Saúde

Dia Internacional do Idoso: cuidado com a saúde mental é desafio durante a pandemia

Especialistas alertam que, com o isolamento social, muitos idosos têm ficado deprimidos, ansiosos e apresentado um declínio mais rápido do que o esperado das funções cognitivas
Idosos usando máscaras de protação contra o novo coronavírus Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Idosos usando máscaras de protação contra o novo coronavírus Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

RIO — Nesta quinta-feira, 1 o de outubro, é celebrado o Dia Internacional do Idoso, e neste ano um assunto importante a ser debatido na data é a saúde mental. Durante a pandemia da Covid-19 , os idosos, um dos grupos mais vulneráveis à doença, também sofreram grandes impactos psicológicos, principalmente pela redução do contato social devido à necessidade do isolamento domiciliar.

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Esse foi o caso de Maria Teresinha Pinto, assistente social aposentada de 75 anos, que se sentiu muito abalada pelas mudanças na rotina. Ela tinha uma vida social movimentada, mas nos últimos seis meses está totalmente isolada em sua casa, em Niterói, onde mora sozinha, e tem saído apenas para ir ao médico.

— Essa situação me impactou muito, porque sempre fui aquela pessoa acostumada a muitas tarefas. Me deu muito mal estar, estou tendo crises nervosas, angustiada, e qualquer coisa me emociona — conta.

O geriatra Ivan Abdalla, diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro, afirma que durante a pandemia muitos idosos têm ficado deprimidos, ansiosos e apresentado um declínio mais rápido do que o esperado das funções cognitivas, o que ocorre principalmente pela falta de relações sociais e de estímulos.

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Por isso, o médico ressalta a importância da convivência com os familiares, e indica que, apesar da preocupação com o risco do contágio pelo coronavírus, os parentes mais próximos não deixem de visitá-los, tomando todos os cuidados necessários.

— É difícil equilibrar, mas precisamos pontuar com as famílias que existe o risco da Covid-19, mas o risco do isolamento também é muito grande para eles, por isso a rede de apoio é importante — explica Abdalla, que também é médico do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) .

A psicóloga Ana Café, diretora de uma clínica de Psicologia e Psiquiatria no Rio de Janeiro, afirma que mesmo antes do período pandêmico já existia uma grande preocupação em trabalhar a prevenção da saúde mental para a terceira idade, por terem tendência maior a apresentar esses transtornos.

— Temos hoje no Brasil uma realidade nova, com idosos muito ativos, que vêm entrando na aposentadoria, mas que estavam acostumados a ocupar o dia com o trabalho ou os filhos. Muitas vezes eles não sabem como lidar com esse momento mais ocioso — afirma, e ressalta: — É muito importante o idoso ter a avaliação psicológica e psiquiátrica como uma modalidade preventiva.

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Atenção aos sinais

Familiares e outras pessoas que convivem com idosos devem ficar atentos a alguns comportamentos que podem indicar problemas relacionados à saúde mental. Abdalla afirma que se o idoso ficar mais recluso, menos comunicativo ou deixar de fazer atividades de que gostava, esses podem ser sinais de depressão ou dificuldade cognitiva.

— Descompensações clínicas também podem ser um indicativo de que a parte mental está precisando de ajuda, porque o idoso não está tomando o remédio de forma adequada, por exemplo. Além dos sinais mais óbvios: se ele está se sentindo mais triste, ansioso, ou está mais repetitivo e esquecido — enumera o geriatra.

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Ana Café também recomenda atenção a mudanças no apetite, no sono, comportamento mais agressivo ou reclamações constantes sobre a saúde física, sem que os exames indiquem nenhuma alteração.

Como cuidar da saúde mental dos idosos na pandemia:

  • Contato social - Se possível, é ideal que a família faça visitas tomando precauções, como uso de máscara e distanciamento. Outra possibilidade é manter o contato com familiares e amigos por meio das ferramentas on-line, se necessário com ajuda de um parente que more junto do idoso ou do cuidador.
  • Filtrar notícias - É importante se manter informado, mas não assistir a notícias negativas sobre o coronavírus de forma excessiva, para evitar ser acometido pelo medo.
  • Rotina diária - Tentar manter os horários para acordar, dormir, se alimentar e outros hábitos do dia a dia, como tomar banho e se arrumar, mesmo que não tenha os mesmos compromissos que antes.
  • Atividade física - Buscar realizar atividades físicas mesmo que dentro de casa. É possível fazer caminhadas e usar objetos, como pacotes de alimentos, por exemplo, para se exercitar. Muitos canais on-line oferecem atividades.
  • Alimentação saudável - Priorizar uma alimentação equilibrada traz benefícios também para a saúde mental.
  • Cuidado com abuso de álcool - O consumo exagerado de álcool pode trazer consequências para a saúde mental. Deve-se evitar o abuso e não utilizar a bebida alcoólica como forma de se medicar quando não estiver se sentindo bem.
  • Exames de rotina - Durante a pandemia, muitos idosos pararam de fazer exames médicos, o que é perigoso, pois podem surgir outras doenças que impactam a saúde de forma geral. Nesse momento já é possível retomar o acompanhamento médico de rotina.
  • Ajuda médica - No caso do aparecimento de sintomas, é necessário buscar auxílio de um profissional, e não se automedicar.