Rio

Crivella propõe 'bueiros eletrônicos' para resolver enchentes do Rio

Prefeito afirmou que 'piscinões' construídos por antecessor funcionam bem
Os 25 mil bueiros, com custo de 12 milhões de reais, funcionariam com sensores e filtros que detectariam entupimento e, para o aicalde, ajudariam no combate das enchentes que causaram muitos problemas na cidade nas últimas semanas
Os 25 mil bueiros, com custo de 12 milhões de reais, funcionariam com sensores e filtros que detectariam entupimento e, para o aicalde, ajudariam no combate das enchentes que causaram muitos problemas na cidade nas últimas semanas

RIO - Após a chuva provocar alagamentos em diversos pontos do Rio de Janeiro na última sexta-feira, o prefeito Marcelo Crivella disse na manhã desta segunda-feira que pensa em implementar " bueiros eletrônicos " para resolver as enchentes da cidade. De acordo com Crivella, o processo consiste em colocar sensores nos bueiros para controlar o lixo. Sem detalhar custos e prazo para implementação, ele disse que pretende limpar pontos em que os alagamentos são frequentes por meio desse processo.

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— Hoje de manhã estive falando sobre bueiros eletrônicos. E aí a gente vai limpar 2 mil bueiros, que serão comandados eletronicamente em áreas que costumam alagar. Porque no fundo, no fundo, o grande problema das nossas enchentes é lixo em bueiro — concluiu.

Em nota, o secretário da Seconserma, Jorge Felippe Neto, defendeu a proposta, e disse que pe "uma mudança de paradigma nesse sistema arcaico que temos até hoje para limpeza de bueiros e prevenção de enchentes:

"O contrato é para instalação de 5 mil bueiros no valor de R$ 12 milhões. O processo para contratação já está em andamento.
O objetivo dos filtros é reter os resíduos sólidos que são depositados em bueiros e bocas de lobo, facilitando a retirada e impedindo que os mesmos se encaminhem para os rios e que a obstrução provoque alagamentos pontuais", afirma o secretário na nota, que continua:

"Quando o nível chega a 60%, o alarme é acionado (pode ser por sistema de telefonia e/ou num centro de comando, como o COR, por exemplo – ainda em definição) e as equipes se encarregam de realizar a limpeza manual.
O sistema de gestão inteligente de bueiros é feito por meio de instalação de filtros e sensores volumétricos, além do serviço de monitoramento dos mesmos. A tecnologia é nacional. No Brasil, a cidade de São Paulo já utiliza os bueiros inteligentes.

Engenheiro civil de formação, o deputado estadual Luiz Paulo (PSDB-RJ) criticou a proposta. Ao GLOBO, afirmou disse que esse é "mais um palpite" de Crivella para resolver problemas da cidade.

— Só um prefeito neófito pode achar que isso é solução. Por que as enchentes acontecem? Não é só por estarem entupidos. É que uma parte das galerias de águas pluviais são antigas; têm diâmetros incompatíveis com o crescimento que a cidade teve; não têm capacidade de engolir o volume d'água que rapidamente escoa para os bueiros, para as galerias. A cidade se expandiu, pavimentou mais, então a água não penetra mais no solo — explicou ele, que acrescentou:

— Vai gastar uma fortuna com bueiros eletrônicos e os bueiros, simultaneamente vão dizer: 'Estamos entupidos!' E não tem as equipes de prontidão para desentupi-los. Parece que a cidade enfrenta pela primeira vez esse problema. É mais um palpite dele para resolver os problemas do Rio.

Para o deputado estadual, as soluções para as inundações de alguns pontos do Rio são outras, como: substituição das galerias; trabalho preventivo de limpeza de bueiros; e até mesmo os "piscinões".

— A possível solução é fazer paulatinamente a substituição de todas as galerias que não dão mais vazão ao volume de chuva que cai na cidade. E, evidentemente, uma rotina de limpar os bueiros e dragar os rios antes do verão. E não podemos ter galerias que estejam desaguando no mar no nível da água, porque quando a maré sobe, a água do mar vai para as galerias — disse Luiz Paulo.

