Por Marina Franco, G1


Ativistas da Islândia, Argentina e Somália falam sobre a violência contra a mulher em seus países — Foto: Dagny Aradottir Pind/ Cecilia Palmeiro/ Faiza Mohamed

Três representantes de organizações que trabalham pelo direito das mulheres contam neste Dia Internacional da Mulher qual o principal tipo de violência que enfrentam em seus países e como estão trabalhando para combatê-la.

Mulheres da Somália, Argentina e Islândia relatam o tipo de violência que enfrentam

Mulheres da Somália, Argentina e Islândia relatam o tipo de violência que enfrentam

Em depoimento ao G1, as ativistas de países muito diversos – Somália, Argentina e Islândia - relatam problemas como a mutilação genital feminina, o feminicídio, a desigualdade no ambiente de trabalho e o assédio sexual. Assista ao vídeo acima.

Mulheres de Somália, Argentina e Islândia relatam o tipo de violência que enfrentam em seus países — Foto: Fernanda Garrafiel/Arte G1

Somália: mutilação genital feminina

Foto de arquivo mostra mulheres somalis — Foto: AP

Na Somália, país em guerra há 26 anos, sem um governo efetivo e em mãos de milícias radicais islâmicas, a principal violência que as mulheres enfrentam é a mutilação genital feminina, segundo conta Faiza Mohamed, diretora para a África da ONG global Equality Now.

A prática, que consiste em tirar partes ou todo o órgão sexual da mulher, não é própria do país, mas atinge diversas nações africanas e algumas asiáticas. Segundo o Unicef, pelo menos 200 milhões de mulheres e meninas que estão vivas hoje já passaram pela mutilação genital feminina. A Somália tem a maior taxa de mutilação feminina do mundo. Lá, 98% das mulheres entre 15 e 49 anos são vítimas.

“De gerações em gerações, a mutilação genital feminina tem sido amplamente aceita como algo por que as crianças devem passar. E a principal razão pela qual é feita é, basicamente, garantir que não haja desejo pela atividade sexual antes do casamento”, diz Faiza Mohamed.

Faiza Mohamed, diretora para a África da ONG Equality Now: "Mutilação genital é uma prática difícil e prejudicial para muitas meninas" — Foto: Faiza Mohamed

Ela conta que, para combater a prática, o principal trabalho é o de pressionar legisladores a elaborarem políticas contra ela e conscientizar, tanto homens como mulheres, de que se trata de um ato violento.

“Há diversas organizações de ativistas que têm tentado criar consciência sobre a natureza prejudicial dessa prática, que é algo que não requer religiosidade. Mas há outras forças, incluindo personalidades religiosas, que continuam dizendo às comunidades que é um requisito religioso”, afirma Faiza, que também trabalha na comissão pelo direito das mulheres da União Africana.

“Precisamos que massas de pessoas se unam e vejam que isso é uma prática difícil e prejudicial para muitas meninas”, acrescenta.

A ativista conta que, com a guerra, o trabalho que faziam foi perdido, mas que agora tem esperança de que possam progredir. “Por causa da guerra, muitas mulheres foram forçadas a sair e viver fora do país. Elas estão interagindo com outras comunidades e ouvindo que essa prática é prejudicial. Muitas estão voltando e trazendo essa mensagem de mudança. Esperamos que vamos recuperar muito terreno”, diz.

Argentina: feminicídio e violência econômica

Imagem de arquivo mostra manifestantes em frente ao Congresso da Argentina, em Buenos Aires, exigindo políticas para prevenir o feminicídio no país — Foto: Marcos Brindicci/Reuters

Na Argentina, a luta das mulheres é contra o feminicídio, que é o assassinato de uma mulher por questão de gênero. Em 2016, o caso de abuso e morte de uma jovem de 16 anos em Mar del Plata gerou manifestações por toda a América Latina, inclusive no Brasil, e deu força à campanha “Ni Una a Menos”, que também ganhou braço em outros países do continente.

