• Texto João Mathias | Consultores Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto e Maurício Dominguez Nasser*
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como_plantar_acerola (Foto: Ernesto de Souza/ Editora Globo)

(Foto: Ernesto de Souza/ Editora Globo)

Prova de que tamanho não é documento é a acerola (Malpighia emarginata D.C.). Embora muito menor, a fruta madura possui 36 vezes, respectivamente, mais teor de ácido ascórbico – substância que forma a vitamina C – do que a laranja e a goiaba, ambas possuidoras de alto conteúdo do nutriente.

Farta em propriedades benéficas à saúde humana, a acerola passou a ser desejada por muitos consumidores, tornando-se mais presente nas sacolas de compras que saem do varejo alimentício. A elevada concentração de vitamina C também tem impulsionado a comercialização de frutos verdes para a fabricação de medicamentos.

Com o aumento da demanda, a acerola tornou-se um produto agrícola gerador de lucro para o agricultor brasileiro, em especial para donos de propriedades de menos de 50 hectares e empregadores de mão de obra familiar. Na safra 2013/2014, o preço médio do quilo da fruta in natura negociada na Central de Abastecimento e Armazéns Gerais do Estado e São Paulo (Ceagesp) foi de R$ 4,21, enquanto o equivalente a R$ 0,87 por quilo foi o valor médio da acerola para processamento pago pela indústria ao produtor.

Adaptada às diferentes condições climáticas, a aceroleira, que pode florescer e frutificar várias vezes no ano, conta ainda com a possibilidade de ser cultivada em qualquer lugar do território nacional. Somam-se cerca de 10.000 hectares de área plantada de norte a sul do Brasil, sobretudo no Nordeste, dada as características de solo e clima locais. Somente Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco detêm juntos 60% da produção total.

O Sudeste, segundo maior produtor de acerola, com participação de 15% a 20% nos plantios do país, registra desempenho promissor na evolução da cultura. A produtividade da fruteira por hectare é crescente, passando de 6,5 toneladas no segundo ano de cultivo para 40 toneladas do quinto até o décimo ano.

Desde a implantação comercial nos anos 1990, a cadeia produtiva da acerola no Estado de São Paulo vem se  mostrando rentável. A a cultura foi introduzida na década de 1950 pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, mas somente no início dos anos 1980 foi explorada comercialmente, por conta do crescimento das exportações para países da Europa, Japão e Estados Unidos.

Vale salientar que, como a polinização da aceroleira também depende da ação de insetos, com destaque para as abelhas nativas do gênero Centris spp., é preciso contar com eles nas proximidades do cultivo. No entanto, quando se planta mais de uma variedade de acerola no mesmo pomar, pode ocorrer a polinização cruzada, o que beneficia ainda mais o pegamento dos frutos.

MÃOS À OBRA
>>> Início Adquira de viveiristas idôneos as mudas de qualidade obtidas por estaquia ou por enxertia, que geram um pomar mais uniforme e produtivo. Compre exemplares em substratos comerciais e com aparência saudável, evitando levar junto uma praga de solo. As variedades mais cultivadas em São Paulo são olivier e waldy-CATI, mas existem outras como sertaneja, flor-branca, okinawa e outras selecionadas pela Embrapa e pela Universidade Estadual de Londrina.

>>> Ambiente Planta de clima tropical, a aceroleira também apresenta boa adaptação em regiões onde o clima é subtropical. Prefere temperaturas na faixa de 15 ºC a 32 ºC, com média anual de cerca de 26 ºC. A planta, apesar de ser exigente quanto à insolação, devido à influência que o sol tem na produção de vitamina C, registra bom desenvolvimento em locais onde as chuvas são bem distribuídas ao longo do ano.

>>> Plantio Deve ser realizado, preferencialmente, no início ou durante os meses da estação das chuvas, em solos profundos, areno-argilosos e bem drenados. Exceto no inverno, o plantio pode ser feito em qualquer época do ano, se houver disponibilidade de irrigação no cultivo da fruteira.

>>> Espaçamento Pode variar entre 5 x 5 metros, 6 x 4 metros e 5 x 4 metros, que é o mais utilizado nos plantios em propriedades instaladas no Estado de São Paulo, com 500 árvores por hectare.

>>> Cuidados Em caso de necessidade, deve-se realizar as práticas culturais usuais, como controle de plantas daninhas, adubações de solo, podas de formação e de limpeza e irrigação. Adubos orgânicos contribuem para que os frutos fiquem maiores e a aceroleira mais produtiva. Nematóides, pulgões, formigas cortadeiras, cigarrinhas e mosca- das-frutas são algumas das pragas que atacam a fruteira, enquanto entre as doenças se incluem antracnose, cercosporiose, seca descendente de ramos e podridão de frutos.

>>> Produção Dependendo das condições climáticas locais e da condução do plantio, a partir de oito meses surgem os primeiros frutos da aceroleira. A planta pode registrar anualmente três ou mais safras concentradas, principalmente, na primavera e verão. Após o terceiro ou quarto ano do plantio, as fruteiras adultas chegam a produzir 40 quilos de acerolas por planta ao ano, o que corresponde a uma produtividade média em torno de 16 toneladas por hectare. Colha os frutos a cada dois ou três dias, retirando todos os maduros e os que estão mudando de coloração. Evite deixar as acerolas expostas ao sol depois da colheita.

RAIO X
Solo: profundo, areno-argiloso e bem drenado
Clima: tropical e subtropical
Área mínima: pode ser plantada em vaso para consumo doméstico
Colheita: a partir de 8 meses
Custo: de R$ 3 a R$ 5 é o preço das mudas

*Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto é médica-veterinária e pesquisadora do Polo Regional Centro Oeste, UPD Marília, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, fernandafurlaneto@apta.sp.gov.br; Maurício Dominguez Nasser é engenheiro agrônomo e pesquisador do Polo Regional Alta Paulista, APTA, mdnasser@apta.sp.gov.br