Profissão Repórter - Educação no Brasil - 05/06/2019

Profissão Repórter - Educação no Brasil - 05/06/2019

No final de abril, o Ministério da Educação (MEC) anunciou o corte de verbas para universidades públicas. Na ocasião, o ministro Abraham Weintraub afirmou que “universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”. Após o anúncio, duas manifestações contra essa decisão aconteceram em todo o país.

Este ano, o MEC tem R$ 49,6 bilhões para gastar no Ensino Superior – 85,3% são despesas obrigatórias por lei: salários, aposentadorias e assistência estudantil. Só dá pra mexer mesmo em R$ 6,9 bilhões. São despesas chamadas não obrigatórias, mas importantes, como água, luz, limpeza, obra, manutenção, pagamento de terceirizados e pesquisas. Deste dinheiro, o governo segurou R$ 1,7 bilhão, equivalente a 24,6%.

O corte atinge todas as 63 universidades federais do país. Após o primeiro protesto, no dia 15 de maio, o governou anunciou a suspensão de mais um corte, no valor de R$ 1,5 bilhão. Quinze dias depois, estudantes e professores voltaram às ruas para protestar novamente.

Manifestantes protestam contra o corte de verbas para universidades públicas na Avenida Paulista, em São Paulo

A situação da UFBA

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) tem 73 anos e é a maior do Nordeste. Nos últimos anos, pesquisas feitas no Instituto de Ciências da Saúde da instituição ficaram conhecidas no mundo inteiro. O laboratório foi o primeiro no Brasil a isolar o vírus da zika, em abril de 2015, por exemplo.

Mas a situação que o repórter Guilherme Belarmino encontrou na universidade não é nada boa. No dia da gravação, os pesquisadores tiveram que parar o trabalho para atender um problema urgente: um freezer quebrado fez alunos e professores passarem amostras usadas em pesquisas de virologia para outro local. Segundo o pesquisador Gúbio Soares, o conserto do freezer deve custar em torno de R$ 19 mil, mas não há verba para isso.

“Isso é um problema gravíssimo, porque são amostras de anos e fica o desespero de tentar realocar esse material em outro lugar”, afirma a coordenadora do laboratório de Virologia da UFBA, Silvia Sardi. Confira no vídeo acima a situação da universidade e alguns trabalhos realizados na UFBA.

Cortes na UFRB

Os alunos do curso de Educação do Campo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), inaugurada em 2005, estudam em sistema de alternância: os alunos passam dois meses na universidade e dois meses nas comunidades rurais, aplicando o que aprenderam. O curso forma professores para trabalhar em escolas rurais da região. Mais de 70% dos 12 mil alunos da universidade têm renda menor do que um salário mínimo e meio por mês.

Caco Barcellos e a repórter cinematográfica Mariane Rodrigues conhecem a família de Mariana Santana, aluna do curso de Educação do Campo, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Mais de 100 alunos dependem do alojamento da UFRB na cidade de Amargosa. O aluguel do prédio custa para a universidade R$ 9 mil por mês. Despesas como esta serão afetadas pelo corte anunciado pelo Governo Federal.

Segundo dados do MEC, os cortes nas despesas não obrigatórias em 2014, no governo de Dilma Rousseff, foram de 24%, em 2015 foram de 29%, em 2016, ano do impeachment de Dilma e que Michel Temer assumiu a Presidência, foram de 10%. No ano seguinte, foram de 8%. Em 2018, o corte foi de 1%. O corte deste ano, o primeiro do governo de Jair Bolsonaro, foram de 24,9%.

Pesquisas paradas na UNIFESP

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) tem 11 mil alunos e seis unidades na Grande São Paulo. Entre as pesquisas feitas, estão a da mestranda em química Débora Cardona, que desenvolveu uma técnica para retirar e reaproveitar o petróleo que se espalha em vazamentos no mar. Ela pretende continuar a pesquisa no exterior porque não sabe se conseguirá uma bolsa de doutorado no Brasil.

"O problema é que não é só um aluno, são vários que querem continuar na área acadêmica, mas dizem que seu destino é ir embora, porque o país não dá oportunidade”, lamenta a professora de química Geórgia Labuto Araujo.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ligada ao Ministério da Educação, suspendeu a concessão de bolsas de mestrado e doutorado que, segundo o órgão, não estavam sendo utilizadas.

Décio Semensatto Junior, professor de Ciências Ambientais da Unifesp, diz que o corte foi feito exatamente no momento de troca de alunos e que os novos alunos ficaram sem bolsa e alguns não seguiram no mestrado por conta disso.

Na terça-feira (4), o governo anunciou novo corte de 2.700 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado de cursos com baixa avaliação. O congelamento não vai afetar os bolsistas que já recebem os recursos. Com este segundo anúncio, a redução total chega a 6.198 bolsas da Capes em 2019.

Confira o programa completo no vídeo acima.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!