ser confirmada pela Câmara para ter efeito. De acordo com pesquisa Ibope, a maioria dos brasileiros é contra a flexibilização das regras das armas .

No sábado, Bolsonaro fez em suas redes sociais um pedido para a população cobrar os senadores pela manutenção dos decretos . Nesta terça-feira, o presidente disse que nada poderia fazer numa eventual derrota do texto. "Não sou ditador, sou democrata, pô" , destacou ele.

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), diz que recebe constantemente mensagens pedindo a manutenção dos decretos, mas afirma não saber se a pressão popular será suficiente:

— A população está fazendo uma cobrança bastante efetiva. Não passa 10 segundos que não entra uma mensagem, de vários lugares do país, pedindo para eu votar pelo decreto. O presidente pediu para a população acompanhar como vota cada um dos senadores. Agora, não consigo ter um prognóstico de quantos votos conseguiremos virar.

LEIA : Perguntas e respostas: entenda o decreto das armas de Bolsonaro

Por outro lado, o líder do PT, Humberto Costa (PE), avalia que há uma "boa chance" de derrubar as medidas, mas diz que o efeito da pressão nas redes sociais é incerto:

— Acredito que há uma boa chance de a gente derrotar essa decreto. De certa forma, o resultado da CCJ já reflete um pouco isso. Agora, não sei se muita gente vai se submeter a essa chantagem das redes sociais. Isso pode ter dois efeitos. Aqueles menos consistentes politicamente podem se submeter a isso. Por outro lado, tem muita gente que está revoltada, porque é uma pressão descabida.

O líder do PSD, Otto Alencar (BA), classificou a atitude de Bolsonaro como “equivocada”. Ele disse que manterá seu voto, mesmo tendo recebido ligações de pessoas de diversas partes do país o pressionando.

— Acho uma atitude equivocada do presidente em querer, através de rede social, mudar posição política. Sou contra, vou votar contra e encaminhar contra. Ele está enganado — criticou. — Recebi ligação do (DDD) 11, 19, 61, 55, 15. Acho que pegaram nossos telefones e distribuíram para os seguidores do Bolsonaro. Mas eu sou daqueles que só acredito que o cara é valente quando está na minha frente.

