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As empresas devem voltar a registrar lucro depois de resultados ruins durante a recessão (Foto: ThinkStock)

A expectativa de que a recuperação da economia continue ganhando fôlego traz boas perspectivas para o mercado de ações brasileiro. Afinal, as empresas devem voltar a registrar lucro, depois de uma série de resultados ruins durante a recessão — e isso significa retomar o pagamento de dividendos.

O banco Itaú, por exemplo, estima que o valor nominal dos dividendos de todas as empresas listadas no Ibovespa, o principal índice da B3, será 14% maior este ano em relação a 2017.

— O lucro das empresas tende a subir com a atividade econômica dando sinais de melhora e, especialmente em 2018, o cenário é mais favorável ao crescimento das empresas. As melhores pagadoras de dividendos são justamente as mais maduras, que não precisam reinvestir grande parte de seu lucro. Por isso, podem distribuí-lo — explica Carlos Soares, analista da Magliano Corretora, destacando ainda que, por serem mais consolidadas, tais empresas são menos voláteis.

De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas, toda empresa tem de distribuir pelo menos 25% de seu lucro aos acionistas. Algumas, porém, oferecem bem mais. O pagamento pode ser feito de duas maneiras: por meio de dividendos, que são isentos do Imposto de Renda, ou em juros sobre capital próprio, sujeitos à alíquota de 15%.

Alguns setores são conhecidos como bons pagadores de dividendos, como, por exemplo, energia e telefonia. Como prova disso, a Vivo está entre as dez maiores estimativas de pagamento para este ano, segundo projeções da XP Investimentos. Sandra Peres, analista-chefe da Coinvalores, lembra que os papéis da empresa são menos voláteis.

Expectativa com Petrobrás

Para ser uma boa pagadora de dividendos, é preciso ser uma empresa sólida, que não precisa fazer grandes investimentos e que tem um caixa líquido, sem dívidas. No entanto, pode-se encontrar alguns pontos fora da curva: empresas que em um determinado ano se tornam destaque na previsão de pagamento de dividendos.

Um exemplo é a Eztec, de construção civil. Historicamente, não é uma boa pagadora. Mas, no ano passado, a forte crise no setor deixou a empresa com um significativo estoque de terrenos. Assim, a Eztec se viu com muito dinheiro em caixa e sem necessidade de reinvestir imediatamente.

Uma das formas de identificar as empresas que pagam bons dividendos é o chamado dividend yield, calculado com base no preço do papel e no lucro por ação da companhia. O percentual obtido indica o rendimento em relação à ação.

Para a Eztec, a Economatica estima, este ano, que o dividend yield deve ficar em 17,38%, contra 24,04% em 2017.

— É lógico que ela tem um risco maior, porque é bem mais volátil que Vivo e Grendene, por exemplo. Mas, pontualmente, ela se torna uma opção — diz Sandra.

A Petrobras, a maior empresa do país, não vem distribuindo dividendos desde 2014, em razão da crise financeira gerada pelos casos de corrupção revelados pela Operação Lava-Jato e da mudança de cenário no setor de petróleo. Havia uma expectativa que a estatal registrasse lucro em 2017, o que poderia beneficiar os acionistas. Mas, após o anúncio de que vai pagar US$ 2,9 bilhões para encerrar uma ação aberta por investidores que compraram títulos da companhia em Nova York, parte dos analistas passou a avaliar a hipótese de que a empresa tenha prejuízo. Isso porque a Petrobras informou que o valor vai ser provisionado no balanço do quarto trimestre de 2017.

Assim, como a estatal pode ficar mais de três anos sem distribuir dividendos, alguns advogados acreditam que os acionistas donos de papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) passariam a ter direito a voto. Há, por outro lado, advogados que afirmam que a questão é polêmica, pois a Lei do Petróleo veda esse tipo de direito às PNs.

Mas, apesar das incertezas, o analista da XP Investimentos Marco Saravalle acredita que a Petrobras pode vir a ser uma boa aposta:

— A partir do ano que vem, a empresa poderia voltar a pagar entre R$ 0,60 e R$ 0,70 de dividendo por ação.

Reinvestir é importante

Já a mineradora Vale, afetada pela queda nos preços de matérias-primas no mercado internacional, chegou a alterar sua política de distribuição de dividendos. Mas, no fim do ano passado, o presidente da companhia, Fábio Schvartsman, disse que a Vale entraria na “Era dos Dividendos”. A empresa aprovou em assembleia o pagamento de R$ 5,5 bilhões em dividendos em abril.

— Com certeza, é uma empresa para ficar de olho em 2018. Ela conseguiu distribuir bons dividendos no ano passado — afirma Sandra, da Coinvalores, lembrando que a mineradora ultrapassou sua fase de pico nos investimentos. — A Vale agora investe o necessário para manter sua operação, e isso dá um alívio ao fluxo de caixa. Considerando-se a promessa de cortar a dívida quase à metade este ano, ela se torna novamente uma aposta.

Embolsar dividendos, no entanto, é apenas uma parte da vida do investidor. Myriam Lund, planejadora financeira e professora da FGV, ressalta que é essencial reinvestir a quantia recebida:

— O dividendo não é apenas um dinheiro que você recebe. É uma antecipação de parte dos seus ativos. Por isso, quem quiser manter seu patrimônio precisará manter seu dinheiro aplicado, ou em ações ou em renda fixa. Se não, acaba por diluir seu patrimônio.