Por Fantástico


Viúva do motorista Anderson Gomes dá exemplo de força e esperança

Viúva do motorista Anderson Gomes dá exemplo de força e esperança

Cerca de uma hora antes de ser baleado e morto, na quarta-feira (14), junto com a vereadora Marielle Franco, de 38 anos, do PSOL, o motorista Anderson Gomes, de 39 anos, falou com a mulher, Ágatha. Disse que chegaria em casa para conversarem e tratarem da consulta do filho Arthur, no dia seguinte, quinta-feira (15). Anderson trabalhava à noite para ter a manhã junto da criança, já que a mulher trabalhava. Em entrevista ao Fantástico, Ágatha conta ainda que ele sonhava trabalhar como mecânico de aviões.

"A gente tinha se falado oito e pouco da noite pelo celular, mandando umas mensagens, conversando sobre a situação do Arthur, porque a gente ia levar ele na consulta no dia seguinte, na quinta-feira. E ele disse: 'daqui a pouco está acabando a reunião aqui e eu vou pra casa', desabafa Ágatha, casada com Anderson há quatro anos.

Segundo ela, o marido fazia tudo pensando no filho Arthur, que nasceu com o intestino e fígado dentro do cordão umbilical. O motorista Anderson Gomes trabalhava com a vereadora Marielle Franco há dois meses.

"Ele rodava a noite para ficar com o Arthur de manhã, que era o período que eu estava no trabalho. Dava comida, fazia tudo. Ele era louco pelo Arthur. Acho que tudo que ele queria na vida era ter o filho dele. Ele fazia sem reclamar. Tudo, tudo para o filho", emociona-se.

Após as complicações em sua gestação, o menino Arthur ainda passou por uma cirurgia quando tinha apenas dois dias de vida. Após o procedimento cirúrgico passou 28 dias internado em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Segundo Ágatha, a cada médico ela era acompanhado por Anderson.

"A gente junto nos percalços pra ter o Arthur. Foi uma luta. Acho que ele faz com que eu tenha pelo que viver, pelo que lutar. E por saber que o pai dele também o amava muito. É uma forma também de estar com um pedaço do Anderson, não deixa de ser. É uma parte dele que eu estou cuidando também", desabafa.

Ágatha se recorda que Anderson estava sempre alegre e era uma pessoa "muito calma".

"A gente discutindo e ele sempre calmo. Saía para ajudar os amigos, a família. Ele era esse homem querido por todo mundo e muito bom", conta.

Ágatha recorda que ela e Anderson se conheceram numa festa. Um ano depois, veio o pedido de casamento em um restaurante.

"Numa festa a gente se conheceu. Depois de um tempo ele me ligou, disse que tinha sido por engano já que meu nome é com 'a', primeira da lista. Ficou puxando assunto comigo. Nós moramos perto, no mesmo bairro. Ele foi lá em casa, a gente ficou conversando e começou a sair. Mais ou menos um ano depois ele me pediu em casamento, num restaurante", recorda.

'Anderson merece não ser esquecido', diz Ágatha

Ágatha conta que na noite da morte do marido foi acordada pela irmã que pedia para ela abrir a porta. Em um primeiro momento, diz ter pensado que a irmã estava com Anderson. Mas logo percebeu que algo havia acontecido.

"Eu fui acordada pela minha irmã pedindo só para eu abrir a porta. Eu achei que ela estava com ele, que tivesse acontecido alguma coisa e que ela fosse lá para casa. Ela foi com minha madrinha e minha cunhada e já me falaram: 'fica calma, o Anderson morreu'. Já me seguraram e ali eu vi que eu ia ficar sem chão por um bom tempo. Eu acho que o Anderson merece não ser esquecido e se ele, de alguma forma, puder fazer diferença. E se a morte dele mudar qualquer coisa que seja, vai ter um siginificado, uma importância", refletiu.

Ághata recorda as palavras da vereadora Marielle ao falar do marido:

"Não tem como desistir. É luta sempre. A Marielle já dizia e todas as pessoas que estão engajadas ainda lutando pela população, lutando pelas suas causas. Isso é esperança. Esperança de que as coisas vão melhorar sim, tem um caminho, tem uma solução. Não é possível que a gente vá ficar abandonado pra sempre", desabafa.

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