como era E
como ficou
Mais duas categorias
Limite na compra de
armas e munições
Primeiro decreto
Na versão anterior, entre as 20
categorias que tiveram porte
facilitado, estavam apenas advogados
do setor público e proprietários ou
dirigentes de lojas de armas e de
escolas e clubes de tiro
Primeiro decreto
A versão anterior da medida não
Segundo decreto
estipulava quantidade máxima de armas
O decreto permite agora que
todos os
e munições para colecionadores,
tenham direito ao
advogados do país
caçadores e atiradores
porte de arma. Esse número, segundo a
Segundo decreto
OAB, chega a 1,139 milhão de
profissionais. Também receberam o
Estabelece limite de armas que
direito os
funcionários de lojas de
colecionadores, caçadores e atiradores
armas e de escolas e clubes de tiro
poderão adquirir: cinco, 15 e 30,
que sejam responsáveis pela guarda
respectivamente. O limite poderá ser
dos armamentos
ultrapassado, com autorização da PF.
As munições que essas categorias
podem comprar ficam limitadas a mil,
inconstitucional
total que pode ser ultrapassado com
Mesmo com as
autorização do Comando do Exército
mudanças, o decreto é
considerado inconstitucional por
Arma ostensiva
especialistas. Um dos principais
pontos criticados é que o texto
alterou o Estatuto do
Desarmamento ao aumentar o
número de categorias profissionais
Primeiro decreto
com acesso facilitado à arma
Havia apenas expressão proibindo o
uso ostensivo de arma, sem previsão de
Crianças
punição e perda de porte no caso de
embriaguez
Segundo decreto
O porte será suspenso por um ano
caso o portador conduza arma
Primeiro decreto
“ostensivamente”. Caso haja
A versão anterior dizia que a prática em
reincidência, a permissão será
clubes de tiro seria permitida a qualquer
cancelada. A autorização também será
menor de 18 anos, desde que
revogada se o portador de arma for
autorizado por um dos pais
abordado “em estado de embriaguez
ou sob efeito de substâncias químicas
Segundo decreto
ou alucinógenas”
Novo texto diz que a prática é
permitida para jovens entre 14 e 18
anos, desde que autorizado pelos seus
Fuzil
responsáveis legais, ou apenas um
deles, na falta do outro
Área rural
Primeiro decreto
Estavam liberados tanto a posse quanto
o porte de armas portáteis de uso
permitido, o que inclui o fuzil, que se
Primeiro decreto
encaixava nos critérios técnicos
previstos
Incluiu os moradores de áreas ruais
entre as categorias sem necessidade de
Segundo decreto
comprovar “efetiva necessidade” para o
porte de armas
O governo passou a proibir o porte de
fuzil. O novo decreto ainda autoriza a
Segundo decreto
qualquer pessoa a posse, mas o
comando do Exército terá prazo de 60
Em áreas rurais, o decreto condiciona a
dias para estabelecer quais armas serão
autorização do porte de armas à “justa
permitidas. Segundo o Jornal Nacional,
posse” da terra — termo que tem o
o fuzil T4 será considerado pelo Exército
objetivo de impedir que invasores de
arma de uso restrito, o que impede sua
propriedades, como movimentos sem
compra por civis
terra, tenham esses armamentos
como era E como ficou
Limite na compra de
armas e munições
Primeiro decreto
A versão anterior da medida não
estipulava quantidade máxima de armas
e munições para colecionadores,
caçadores e atiradores
Segundo decreto
Estabelece limite de armas que
colecionadores, caçadores e atiradores
poderão adquirir: cinco, 15 e 30,
respectivamente. O limite poderá ser
ultrapassado, com autorização da PF.
As munições que essas categorias
podem comprar ficam limitadas a mil,
total que pode ser ultrapassado com
autorização do Comando do Exército
Mais duas categorias
Primeiro decreto
Na versão anterior, entre as 20
categorias que tiveram porte
facilitado, estavam apenas advogados
do setor público e proprietários ou
dirigentes de lojas de armas e de
escolas e clubes de tiro
Segundo decreto
O decreto permite agora que
todos os
tenham direito ao
advogados do país
porte de arma. Esse número, segundo a
OAB, chega a 1,139 milhão de
profissionais. Também receberam o
direito os
funcionários de lojas de
armas e de escolas e clubes de tiro
que sejam responsáveis pela guarda
dos armamentos
inconstitucional
Mesmo com as
mudanças, o decreto é
considerado inconstitucional por
especialistas. Um dos principais
pontos criticados é que o texto
alterou o Estatuto do
Desarmamento ao aumentar o
número de categorias profissionais
com acesso facilitado à arma
Fuzil
Primeiro decreto
Estavam liberados tanto a posse quanto
o porte de armas portáteis de uso
permitido, o que inclui o fuzil, que se
encaixava nos critérios técnicos
previstos
Segundo decreto
O governo passou a proibir o porte de
fuzil. O novo decreto ainda autoriza a
qualquer pessoa a posse, mas o
comando do Exército terá prazo de 60
dias para estabelecer quais armas serão
permitidas. Segundo o Jornal Nacional,
o fuzil T4 será considerado pelo Exército
arma de uso restrito, o que impede sua
compra por civis
Área rural
Primeiro decreto
Incluiu os moradores de áreas ruais
entre as categorias sem necessidade de
comprovar “efetiva necessidade” para o
porte de armas
Segundo decreto
Em áreas rurais, o decreto condiciona a
autorização do porte de armas à “justa
posse” da terra — termo que tem o
objetivo de impedir que invasores de
propriedades, como movimentos sem
terra, tenham esses armamentos
Crianças
Primeiro decreto
A versão anterior dizia que a prática em
clubes de tiro seria permitida a qualquer
menor de 18 anos, desde que
autorizado por um dos pais
Segundo decreto
Novo texto diz que a prática é
permitida para jovens entre 14 e 18
anos, desde que autorizado pelos seus
responsáveis legais, ou apenas um
deles, na falta do outro
Arma ostensiva
Primeiro decreto
Havia apenas expressão proibindo o
uso ostensivo de arma, sem previsão de
punição e perda de porte no caso de
embriaguez
Segundo decreto
O porte será suspenso por um ano
caso o portador conduza arma
“ostensivamente”. Caso haja
reincidência, a permissão será
cancelada. A autorização também será
revogada se o portador de arma for
abordado “em estado de embriaguez
ou sob efeito de substâncias químicas
ou alucinógenas”

O líder do PSDB, Roberto Rocha (MA), afirma que apenas parlamentares sem convicção podem mudar seus votos. Ele explica que a posição do partido na CCJ foi pela derrubada do decreto, mas que a orientação ainda será decidida.

— Aqueles senadores que não têm posição política, sim. Os que têm convicção do processo legislativo, não — disse, já acrescentando sua posição, contrária à maneira com que os decretos foram editados: — Não estamos discutindo o mérito, estamos discutindo a forma.

Esperidião Amin (PP-SC), líder do bloco que reúne MDB, PP e PRB, diz que não irá mudar seu voto, que é contrário ao decreto, mas acredita que alguns senadores devem mudar sua posição após a fala de Bolsonaro.

— Acho que deve ter (impacto). Não me senti pressionado, mas deve ter, é evidente. Acho que ele está no direito dele.

O líder do MDB, Eduardo Braga (AM), também disse que não irá alterar seu voto e apostou na derrubada dos decretos:

— Acredito que sim (a decisão da CCJ será mantida) — afirmou, acrescentando que a pressão de Bolsonaro não surtiu efeito nele: — No que toca a minha pessoa, não.