WASHINGTON — A
demissão de Rex Tillerson
do posto de secretário de Estado não foi surpresa: o plano da troca de chanceler havia sido antecipado no fim do ano pelos jornais americanos, e ele estava na geladeira há tempos. Mas indica que o governo de Donald Trump, mais uma vez, abre mão de vozes relativamente moderadas.
Tillerson, ex-todo poderoso da Exxon e apelidado pelos ambientalistas de “T-Rex”, era mais um bilionário vindo do setor empresarial a entrar no governo. Mas, aos poucos, ele mostrou ser mais moderado do que se imaginava, talvez moldado pelo peso da opinião pública em um empresa gigante e com a diplomacia de alguém acostumado a negociar com ditadores da área de petróleo. Com algumas escorregadias, claro, como quando, no começo do ano, chancelou a possibilidade de um golpe militar para resolver a crise venezuelana. Mas ele tinha visão estratégica, pensava em acordos de longo prazo e em criar confianças com parceiros, pontos que não fazem sucesso na Casa Branca atualmente.
A moderação de Tillerson não surtiu muito efeito. Ele nunca conquistou o apoio da diplomacia americana, que foi sucateada como nunca no governo Trump, com cortes de orçamento, debandada de profissionais e diversos cargos importantes vagos. Até mesmo a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley — que fora escolhida por Trump antes do chanceler — tinha mais voz com o presidente. Tillerson divergiu publicamente de Trump, a quem teria chamado de “idiota”, segundo fontes sigilosas da imprensa. A suposta ofensa fez Trump, em um tuíte, desafiá-lo a fazer um teste de QI para ver quem era o mais esperto.
Quando o presidente anunciou que os Estados Unidos estavam saindo do acordo de Paris sobre mudanças climáticas, ele minimizou a decisão do chefe, dizendo que os Estados Unidos continuariam sua agenda de redução de emissão de gases do efeito estufa. Foi alijado do processo de reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e viu Trump assumir o enfrentamento com a Coreia do Norte.
O substituto de Tillerson, Mike Pompeo, também é considerado alguém com relativa experiência executiva e sério. Suas opiniões, como as de quase todo o planeta, são consideradas mais comedidas do que as de Trump, mas bem mais duras do que as de Tillerson. Pompeu, por exemplo, é a favor da saída americana do acordo nuclear com o Irã, firmado em 2015 por Barack Obama. Tillerson era contra.
Resta saber se ele poderá atuar ou se será outro nome desrespeitado por Trump, que viu nas relações externas o palco perfeito para exibir o nativismo populista que encanta sua base, ainda enamorada do presidente e do seu discurso "Estados Unidos primeiro".
O conselheiro de Segurança Nacional se demitiu do cargo após ser acusado de ter feito contatos com a Rússia antes da posse de Trump para discutir o levantamento de sanções de Washington a Moscou. Pela lei americana, ele não poderia ter tratado de assuntos diplomáticos antes de assumir o cargo.
Andrew Puzder
Indicado para o Departamento do Trabalho, desistiu da nomeação. No passado, ele contratara serviços domésticos de uma estrangeira em situação ilegal no país. O fato custou o apoio de parcela significativa dos senadores republicanos, enquanto os democratas o criticavam desde sua indicação.
Chris Christie
Nem chegou até a posse. Trump o afastou do cargo de chefe da equipe de transição pouco após ter sido eleito. Segundo informações da imprensa, a saída dele teria sido motivada por influência de Jared Kushner, genro e assessor do presidente, e cujo pai fora condenado por crimes financeiros em Nova Jersey quando Christie era procurador-geral do estado.
Mike Dubke
O diretor de Comunicação se demitiu da Casa Branca após três meses no cargo. O motivo não é conhecido, mas há relatos de que ele e a equipe de Trump não se alinharam. Dubke trabalhava estreitamente com o porta-voz Sean Spicer, mas não ficava nos bastidores.
Sean Spicer
O porta-voz do governo renunciou ao cargo logo após a escolha de Anthony Scaramucci para diretor de Comunicação da Casa Branca. Os motivos da demissão não foram esclarecidos, mas fontes disseram que ele dicordou veementemente da indicação de Trump. Foi substituído por Sarah Sanders, até então vice-porta-voz.
O chefe de Gabinete renunciou após ser alvo de duras acusações, dias antes, pelo novo diretor de comunicações da Casa Branca. Anthony Scaramucci afirmou que Priebus, ex-chefe do Comitê Nacional Republicano, seria o "vazador de informações" do governo, provocando uma tensão irreparável dentro do centro do poder.
Anthony Scaramucci
Apenas 11 dias após assumir, o chefe de comunicações da Casa Branca Anthony Scaramucci deixou o cargo. O afastamento aconteceu no mesmo dia da nomeação de John Kelly como chefe de Gabinete do governo. Segundo fontes, a saída foi um pedido de Kelly. Foi a escolha de Scaramucci que havia levado Spicer a renunciar.
Steve Bannon
Considerado uma "eminência parda" da agenda mais nacionalista de Trump, o ex-chefe do site alt-right "Breitbart" foi estrategista-chefe da Casa Branca. No cargo, imprimiu sua marca em políticas anti-imigratórias e pró-nacionalistas de Trump. Mas perdendo espaço para assessores mais moderados e acabou demitido no meio de agosto.
Hope Hicks
A diretora de comunicação da Casa Branca anunciou sua renúncia ao cargo em fevereiro de 2018, com somente 29 anos. Uma das pessoas com melhor interlocução com o presidente na Casa Branca, estaria cansada de Washington, segundo fontes. De acordo com o "New York Times", Hicks já vinha considerando deixar o cargo há meses.
Rex Tillerson
O secretário de Estado foi demitido após meses de discordâncias com Trump e num momento crítico para a diplomacia americana, em que o governo se preparava para uma reunião com o líder norte-coreano Kim Jong-un. Foi subsituído por Mike Pompeo, até então diretor da CIA.
Criticado pela base nacionalista de Trump por defender o livre mercado internacional, o diretor do Conselho Nacional de Economia dos EUA (e principal assessor econômico) renunciou em março por ser contrário à sobretaxa do aço a vários países — gota d'água de uma já turbulenta relação. Ele defendia relações econômicas amigáveis.
H.R. McMaster
O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA demitiu-se do governo de Donald Trump em março, após meses de atritos pela indisciplina do presidente em política externa. O general se irritava com o unilateralismo de Trump e havia dito expressamente que ele não deveria congratular Vladimir Putin pela reeleição na Rússia. Foi ignorado.
Tom Bossert
Exerceu o cargo de assessor de Segurança Interna no governo. Sua demissão teria sido um pedido de John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional que entrou no lugar de H.R. McMastar.