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Prefeitura derruba quiosques em praça na Vila Kennedy

No terceiro dia de presença das forças de segurança na Vila Kennedy, comerciantes e moradores da ação foram surpreendidos com a chegada de retroescavadeiras e homens da Seop
Construções irregulares são demolidas na Praça Miami, na Vila Kennedy Foto: Márcio Alves
Construções irregulares são demolidas na Praça Miami, na Vila Kennedy Foto: Márcio Alves

RIO - O clima é de revolta na Praça Miami, na Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio. Segundo moradores e comerciantes, a prefeitura surpreendeu a todos com uma ação de choque de ordem que colocou abaixo quiosques instalados no local. Desde o início da manhã, a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) faz um ação de ordenamento, com homens e retroescavadeiras.

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A principal queixa dos proprietários das lojinhas é que nenhum deles foi avisado da derrubada. Muitos choravam, e houve até casos de comerciantes que se jogaram na frente das máquinas para tentar salvar suas mercadorias e alguns objetos. A prefeitura alega que se trata de uma ação de retirada de barracas irregulares. O local, assim como o restante da comunidade, está ocupado pelas Forças Armadas e pela Polícia Militar.

Graziele Gomes, de 40 anos, conta que vendia quentinhas há 4 anos na praça, e que tirava dali o sustento de seus cinco filhos.

— Ontem (quinta-feira), o Exército este aqui e me deu rosas pelo Dia da Mulher. Hoje, eles vieram com a Seop e arrancaram meu sustento do nada. Sou mãe de cinco filhos e tirava daqui o dinheiro do meu aluguel. Agora meu sonho acabou — disse, chorando.

Por volta das 9h, diz ela, recebeu uma ligação avisando que a Seop estava na praça demolindo todas as barracas.

— Quando cheguei, estavam derrubando tudo. Só consegui salvar algumas mercadorias e a geladeira. Agora não tenho ideia do que vai ser da minha vida. Arrancaram minha dignidade. O que vou dizer para meus filhos hoje, quando eles pedirem comida ? — questionou ela, que também alimentava as crianças com as comida vendida nas quentinhas.

Outro dono de barra, Fagner de Oliveira, de 32 anos, entrou em desespero quando viu a retroescavadeira destruindo seu quiosque de venda de açaí. Ele se jogou na frente da máquina. Só conseguiu retirar um freezer e algumas mercadoria antes que o local virasse entulho.

Policiais militares atuam em apoio aos operários da prefeitura Foto: Márcio Alves
Policiais militares atuam em apoio aos operários da prefeitura Foto: Márcio Alves

— Tinha este quiosque há 15 anos. Dali tiro o sustento do meu filho e esposa, além de dar emprego para oito pessoas. Uma destas pessoas saiu da vida errada para trabalhar dignamente comigo. Agora não sei como será o futuro — disse ele, que também soube da ação após um telefonema de um conhecido — O duro foi que não avisaram nada. Foi de surpresa. Vieram e quebraram todas as barracas. Agora, todo mundo vai ficar desempregado — lamentou ele, que conseguia faturar cerca de R$ 3 mil por mês com as vendas, dinheiro que usavam para pagas funcionários e sustentar a família.

Através da Secretaria municipal de Fazenda, a prefeitura informou que "os agentes já estão no local fazendo o cadastro dos comerciantes para, posteriormente, definir em estudo a realocação dessas pessoas de forma legal e ordenada.

“Será feito um sorteio para garantir a licença dos ambulantes interessados, que passarão a trabalhar em módulos padronizados, que garantem a organização do espaço público e o direito de todos os cidadãos que o frequentam”, afirma trecho da nota.

Ainda segundo a Secretaria de Fazenda municipal, durante a operação, 52 construções fixas irregulares foram identificadas, “ocupando quase todo o espaço livre da praça, flagrante desrespeito à Lei orgânica do Município”.

A Macrofunção de Ordenamento e Gestão Sustentável dos Espaços Públicos (Mosep) ocorre em apoio às operações das forças militares que atuam na cidade. Além da Seop, participaram da ação a Guarda Municipal do Rio (GM-Rio), a Coordenadoria de Gestão dos Espaços Urbanos (Cgeu), a Secretaria de Conservação do Meio Ambiente (Seconserma), a Light, a RioLuz, a Cedae, a Comlurb e a Polícia Militar.

OPERAÇÃO DAS FORÇAS DE SEGURANÇA NA VILA KENNEDY

As Forças de Segurança fazem pelo terceiro dia consecutivo de operação na Vila Kennedy. A ação ocorre após uma noite violenta na comunidade, quando uma igreja foi invadida por bandidos que assaltaram fiéis e um padre. O objetivo dos agentes, segundo o Comando Conjunto e a Secretaria de Segurança Pública, é o "reforço no patrulhamento ostensivo".

A Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) informa que faz uma ação integrada com vários órgãos da prefeitura para o ordenamento urbano na Vila Kennedy.

Além da operação das forças de segurança, “eventualmente poderão ser cumpridos mandados de prisão por parte da Polícia Civil e executada remoção de obstáculos remanescentes”. Mil e quatrocentos militares das Forças Armadas participam da operação. As equipes contam com o apoio de veículos blindados, aeronaves e equipamentos pesados de engenharia.