— Hoje precisa ter o piscinão da Praça da Bandeira para diminuir esse volume de água lá. Então, tem soluções que não passam por invenções dessa ordem de grandeza. Certamente buscar esses sensores na Europa, no carnaval — ironizou.

CRIVELLA ELOGIA 'PISCINÕES'

A chuva da última sexta-feira afetou áreas da cidade que há muito tempo não sofriam com enchentes, como a Praça da Bandeira. No entanto, o prefeito disse que os "piscinões" estão operando normalmente. E, citando seu antecessor no cargo, Eduardo Paes, elogiou as obras.

— Se eu tivesse que elogiar uma obra do Eduardo (Paes), seriam os piscinões: (Praça) Varnhagen, Maracanã e Praça da Bandeira — disse ele, que acrescentou:

— Tenho até uma lei no Congresso Nacional para que isso possa ocorrer em todas as obras que são financiadas pelo poder público: Caixa Econômica, BNDES, Banco do Brasil... Para que todos os prédios, igrejas, sindicatos façam os seus piscinões. Guardem água de chuva, que é uma benção, mas acaba se tornando um transtorno.

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Crivella, que reconheceu os problemas que a cidade enfrentou com a chuva na última semana, enfatizou que os "piscinões" não tiveram relação com os alagamentos:

— Realmente, a água que tivemos na Praça da Bandeira foi muito menor do que tivemos antes, onde morreu um cidadão. Então, os piscinões estão funcionando bem.

Crivella anuncia 'Corujão da Saúde' em hospitais municipais Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Crivella anuncia 'Corujão da Saúde' em hospitais municipais Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

BRT TRANSOESTE: OBRA 'INADIÁVEL'

Por outro lado, o atual prefeito fez críticas à pavimentação do BRT Transoeste, cuja pista apresenta desníveis. De acordo com Crivella, quando assumiu a prefeitura, já havia dificuldades com essa construção.

— No BRT, na parte da Transoeaste, a pavimentação foi muito mal feita. Já recebi isso com imensas dificuldades e estamos procurando recursos para refazer. Aqueles ônibus são articulados e sofrem muito. Agora, não é uma obra simples. O solo ali, todo mundo sabe, é arenoso e orgânico. Tem que fazer uma sub base ali e um trabalho permanente — disse ele.

Crivella ainda prometeu pedir recursos ao governo federal nesta terça-feira, em sua viagem a Brasília. Segundo ele, essa é uma obra "inadiável":

— Estou indo amanhã a Brasília, buscando recursos, para que a gente possa nesse momento de intervenção fazer obras que diria que são inadiáveis. Uma delas é a Transoeste.

VIAGEM À EUROPA

Na semana passada, Crivella, que novamente estava viajando durante um temporal que atingiu o Rio, fez piada com a situação :

— Lá em São Paulo também tem enchente. Vão até lançar um programa novo: o Balsa Família! — afirmou o prefeito, que depois negou ter brincado com as enchentes e disse apenas ter citado expressão usada por José Simão, colunista da "Folha de S. Paulo".

Na semana anterior, durante o temporal que deixou quatro mortos, destruiu um novo trecho da ciclovia Tim Maia, deixou hospitais sem energia e provocou uma pane nos transportes públicos, o prefeito estava viajando pela Europa, onde passou o carnaval.

Apesar de dizer que estava em viagem oficial, Crivella depois admitiu que a viagem pela Europa foi pessoal, apesar de ter dito que trabalhou .

O prefeito ainda compartilhou um vídeo em suas redes sociais para dizer que estava acompanhando a situação, mas foi duramente criticado. Na volta, fez outro vídeo para dizer que a cidade tinha suportado bem o temporal .

No entanto, uma semana após a chuva, centenas de famílias permanecem sem luz e água, e um idoso morreu porque o equipamento que o mantinha vivo ficou sem energia. Algumas pessoas também estão desalojadas.