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Por Paulo Alves, para o TechTudo


O Facebook está no centro de uma nova polêmica relacionada à privacidade dos dados de seus usuários. Cerca de 50 milhões de pessoas tiveram suas informações vazadas para a empresa de marketing político Cambridge Analytica por meio de testes de personalidade na rede social.

Desde 2017, sabe-se que a empresa britânica teria usado dados disponíveis no Facebook para traçar perfis psicológicos detalhados de eleitores dos Estados Unidos, na campanha pró-Trump, e no Reino Unido, na campanha pró-Brexit. Desde a eleição do presidente americano, a consultoria política tem dito que sua técnica de marketing foi responsável pela vitória. Dessa vez, porém, é a primeira abordagem sobre as dimensões e os aspectos ilegais da estratégia.

Facebook esteve no centro do noticiário da semana devido a um escândalo de privacidade — Foto: Foto: Luciana Maline/TechTudo
Facebook esteve no centro do noticiário da semana devido a um escândalo de privacidade — Foto: Foto: Luciana Maline/TechTudo

1. O que aconteceu?

Os jornais New York Times e The Guardian revelaram no último sábado (17) que a Cambridge Analytica obteve ilegalmente dados de cerca de 50 milhões de perfis de usuários do Facebook nos Estados Unidos. A informação surgiu a partir de uma entrevista com o ex-funcionário da empresa britânica Christopher Wylie.

Os dados teriam sido usados para alimentar um sistema capaz de traçar um perfil psicográfico da população americana para usar na campanha de Donald Trump à presidência. O mecanismo teria permitido entender os traços comportamentais dos eleitores para oferecer-lhes propaganda política com mais chances de êxito. A publicidade foi distribuída no Facebook em forma de anúncios patrocinados no feed.

As informações foram obtidas a partir de um teste de personalidade aparentemente inofensivo, disponibilizado gratuitamente aos usuários da rede social em 2014. Segundo o criador, o pesquisador Aleksandr Kogan, o seu método de análise aplicado ao teste era capaz de traçar o perfil de qualquer pessoa rapidamente a partir de informações como páginas curtidas e postagens realizadas na plataforma.

O problema era que o teste obtinha dados não só de quem preenchia os formulários e aceitava as condições de uso, mas de toda a rede de contatos dos participantes. Mais tarde, Kogan teria entregado os dados à Cambridge Analytica. A empresa diz ter usado a base de dados para criar uma campanha digital hiper-segmentada para clientes como Trump.

2. Qual foi a culpa do Facebook?

O vazamento de perfis teria ocorrido por conta de uma política flexível do Facebook com relação à entrega de informações de perfis a aplicativos de terceiros na rede social. Entre 2007 e 2014, a empresa de Mark Zuckerberg ofereceu livremente dados de usuários a desenvolvedores de apps.

O formato criado por Kogan e usado pela Cambridge Analytica é similar ao que existe atualmente em testes como o “Como você seria do sexo oposto?”, que fez sucesso no começo deste ano. Vale lembrar que, apesar de Kogan ser citado como o criador do teste, o pesquisador Michal Kosinski alega ter desenvolvido a técnica em que se baseia o aplicativo explorado pela empresa de marketing político.

Teste de gênero oposto, febre no Brasil no início do ano, também trouxe à tona o debate de privacidade de dados do Facebook diante de apps — Foto: Divulgação/Kueez
Teste de gênero oposto, febre no Brasil no início do ano, também trouxe à tona o debate de privacidade de dados do Facebook diante de apps — Foto: Divulgação/Kueez

3. O que o Brasil tem a ver com isso?

Apesar dos 50 milhões de perfis obtidos pela Cambridge Analytica serem todos dos Estados Unidos, há possíveis reflexos do caso no Brasil. A empresa de marketing político já estaria em negociações com candidatos a governos estaduais e ao senado para as eleições de 2018. A empresa iria operar no país em parceria com a agência brasileira Ponte Estratégia, mas o acordo foi suspenso logo após os artigos publicados no New York Times e no Observer of London.

