RIO — O número de alunos no Brasil, da educação infantil ao ensino médio, voltou a cair pelo terceiro ano consecutivo. São quase um milhão de estudantes a menos na comparação de 2016 com 2019 — uma queda de 2%.
Os dados são do Censo Escolar 2019, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira ( Inep ), divulgados nesta sexta-feira. O órgão é o mesmo que organiza o Enem.
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De acordo com o levantamento oficial, o país está com 47,8 milhões de estudantes, sendo 38,7 milhões na rede pública e 9,1 na privada.
A queda de alunos está nas estapas de ensino fundamental e médio. A primeira perdeu 767 mil alunos em quatro anos e passou de 27,6 milhões, em 2016, para 29,9 milhões em 2019. A segunda, 667 mil nesse mesmo período — de 8,1 milhões para 7,4 milhões.
— Essa é uma questão demográfica. O Inep nos apresentou um gráfico em que há três milhões de brasileiros com 18 anos e dois milhões e recém nascidos. Isso mostra que há cada vez menos alunos no país — conta Eduardo Deschamps, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) que já presidiu o órgão.
Crescimento da educação infantil
De acordo com projeção do IBGE, 3,8% da população do país tem, em 2020, entre 15 e 19 anos. Enquanto isso, 3,56% tem entre 0 e 4.
— Isso pode ser positivo para melhorar a qualidade da educação no Brasil. Se mantiversos o valor gasto, teremos um investimento por aluno maior — afirma Deschamps.
Já a ex-diretora de Educação do Banco Mundial Claudia Costin afirma que a queda de alunos no ensino médio pode ser explicada pela variação demográfica em apenas parte dos estados.
— Ainda não deu tempo para esse fenômeno chegar a todo o país — diz Costin. — É preciso mais análise do Censo para saber se isso não se refere à diminuição da repetência ou ao abandono de alunos.
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Por outro lado, o país conseguiu aumentar o número de matrículas na educação infantil. São 693 mil crianças a mais em salas de aula em quatro anos. Crescimento de 8,2 milhões em 2016 para 8,9 milhões em 2019.
— Esse é um aumento a ser comemorado. A criança que faz pré-escola chega mais preparada ao ensino fundamental — afirma Costin.
No entanto, a especialista afirma que é preciso entender melhor os dados sobre a creche.
— Existe ainda uma grande desigualdade de acesso, comparando mais ricos com os mais pobres. Além disso, é preciso atenção quanto à qualidade. Nessa etapa, entre uma creche ruim e não ter creche, é melhor creche nenhuma — avalia.
Ritmo lento
Presidente da Câmara de Educação Básica do CNE, Ivan Claudio Pereira Siqueira, professor da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o crescimento do número de estudantes da creche é lento.
— Estamos com uma cobertura de 34,2%. Era para termos 5,5 milhões de criancças na creche para cumprir o Plano Nacional de Educação e ter 50% dos alunos matriculados nessa etapa — afirma. E a gente sabe quem não tem acesso. São os mais pobres. O ciclo da pobreza está garantido para eles.
O número de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) caiu 7,7%, chegando a 3,2 milhões no ano passado. Em 2019, a modalidade teve o menor investimento da década.
Já a quantidade de professores em sala de aula cresceu na comparação de 2016 com 2019: passou de 2,19 milhões para 2,21 milhões. Em 2018, era um pouco maior, 2,22 milhões.
O país tem melhorado, progressivamente, a formação do professor em sala de aula. Em 2015, 71,9% tinham formação universitária em alguma licenciatura. No ano passado, esse dado passou para 80,1%.