Edição do dia 04/02/2018

04/02/2018 09h47 - Atualizado em 04/02/2018 10h59

História da música caipira vira enredo de escola de samba de São Paulo

Com 2800 integrantes, a Dragões da Real vai retratar as origens e evolução desse estilo musical. E mostrar qual a relação entre a música caipira e o dia-a-dia do povo do campo.

Cristina VieiraSão Paulo, SP

 

Você que acompanha nosso programa sabe que as reportagens do Globo Rural são sempre feitas no campo, certo? Só que hoje, vamos dar uma pulinho na avenida. É que a história da música caipira virou enredo de uma escola de samba de São Paulo - como mostra a cristina vieira.

Tem caipira pronto para entrar na avenida! É no Anhembi, na passarela do samba, que a história da música caipira vai ganhar vida. A poucos dias da apresentação, é hora de deixar tudo afinado pro desfile.

Fomos conferir o último ensaio técnico da escola Dragões da Real, de São Paulo, que vai para a avenida com 2800 integrantes. Mesmo sem carros e fantasias, é a chance de acertar o tempo do desfile, as alas capricharem na coreografia... e todo mundo cantar o samba enredo.

E tem gente da cidade grande no clima da roça.A música de raiz, nascida no interiorzão do Brasil, que foi se transformando e ganhando grandes palcos com os cantores sertanejos é o tema enredo da escola. No barracão, os carros alegóricos, os últimos retoques nas fantasias e adereços... Tudo inspirado na vida do homem do campo.

 

É da relação dele com a terra, do acordar cedo despertado pelo galo, da revoada de um pássaro, do zumbido de uma abelha. Então musicalidade de um caipira é diária”, diz Márcio Santana, diretor de carnaval da escola.

“Não existe nada mais caipira do que um café no bule. Algo tão típico, tem raízes que a gente não poderia deixar de fora. E a nossa escolha estética de representar os seus frutos ainda na cor vermelha, que é uma cor que muitas vezes é desconhecida, já que a gente recebe o café torrado e moído”, completa ele.

Uma das alas vai representar na avenida a plantação de trigo. E a fantasia é quase toda feita de elementos naturais, cesto de palha, ramos de trigo seco, capim barba de bode, tingido de amarelo, e palha das folhas de carnaúba...

A lavoura de algodão vem na ala das baianas. “Nosso algodão não é algodão, é um algodão fictício, nós trabalhamos com bolas de isopor e uma infinidade de babados de tule franzido, para que quando as pessoas vejam na avenida consigam ter a sensação do fofinho do algodão. É um tapete de algodão que vai passar pelo Anhembi e encantar a todos”, diz Dione Leite.

Dione é um dos três carnavalescos da escola. Ele deu mais uma pista do que vai ter no desfile. “É a flor da laranjeira. São bolas de isopor forradas e pintadas para dar ideia de laranja...  Quem assistir lá na avenida vai enxergar o bailado da porta-bandeira em meio aos pastos com o pé de laranjeira”, diz ele.

Para desenvolver o enredo, uma equipe da escola visitou fazendas de São Paulo e Goiás. E teve até uma ajudinha nossa. “Muito da pesquisa que a gente foi buscar, até pelo fato de sermos pessoas mais ligados ao ambiente urbano do que rural, se dá pela influência que a gente recebe em nossas casas do Globo Rural. É uma mídia que nos traz a ideia de campo que muitas vezes a gente não tem”, diz Márcio.

E não faltaram pesquisas históricas, como a obra do paulista Cornélio Pires. Poeta, artista, advogado e professor, foi ele quem conseguiu a gravação do primeiro disco de música de raiz. Isso em 1929.

Todo mundo tem um pouquinho de caipira dentro de si, um pezinho no interior, e quem não é começou a ter a partir da música sertaneja. Para muitos integrantes, levar um pouquinho da roça para a avenida é reviver as próprias memórias.

 

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