A suspensão da parceria da Cambridge Analytica no Brasil acontece também em meio a um inquérito instaurado pelo Ministério Público do Distrito Federal para apurar se o Facebook compartilhou dados de usuários brasileiros com a consultoria britânica.

Ainda não se sabe se a Cambridge Analytica tem presença no Brasil com outros parceiros além da agência Ponte Estratégia.

4. O que o Facebook sabe sobre os usuários?

O centro do problema de privacidade do Facebook está na grande quantidade de informações que rede social mantém de seus usuários. Além de dados básicos como idade, naturalidade e contatos, a plataforma acumula a trajetória profissional e amorosa, cidades em que morou, pessoas com quem convive e conversa e rotinas diárias (idas à escola, trabalho, academia, restaurantes e outros locais).

Além disso, a plataforma grava os interesses e gostos pessoais de cada usuário de acordo com as curtidas em páginas e posts. Esses dois últimos dados seriam os mais valiosos para traçar o perfil psicográfico por parte da Cambridge Analytica, graças ao mecanismo criado por Kogan.

Tudo que o Facebook sabe sobre você

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5. Como proteger dados do meu Facebook de aplicativos externos?

Apesar de acumular muitos dados de usuários, o Facebook já permite controlar em que medida essas informações são partilhadas com aplicativos. A rede social oferece três tipos de ajuste de privacidade, que incluem limitação de obtenção de dados, remoção de apps da conta e desativação completa de programas no seu perfil do Facebook.

6. Eu posso controlar a publicidade no meu Facebook?

Além de proteger seus dados e evitar que eles sejam minerados por apps, é possível minimizar a exploração de informações pessoais por anunciantes. O Facebook permite desabilitar a exibição de propaganda personalizada no feed, o que, em teoria, bloqueia qualquer tipo de anúncio hiper-segmentado que possa ser criado usando o mesmo método da Cambridge Analytica.

Com o recurso de publicidade personalizada desativado, o Facebook mostra apenas anúncios com foco em informações básicas como gênero e idade. Isso significa que, mesmo que campanhas políticas obtenham seus dados forçadamente, os posts patrocinados não irão aparecer no seu feed.

Passo 1. Acesse as configurações do Facebook no navegador desktop.

Acesse as configurações do Facebook na web — Foto: Reprodução/Paulo Alves
Acesse as configurações do Facebook na web — Foto: Reprodução/Paulo Alves

Passo 2. No menu lateral, clique em “Anúncios”.

Acesse as configurações de anúncios do Facebook — Foto: Reprodução/Paulo Alves
Acesse as configurações de anúncios do Facebook — Foto: Reprodução/Paulo Alves

Passo 3. Na seção “Configurações de anúncios”, configure as opções como “Não”, “Não” e “Ninguém”, confirme indicado na imagem.

Impeça que seus dados sejam usados em publicidade segmentada na plataforma — Foto: Reprodução/Paulo Alves
Impeça que seus dados sejam usados em publicidade segmentada na plataforma — Foto: Reprodução/Paulo Alves

7. Como fica o Facebook?

Após cinco dias de silêncio desde que os jornais estrangeiros noticiaram o caso, Mark Zuckerberg anunciou na quinta-feira (22) quatro medidas que serão tomadas para evitar que o problema se repita ou se agrave no futuro.

A partir de agora, o Facebook irá revogar o acesso de apps não acessados pelo usuário nos últimos três meses, e as informações compartilhadas serão restritas a nome, e-mail e foto de perfil. Se houver necessidade de mais dados, uma equipe do Facebook terá de autorizar expressamente. Além disso, uma futura atualização na rede social permitirá que o usuário veja claramente na tela inicial quais apps têm acesso aos seus dados.

Os donos dos perfis obtidos pela Cambridge Analytica serão contatados pelo Facebook. A rede social promete ainda investigar não só o teste de personalidade da Cambridge Analytica mas todos os apps similares que funcionaram até 2014.

Segundo Zuckerberg, o compartilhamento aberto de dados que permitiu o acesso de 50 milhões de perfis pela Cambridge Analytica foi restringido e não funciona mais do mesmo modo desde o fim de 2014.

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