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Dilma enfrenta "rebelião" de deputados da base aliada. Entenda

Dilma enfrenta "rebelião" de deputados da base aliada. Entenda

REDAÇÃO ÉPOCA, COM ESTADÃO CONTEÚDO
12/03/2014 - 19h05 - Atualizado 15/07/2014 21h18
Reunião da Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados aprovou requerimentos para convocar ministros do governo a prestar esclarecimentos ao Congresso (Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados)

Nas últimas 24 horas, o governo da presidente Dilma Rousseff sofreu duas grandes derrotas no Congresso. Primeiro, deputados criaram uma comissão para investigar a Petrobras. Depois, em uma série de votações nas comissões da Câmara, os parlamentares forçaram a convocação de vários ministros do governo para "prestar esclarecimentos". Nenhuma dessas derrotas foi causada pela oposição. Pelo contrário. O grupo responsável é formado por partidos que apoiavam Dilma e que, nas últimas semanas, se "rebelaram".

O grupo está sendo chamado de "blocão". Ele foi formado no final de fevereiro, com mais de 250 deputados de oito partidos - sete da base aliada do governo (PMDB, PSC, PP, PROS, PDT, PTB, PR) e um oposicionista, o Solidariedade. O blocão diz que o grupo não tem líder, mas a liderança que o PMDB exerce é clara, o que transformou deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, como principal porta-voz do grupo.

As insatisfações do blocão com o governo Dilma são muitas. Eles acusam o governo de quebrar acordos para liberação de emendas parlamentares no ano passado, dizem que o Planalto tranca a pauta da Câmara apresentando projetos de urgência constitucional – o que impede que as propostas dos próprios deputados sejam votadas, e se dizem excluídos das decisões do governo, que segundo eles são totalmente controladas pelo PT.

>> Eduardo Cunha: "O PMDB não quer mais cargos"

Em entrevista a ÉPOCA na semana passada, antes de o blocão começar a impor derrotas ao governo, Cunha explicou os objetivos do grupo. Segundo ele, o blocão é "uma aliança informal entre partidos cansados de ser negligenciados pela articulação política do governo". Ele diz que a luta dos deputados do PMDB não é por mais cargos, mas sim para fazer frente a um "projeto de hegemonia" do PT.

O pano de fundo para a insatisfação do PMDB é, evidentemente, as eleições de outubro. O partido estima que a bancada do PT crescerá muito na próxima eleição, e que esse crescimento ocorrerá em detrimento à bancada do próprio PMDB. Com a mudança nas bancadas do partido, muda também o tempo de propaganda na TV, o que tornará a campanha municipal de 2016 muito mais difícil para os peemedebistas. "Se o PT aumentar a bancada, muita gente da base aliada percebeu que não voltará a Brasília no próximo ano. Se o partido tiver menos tempo de TV, nossos prefeitos correrão o mesmo risco em 2016. Bateu o desespero em todo mundo", disse Cunha, em entrevista a ÉPOCA.

>> O Congresso samba no ritmo do Blocão

A estratégia adotada para pressionar o governo foi a do constrangimento. Na terça-feira, o blocão conseguiu aprovar a criação de uma comissão para investigar a Petrobras. Para analistas, o papel da comissão para realmente investigar denúncias de propina é irrelevante. Ela foi criada apenas para constranger Dilma.

Nesta quarta, a operação para constranger o governo foi ampliada. Em quatro comissões diferentes da Câmara, os deputados aprovaram a convocação de ministros de Dilma e o convite a secretários do governo para dar explicações sobre uma infinidade de assuntos. Novamente, o interesse do blocão náo é saber o que os ministros têm a explicar, e sim colocar o governo na parede.

Quatro ministros foram convocados:

Gilberto Carvalho, da Secretaria-geral da Presidência da República
Aguinaldo Ribeiro, do Ministério das Cidades
Manoel Dias, do Ministério do Trabalho
e Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União

Um quinto ministro, Edison Lobão, de Minas e Energia, quase foi convocado, mas como ele pertence ao PMDB, acabou sendo poupado. No seu lugar, o secretário-executivo do ministério, Márcio Zimermmann, foi convidado a prestar esclarecimentos sobre os recentes apagões. Além dele, outros cinco dirigentes do alto escalão do governo, entre eles a presidente da Petrobras, Maria da Graça Foster, foram convidados a prestar esclarecimentos.

Por enquanto, Dilma vem mostrando dificuldade em lidar com a rebelião na base aliada. A principal ação do governo foi tentar isolar Eduardo Cunha. Dilma pediu para que o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, converssasse com líderes dos demais partidos da base aliada para tentar desarticular o PMDB, mas não teve sucesso. A briga entre Cunha e o presidente do PT, Rui Falcão, piorou a situação.

A aliança entre PT e PMDB ficou ainda mais estremecida na terça-feira (11), quando a bancada do PMDB anunciou que atuará "de forma independente" e divulgou nota pedindo para a direção do partido "reavaliar a qualidade da aliança com o PT", o que poderia, hipoteticamente, levar ao fim da aliança. No entanto, nem todos os peemedebistas querem o fim da parceria. O vice-presidente Michel Temer é um dos principais defensores da coligação com os petistas. Para Cunha, o casamento entre PT e PMDB só não acabou ainda pela atuação de Temer.

bc








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