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Pressão de Bolsonaro levou PF antecipar em 4 meses saída de superintendente do Rio

Interferência de Bolsonaro na questão irritou a cúpula da coorporação e boa parte dos delegados
O delegado federal Ricardo Andrade Saadi Foto: Gil Ferreira / Agência CNJ/ 11-3-13 / Divulgação
O delegado federal Ricardo Andrade Saadi Foto: Gil Ferreira / Agência CNJ/ 11-3-13 / Divulgação

BRASÍLIA — Por pressão do presidente Jair Bolsonaro , a direção da Polícia Federal teve que antecipar em quatro meses a troca de comando da Superintendência da instituição no Rio de Janeiro. Pelo cronograma que vinha sendo acertado entre a diretoria-geral e o delegado Ricardo Saadi, ele deixaria o comando da Superintendência do Rio em dezembro ou janeiro.

A interferência de Bolsonaro na questão irritou a cúpula da PF e boa parte dos delegados que acompanham de perto os desdobramentos do caso. Em conversas com amigos entre ontem e esta sexta-feira, Saadi confirmou que deixaria o cargo, mas só no no final do ano, quando haveria uma nova dança de cadeiras entre superintendentes.

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— Qual o motivo da antecipação dessa troca de comando agora ? Ele (Saadi) e todos nós estamos surpresos e tentando ainda entender o que, de fato, está acontecendo — disse ao GLOBO um interlocutor do superintendente.

A direção geral da Polícia Federal concordou, a contragosto, em antecipar a saída de Saadi. Mas se opôs duramente a tentativa de Bolsonaro de emplacar na futura vaga o superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Silva Saraiva. Para dirigentes da PF a prerrogativa de indicar os cargos de chefia dentro da instituição é do diretor-geral, não do presidente da República.

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Não por acaso, na nota divulgada nesta quinta-feira, a Polícia Federal fez questão de registrar que Saadi seria substituído pelo superintendente da PF em Pernambuco, Carlos Henrique Oliveira Sousa. A polícia manteve a posição mesmo depois do presidente declarar, numa entrevista coletiva no final da manhã desta sexta-feira, que quem manda é ele e que Saraiva seria o chefe da PF no Rio.

— O que eu fiquei sabendo, se ele resolveu mudar, vai ter que falar comigo. Quem manda sou eu. Deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu. Pelo que está pré-acertado, seria o lá de Manaus (Saraiva) — disse Bolsonaro.

Como a direção da PF não abriu mão de indicar Oliveira Sousa, Bolsonaro teve que recuar e, numa segunda entrevista, disse que "tanto faz". Ou seja, a PF poderia escolher qualquer um dos dois, Olivera Sousa ou Saraiva para o cargo. A queda de braço entre o presidente e a PF deixou o ministro da Justiça, Sergio Moro, numa situação delicada. Para delegados, o ministro não pode aceitar interferência política na estrutura da polícia.