Por Marília Neves


A atriz Laura Cardoso (dir.) durante velório do diretor de teatro Antunes Filho no Sesc Consolação, em São Paulo — Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Laura Cardoso, Irene Ravache, Juca de Oliveira são alguns dos atores que foram prestar a última homenagem ao diretor Antunes Filho, no Teatro Sesc Anchieta. O local, que fez parte de sua vida, foi escolhido para o velório nesta sexta-feira (3).

Aplausos no velório do diretor de teatro Antunes Filho

Aplausos no velório do diretor de teatro Antunes Filho

Depois de uma oração e quase quatro minutos de salva de palmas, as pessoas que já trabalharam com Antunes foram convidadas a subir ao palco e iniciaram discursos com frases e momentos importantes ao lado do diretor. "A morte é a cena final" foi lembrada por uma das convidadas, que encontrou Antunes há quatro dias e disse que esta foi a frase dita por ele no encontro.

O corpo foi levado para o crematório da Vila Alpina, Zona Leste de São Paulo, onde foi cremado na tarde desta sexta (3).

Salva de palmas homenageia o diretor de teatro José Alves Antunes Filho durante seu velório no teatro Sesc Anchieta, em São Paulo — Foto: Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Veja o que os amigos falaram de Antunes:

Laura Cardoso, atriz

"Era o maior e o melhor. O que sabia tudo sobre teatro. Deixa o amor pelo teatro, pela cultura, o profissionalismo, a honestidade com a sua profissão. Eu estou muito triste."

O ator Juca de Oliveira durante velório do diretor de teatro Antunes Filho, no Teatro Sesc Anchieta, em São Paulo — Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Juca de Oliveira, ator

"Ele conseguiu estabelecer um nível excepcional do ponto de vista de encenação, e, sobretudo, do ponto de vista de interpretação. Era apaixonado pelo teatro e conseguia transmitir essa paixão aos atores. Foi excepcional, trabalhei bastante com ele.

Ele deixa um saldo excepcional na cultura brasileira, tendo elevado muito nosso teatro, sobretudo do ponto de vista da modernidade do teatro. Tudo que havia de novo, ele trazia pra cá. Era uma personalidade contagiante, um amigo."

É uma perda terrível, eu perco um dos meus melhores amigos, se não meu melhor amigo, o meu grande diretor.

Giulia Gam, atriz


"É difícil falar alguma coisa... Difícil sair desse teatro sabendo que ele não vai estar mais aí. O que eu posso dizer do Antunes? Eu posso dizer o que eu ouvi das pessoas que ficaram realmente encantadas com a Julieta e eu falo 'Nossa, eu fui essa Julieta, eu causei essa comoção em todo mundo', porque eu era muito jovem, muito espontânea, acho que foi isso que chamou atenção.

Ele fez um monte de teste, porque era difícil conseguir uma atriz que fosse nova, mas ao mesmo tempo não tivesse vício para ele moldar mesmo. Ele me fez, entrei em 1982 no final do ano, sai em 1985.

"Ele está no meu DNA, nas minhas células em tudo que é meu"

Irene Ravache, atriz

"Nós perdemos hoje o nosso grande diretor. Por que eu coloco grande diretor? Nós temos excelentes diretores. Devido a trajetória longeva, vasta e a influência que ele teve sobre os outros. Ele era aquilo que nós chamamos de um "homem de teatro".

Teve um colega que falou: "Você está se sentindo órfão?". Eu acho que todos nós do teatro. Não só atores, mas todo trabalhador de teatro. Ele está sendo velado aqui na casa dele. Por que a casa dele? Aqui no Sesc, no Teatro Anchieta que ele pôde desenvolver esse trabalho inestimável para o teatro brasileiro. É um nome que a antiga geração conhecia muito bem e a nova geração sempre vai aprender com ele. Sempre."

Cacá Carvalho, ator

"Antunes é raro, porque é um mestre. Mestres nós temos poucos, mestre que transmite o conhecimento, mestre com a sua generosidade e o seu rigor que transmite tudo que sabe ou intui e consegue enxergar em um artista futuro o que está atrás daquela pessoa. Isso não tem preço. Me sinto um privilegiado por ter encontrado e um órfão porque perdi um parceiro, um amigo, um irmão, uma pessoa das mais cruéis que já conheci e das mais generosas.

Meu último momento com ele foi uma ligação. Ele me ligou pro meu aniversário, dias antes, mas sempre ligava no dia e me disse "não desista". Eu disse "Como assim?", ele continuou "É importante, nós precisamos resistir a isso tudo que está aí, porque ainda virá pior. Nós precisamos de pessoas com força. Eu falei "É, Zé. Tô te devendo teu livro, acabei de ler". É muito forte agora essa última conversa. Ganha um sabor, um valor como se ele soubesse que estava se despedindo de mim, só que eu não sabia. Eu espero que nós saibamos levar avante esse legado, porque é valioso, rico e não tem no mundo".

Pascoal da Conceição, ator

"O Antunes é um homem da cultura, da necessidade da cultura. Mário de Andrade falava que a cultura é mais importante que o pão. É verdade. É a cultura que norteia o nosso pensamento profundo e todas as coisas.

Eu vivenciando aqui o Sesc, o Antunes Filho, inúmeras vezes, inúmeros espetáculos é como se fosse uma reciclagem, um 'azeitamento' do meu pensamento do que é ser um ser humano. Pessoas que trabalham nesse lugar são necessárias. Quando elas vão embora a gente fica muito triste."

Marcelo Tas, ator e apresentador

"Eu tive o privilégio de ser parte da primeira turma do Centro de Pesquisa Teatral (CPT). O Antunes é uma formador, um mestre. Alguém fundamental hoje no Brasil, alguém que nos ilumine os livros que a gente deve ler, os filmes. Ele foi, assim como pra mim, o mestre de centenas, dezenas de atores muito conhecidos, centenas de outros que talvez as pessoas não conheçam, mas estão atuando, dirigindo, escrevendo no teatro. Um mestre, um professor, um formador que eu tive a alegria de ser pupilo."

José Possi Neto, diretor

"Nunca cheguei a trabalhar com ele, mas acompanhei sempre o trabalho dele. Foi sempre um mestre, uma grande inspiração e, principalmente, um homem de uma consciência incrível sobre o teatro e sobre o Brasil. Neste momento, a gente fica mais pobre."

Emerson Danesi, diretor

"Ele era um homem completamente apaixonado, uma vida inteira dedicada ao teatro. E até os últimos momentos aqui, no hospital, era isso. Algumas pessoas do grupo vieram pra cá [hospital], e ele ainda [continuava] puxando trabalhos de voz, puxando trabalho de corpo. Um homem que dedicou a existência ao teatro".

Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc SP.

"É uma perda devastadora para o teatro brasileiro e para a cultura de um modo geral. Antunes Filho significa potência, era uma figura ímpar. Ele deixa um legado, uma formação de novos atores, atrizes, diretores... Desejamos que o teatro permaneça podendo realizar sua missão mais importante, que é trazer reflexão, debate, encantamento e discussão de grandes temas."

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