Você que acompanha nosso programa sabe que as reportagens do Globo Rural são sempre feitas no campo, certo? Só que hoje, vamos dar uma pulinho na avenida. É que a história da música caipira virou enredo de uma escola de samba de São Paulo - como mostra a cristina vieira.
Tem caipira pronto para entrar na avenida! É no Anhembi, na passarela do samba, que a história da música caipira vai ganhar vida. A poucos dias da apresentação, é hora de deixar tudo afinado pro desfile.
Fomos conferir o último ensaio técnico da escola Dragões da Real, de São Paulo, que vai para a avenida com 2800 integrantes. Mesmo sem carros e fantasias, é a chance de acertar o tempo do desfile, as alas capricharem na coreografia... e todo mundo cantar o samba enredo.
E tem gente da cidade grande no clima da roça.A música de raiz, nascida no interiorzão do Brasil, que foi se transformando e ganhando grandes palcos com os cantores sertanejos é o tema enredo da escola. No barracão, os carros alegóricos, os últimos retoques nas fantasias e adereços... Tudo inspirado na vida do homem do campo.
É da relação dele com a terra, do acordar cedo despertado pelo galo, da revoada de um pássaro, do zumbido de uma abelha. Então musicalidade de um caipira é diária”, diz Márcio Santana, diretor de carnaval da escola.
“Não existe nada mais caipira do que um café no bule. Algo tão típico, tem raízes que a gente não poderia deixar de fora. E a nossa escolha estética de representar os seus frutos ainda na cor vermelha, que é uma cor que muitas vezes é desconhecida, já que a gente recebe o café torrado e moído”, completa ele.
Uma das alas vai representar na avenida a plantação de trigo. E a fantasia é quase toda feita de elementos naturais, cesto de palha, ramos de trigo seco, capim barba de bode, tingido de amarelo, e palha das folhas de carnaúba...
A lavoura de algodão vem na ala das baianas. “Nosso algodão não é algodão, é um algodão fictício, nós trabalhamos com bolas de isopor e uma infinidade de babados de tule franzido, para que quando as pessoas vejam na avenida consigam ter a sensação do fofinho do algodão. É um tapete de algodão que vai passar pelo Anhembi e encantar a todos”, diz Dione Leite.
Dione é um dos três carnavalescos da escola. Ele deu mais uma pista do que vai ter no desfile. “É a flor da laranjeira. São bolas de isopor forradas e pintadas para dar ideia de laranja... Quem assistir lá na avenida vai enxergar o bailado da porta-bandeira em meio aos pastos com o pé de laranjeira”, diz ele.
Para desenvolver o enredo, uma equipe da escola visitou fazendas de São Paulo e Goiás. E teve até uma ajudinha nossa. “Muito da pesquisa que a gente foi buscar, até pelo fato de sermos pessoas mais ligados ao ambiente urbano do que rural, se dá pela influência que a gente recebe em nossas casas do Globo Rural. É uma mídia que nos traz a ideia de campo que muitas vezes a gente não tem”, diz Márcio.
E não faltaram pesquisas históricas, como a obra do paulista Cornélio Pires. Poeta, artista, advogado e professor, foi ele quem conseguiu a gravação do primeiro disco de música de raiz. Isso em 1929.
Todo mundo tem um pouquinho de caipira dentro de si, um pezinho no interior, e quem não é começou a ter a partir da música sertaneja. Para muitos integrantes, levar um pouquinho da roça para a avenida é reviver as próprias memórias.