Política Eleições 2018

Bancada ambientalista perde força no Congresso

Enquanto ruralistas crescem em relevância, agenda fica sem defensores de maior expressão
Representantes de movimentos de defesa socioambiental realizam ato na Câmara dos Deputados Foto: José Cruz / Agencia Brasil
Representantes de movimentos de defesa socioambiental realizam ato na Câmara dos Deputados Foto: José Cruz / Agencia Brasil

BRASÍLIA - No papel, 44% dos 513 deputados têm algum interesse no meio ambiente . Pelo menos é o que revela uma olhada rápida no quadro de integrantes da frente parlamentar ambientalista da Câmara. Na vida real, no entanto, a bancada ambientalista , cuja atuação já foi pujante, hoje não conta com quadros que têm a agenda verde como central em seus mandatos. A defesa da Amazônia, o combate às mudanças climáticas e a manutenção de áreas protegidas são defendidos pontualmente, quase sempre por membros da oposição . As últimas brigas ecológicas travadas no Congresso só ganharam relevância quando passaram a ser impulsionadas por movimentos da sociedade civil, especialmente pela classe artística.

Foi o caso da polêmica autorização para a exploração, por mineradoras, da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca) encravada numa área altamente preservada da Amazônia, entre o Pará e o Amapá. O grito das ONGs ambientalistas alertou alguns artistas engajados, dando fermento para a reação até então rouca dos poucos deputados que haviam se insurgido contra a ameaça.

— Salvo o Zequinha Sarney(ministro do Meio Ambiente), que vai voltar em abril e sempre teve uma atuação impecável, praticamente não há mais ambientalistas com capacidade de articulação. Há parlamentares da esquerda com aquela dimensão do protesto e outros, da política tradicional, que apoiam pontualmente, mas essa não é sua prioridade — diz Alfredo Sirkis, ex-deputado e ativista da causa ambiental.

De fato, os verdes sempre estiveram em desvantagem com relação a forças mais robustas, como a dos ruralistas. Ambientalistas pontuam que o último grande embate no Congresso, com alguma paridade, foi nos idos de 2011, quando foi aprovada uma atualização do Código Florestal. No cômputo final, os verdes perderam, mas conseguiram negociar o texto com o governo. Nessa disputa, ganharam a adesão de um significativo contingente de parlamentares em torno de uma lei que, no fim das contas, não restringe a atividade dos proprietários rurais, nem libera a derrubada indiscriminada das matas nativas.

Mas aquele era o início do governo Dilma Rousseff. Embora a petista nunca tenha tido empatia com a agenda ambiental, vinha na esteira do governo Lula, onde o meio ambiente ocupou lugar de prestígio. De lá para cá, o esvaziamento foi paulatino. O Partido Verde (PV), que em 2010 conseguiu 20 milhões de votos na figura de Marina Silva para presidente da República, hoje se confunde com outros partidos de pequeno porte. Deixou de ser verde e hoje é “furta cor”, critica Chico Alencar (PSOL-RJ).

— A força da bancada ambientalista naquela época derivava menos do número, mas de outras forças progressistas mobilizadas em torno do tema. Isso acabou. Hoje o Congresso é só negócio. E o meio ambiente nunca foi um bom negócio — afirma Claudio Angelo, do Observatório do Clima.

Ambientalistas dizem que como coube à oposição encampar essa agenda, o tema compete com

— A gente tem que se desdobrar para tentar impedir retrocessos em todas as áreas: direitos humanos, trabalhistas, previdenciários. Não podemos nos dedicar só ao meio ambiente — diz o presidente da frente parlamentar ambientalista, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).

Por outro lado, o agronegócio, responsável por estimados 23% do PIB, ganha cada vez mais poder no Legislativo e no Executivo.

— Ruralistas ganharam espaço em detrimento do enfraquecimento do Executivo que vem ocorrendo desde o governo Dilma. Os ruralistas são numerosos, e hoje tiram e colocam presidentes — avalia Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace.

Apesar dos percalços, as derrotas na área ambiental não foram tão numerosas quanto poderiam ser. Bombas foram sendo desmontadas ao longo de 2017, como a liberação do plantio da cana na Amazônia, a redução do tamanho da Floresta Nacional de Jamanxim e a própria Renca.