Brasil Educação

Retrato da desigualdade: brancos têm dois anos a mais de estudo, revela IBGE

Pesquisa Pnad Contínua sobre educação aponta diferenças também entre regiões Nordeste e Sudeste
Estudantes do sudeste passam 9,9 anos na escola, enquanto a média no nordeste é de 7,7; revela IBGE Foto: Shutterstock
Estudantes do sudeste passam 9,9 anos na escola, enquanto a média no nordeste é de 7,7; revela IBGE Foto: Shutterstock

RIO - Estudantes do Sudeste passam 9,9 anos na escola, enquanto a média no Nordeste é de 7,7 anos. Os brancos estudam em média 10,1 anos, enquanto pretos e pardos têm 8,2 anos de estudo. E mulheres estudam o equivalente a meio ano a mais do que homens. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), cujo recorte educacional foi divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE.

Para especialistas, os números, referentes ao segundo trimestre de 2017, fornecem um retrato das desigualdades de etnia, gênero e região que precisa ser combatido com maior empenho por parte do poder público.

Leia mais: Brasil ainda tem 11,8 milhões de analfabetos, segundo IBGE

Brasil tem quase 25 milhões de jovens de 14 a 29 anos fora da escola

No caso das desigualdades educacionais no que diz respeito à cor da pele, Frei David Santos, diretor executivo da ONG Educafro, diz que o cenário tem piorado devido à crise econômica enfrentada pelo país.

Números do ensino
Por cor/raça
7%
Em %
4
é a taxa de analfabetismo
no Brasil das pessoas de
15 anos ou mais em 2017
Brancos
9,3
Pretos ou pardos
Em anos
9,1 anos
Brancos
10,1
é o número médio de anos
Pretos ou pardos
8,2
de estudo no Brasil em 2017
Motivo de não frequência
Pessoas de 15 a 29 anos que não frequentam escola ou alguma qualificação nem haviam concluído o ensino superior
Trabalha, está procurando trabalho ou conseguiu trabalho que vai começar em breve
28,9%
49,4%
Homens
Mulheres
Por ter que cuidar
dos afazeres domésticos ou de criança, adolescente, idoso ou pessoa com necessidades especiais
0,7%
24,2%
Outros
Outros
Fonte: Pnad Contínua
Números do ensino
7%
é a taxa de analfabetismo
no Brasil das pessoas de
15 anos ou mais em 2017
Por cor/raça
Em %
4
Brancos
9,3
Pretos ou pardos
9,1 anos
é o número médio de anos
de estudo no Brasil em 2017
Por cor/raça
Em anos
Brancos
10,1
Pretos ou pardos
8,2
Motivo de não frequência
Pessoas de 15 a 29 anos que não frequentam escola ou alguma qualificação nem haviam concluído o ensino superior
Trabalha, está procurando trabalho ou conseguiu trabalho que vai começar em breve
Por ter que cuidar
dos afazeres domésticos ou de criança, adolescente, idoso ou pessoa com necessidades especiais
49,4%
Homens
0,7%
Outros
28,9%
Mulheres
24,2%
Outros
Fonte: Pnad Contínua

— Com a crise, tem aumentado o número de negros que estão abandonando mais cedo os estudos. Também temos observado que está crescendo a quantidade de crianças negras que não entram na escola, porque não há vagas em creche. No caso do ensino superior, o governo não está garantindo bolsas para alunos cotistas, contribuindo para o abandono de jovens negros das vagas da universidade — afirma Santos. — O processo é um círculo vicioso e gera estragos em todas as dimensões. Percebemos pouco empenho do governo em enfrentar a fonte do problema.

O instituto aponta as razões apresentadas pelos entrevistados para não frequentar mais a escola. Entre os homens, o principal motivo é a busca de emprego para sustentar a casa. Já entre as mulheres, além da busca pelo sustento, um quarto das entrevistadas afirmou não completar os estudos por precisar cuidar da casa, ou de uma criança, ou de outra pessoa que precise de cuidados especiais. O relatório da pesquisa não apresenta essa diferenciação de motivos segmentando por cor ou por região.

Analfabetismo cai, mas não no ritmo necessário

No comparativo com o levantamento referente ao segundo trimestre de 2016, a taxa de analfabetismo nacional entre pessoas de 15 anos ou mais caiu 0,2%, chegando a 7%. O ritmo, no entanto, não é o suficiente para atender as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que objetivava chegar a 6,5% em 2015. Caso essa velocidade de redução se mantenha, a meta que era prevista para 2015 só será atingida em 2021. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste já apresentam taxas dentro da meta, mas as regiões Norte e Nordeste apresentam, respectivamente, 8% e 14,5% de taxa de analfabetismo. Caberá ao Ministério da Educação, agora, analisar esses índices para elaborar políticas públicas que corrijam a disparidade.

Mesmo que os índices já chamem a atenção por si, na opinião de Priscila Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação, eles não dão conta da realidade. Ela afirma que a coleta dos dados, feita por autodeclaração, pode reduzir o índice de pessoas que são analfabetas de fato.

— Não tomo esse dado como uma verdade absoluta. Muitas pessoas até sabem escrever o nome, mas não estão alfabetizadas plenamente. O analfabetismo no Brasil é muito mais grave do que aparece na pesquisa. Nesses dados parece que temos 93% das pessoas alfabetizadas completamente, e isso não é verdade.

Para corrigir o problema, Priscila afirma que o governo deve focar em duas linhas de atuação:

— Temos que fechar a torneira do analfabetismo, não deixar mais criança nenhuma analfabeta. Hoje, temos 55% de crianças sem saber ler e escrever no final do terceiro ano do ensino fundamental. A segunda medida necessária é corrigir a alfabetização de jovens e adultos, o que é muito mais difícil. Precisamos aplicar uma metodologia própria para jovens e adultos. O governo precisa ir atrás dessa população. O Brasil conviver com adultos analfabetos é uma vergonha nacional.

Dentro das taxas de analfabetismo por grupos sociais, o que apresenta menor índice é o de homens brancos (3,9%), seguidos por mulheres brancas (4,1%), mulheres pretas ou pardas (9%) e homens pretos ou pardos (9,6%). A divisão em grupos também foi apresentada na análise de anos de estudos. Mulheres brancas são as que passam mais tempo na escola (10,2 anos), seguidas dos homens brancos (10 anos), depois mulheres pretas ou pardas (8,5 anos) e homens pretos ou pardos (8 anos).

Crianças fora da creche por falta de vagas

Segundo o levantamento, apenas 32% das crianças de até 3 anos estão na creche. Os entrevistadores perguntaram os motivos e, entre aproximadamente um terço dos responsáveis por crianças entre 2 e 3 anos (35% dos casos), a resposta foi que não havia creches por perto ou não havia vagas na creche da região. Aproximadamente metade dos responsáveis (53%) responderam que seus filhos não estavam na creche porque não queriam colocá-los. Entre responsáveis por crianças de 0 a 1 ano, 11,4% responderam que não havia escola por perto e 9,7% responderam que não havia vagas. De acordo com a educadora Cleuza Repulho, no contexto atual é difícil mudar esses índices.

— Em 2014, colocamos no PNE uma meta bem ousada de 50% das crianças em creche até 2024, mas em 2017 o governo vota uma lei que limita os gastos públicos. Não vamos conseguir cumprir a meta dessa forma. Para a maioria dos municípios tornou-se inviável abrir novas vagas.