No ano passado, a Argentina registrou 292 feminicídios, segundo o Observatório de Feminicídios do país, vinculado ao Defensor del Pueblo de la Nación, órgão independente que atua como uma espécie de ombudsman do governo.

A ativista e escritora Cecilia Palmeiro explica que a partir da pauta do feminicídio, o movimento adotou também a causa da desigualdade entre homens em mulheres em relação ao trabalho e à renda.

“A gente está organizada contra o feminicídio, contra as violências contra as mulheres. Mas, desde então, percebemos que as violências não são só físicas e sexuais. As violências são majoritariamente econômicas. O patriarcado faz parte fundamental do capitalismo, e a violência contra as mulheres é parte estrutural dessa divisão injusta da renda e do trabalho”, diz Cecilia Palmeiro.

Cecilia Palmeiro, ativista do Ni Una a Menos na Argentina: "As violências contra as mulheres são majoritariamente econômicas" — Foto: Cecilia Palmeiro

Para reivindicar paridade salarial e equidade de gênero nas organizações e empresas, o movimento, junto com diversos sindicatos trabalhistas, organizou para este dia 8 de março uma paralisação de mulheres em Buenos Aires. Cerca de 500 mil pessoas são esperadas para percorrer o trajeto entre a Plaza de Mayo, onde está a sede da presidência, e o Congresso do país.

“Nós paramos contra as violências econômicas, laborais e financeiras. Contra a precarização das nossas vidas. Por nossas liberdades, por nossos desejos, por nossa autonomia e por nossa felicidade. Paramos para defender a vida no planeta”, diz Cecilia.

Islândia: assédio sexual

Mulher segrando a bandeira da Islândia é vista durante protesto contra medidas adotadas pelo governo em 2009 — Foto: Ints Kalnins/ Reuters

Já no país considerado o mais avançado do mundo no que se refere a paridade de gênero, a Islândia, as mulheres também enfrentam violência por questão de gênero. Segundo Dagny Aradottir Pind, membro da Associação dos Direitos das Mulheres da Islândia, entre as pautas feministas do momento, a de maior barulho é o combate ao assédio sexual.

“Depois que o movimento Me Too estourou, as mulheres da Islândia rapidamente assumiram a mesma discussão. As mulheres da política começaram a compartilhar suas experiências e muitos outros grupos a seguiram”, diz Dagny Aradottir Pind, membro da Associação pelos Direitos das Mulheres da Islândia, citando a campanha em que milhares de mulheres compartilharam nas redes sociais suas experiências como vítimas de assédio.

“Toda mulher que conheço tem histórias [de assédio] para compartilhar”, afirma Dagny Aradottir Pind. "Os homens precisam entender que isso é um problema real. Muitos deles já entenderam, depois que surgiu o movimento Me Too. E é muito importante que eles não se calem quando testemunharem alguma coisa".

Dagny Aradottir Pind, da Associação pelos Direitos das Mulheres da Islândia: "Toda a mulher que eu conheço tem histórias de assédio para compartilhar" — Foto: Dagny Aradottir Pind

Neste ano, a Islândia passou a obrigar as empresas a obterem um certificado que comprove que elas pagam salários iguais a homens e mulheres que exercem a mesma função. Apesar do pioneirismo, Dagny considera que ainda há muito a ser conquistado para que se alcance a igualdade entre homens e mulheres em seu país.

“A Islândia é conhecida por ser um dos melhores países para as mulheres. Apesar disso, não estamos perto de uma igualdade entre os sexos”, afirma.

“Trilhamos um longo caminho para ter uma igualdade de gênero e mais e mais mulheres estão chegando a posições de poder. Por exemplo, no momento temos nossa segunda primeira-ministra mulher. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas sinto que estamos no caminho certo, graças ao movimento feminista na Islândia”, acrescenta.

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