Exclusivo para Assinantes
Mundo

Entenda o que aconteceu desde o ataque à Síria na última sexta

Trocas de ameaças e reuniões de emergência marcaram o fim de semana
Os presidentes de EUA e França, Donald Trump e Emmanuel Macron; a premier britânica, Theresa May; os chefes de Estado sírio e russo, Bashar al-Assad e Vladimir Putin Foto: Reuters/AFP
Os presidentes de EUA e França, Donald Trump e Emmanuel Macron; a premier britânica, Theresa May; os chefes de Estado sírio e russo, Bashar al-Assad e Vladimir Putin Foto: Reuters/AFP

DAMASCO, LONDRES, MOSCOU e WASHINGTON - O fim de semana foi marcado por intensos debates e trocas de acusações depois de um bombardeio de Estados Unidos, Reino Unido e França à Síria, em represália ao suposto uso de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad. Assad é acusado de estar por trás de um suposto ataque químico na cidade de Douma, nos  arredores  de Damasco, denunciado por grupos de oposição no dia 7 de abril.

OFENSIVA MILITAR COORDENADA

Na noite de sexta-feira, o presidente americano, Donald Trump, fez um pronunciamento à nação no qual anunciou uma operação militar coordenada com Reino Unido e França contra pontos estratégicos do regime sírio, acusado de realizar um ataque com armas químicas contra a cidade de Douma, da região de Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco, em 7 de abril. O ataque foi denunciado pelos Capacetes Brancos, serviço de defesa civil que atua em áreas controladas por grupos da oposição armada a Assad, e teria ocorrido durante a ofensiva do regime para retomar o controle da região.

Com mais de cem mísseis, os três países bombardearam três alvos que estariam ligados à produção e armazenamento de armas químicas: um centro de pesquisa em Barzeh, perto da capital, Damasco, e dois centros de armazenamento em Him Shinshar, na província de Homs, no Oeste da Síria. Segundo os Estados Unidos, foram lançados 105 mísseis de navios estacionados no Mediterrâneo e de aviões.

Pelo tom do pronunciamento de Trump, parecia se tratar de uma ampla ofensiva militar, mas, logo em seguida, o Pentágono (Departamento da Defesa dos EUA) indicou que seria um ataque único e limitado em seus objetivos. O Pentágono também deixou claro que evitou-se atingir forças da Rússia, que apoia militarmente o regime.

A premier britânica, Theresa May, disse que a ação tinha a intenção de poupar a população civil, e portanto não deixou mortes. Em seguida, o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a ofensiva era restrita ao "arsenal químico clandestino" da Síria. No Twitter, o presidente americano declarou "missão cumprida" — expressão usada por Bush na invasão do Iraque em 2003 —, e que "resultado não poderia ter sido melhor".

REAÇÕES INTERNACIONAIS

Inicialmente, a Rússia, aliada de Assad e acusada de compactuar com o regime sírio no suposto ataque químico, se disse ameaçada, mas moderou o tom do discurso no dia seguinte. Rússia e Síria não ameaçaram retaliar. O governo russo convocou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, na qual pediu uma condenação internacional do órgão ao ataque.

A resolução, no entanto, foi rejeitada na votação em que apenas China e Bolívia apoiaram a Rússia. Oito países votaram contra e quatro se abstiveram de votar. Durante a reunião, os Estados Unidos disseram estar "totalmente preparados" para atacar novamente a Síria se o governo de Bashar al-Assad usar armas químicas novamente, disse a representante americana na ONU, Nikki Haley.

A ameaça foi endossada por May e Macron, que disseram o mesmo em entrevistas coletivas. Os dois foram criticados pelas oposições de seus respectivos países pela participação no ataque coordenado. No Reino Unido, os opositores alegaram que o ataque foi ilegal, por ter ocorrido sem autorização da ONU e por não ter esperado o fim da investigação sobre o ataque químico denunciado.

Políticos russos que estiveram com Assad disseram que ele estava tranquilo e que afirmou que a ofensiva aérea irá unificar o país. O presidente sírio considerou que os ataques foram acompanhados por uma campanha de "mentiras" e desinformação. Ele estimou um custo de US $ 400 bilhões para a reconstrução do país, onde a guerra civil está em seu oitavo ano.

INVESTIGAÇÃO DA OPAQ

No sábado, uma equipe da Organização para Proibição de Armas Químicas (Opaq) chegou à Síria para investigar o local do suposto ataque em Douma, após convite do regime sírio feito na semana passada. A Rússia criticou os três aliados por atacar sem ter esperado a avaliação dos agentes especializados. O vice-ministro do Exterior da Síria, Ayman Susan, disse que os investigadores iriam à Douma no domingo para começar o trabalho.

Nesta segunda-feira, em uma reunião do conselho executivo da Opaq, em Haia, na Holanda, EUA, Reino Unido e França denunciaram que Rússia e Síria estão impedindo o acesso dos agentes da Opaq ao local do suposto ataque químico. Segundo os EUA, a Rússia manipulou o local. O conselho executivo da Opaq é formado por representantes de 41 dos 192 países-membros da organização, criada para monitorar a implementação da Convenção sobre Armas Químicas, que proibiu o uso desse tipo de armamento.  O Brasil é um dos integrantes do conselho executivo, cujos membros são rotativos.

REPRESÁLIAS CONTRA SÍRIA E RÚSSIA

Estados Unidos, Reino Unido e França estão pressionando por um fim "irreversível" do programa de armas químicas da Síria. Os três países fizeram circular no Conselho de Segurança um projeto de resolução que exige uma nova investigação sobre o suposto ataque em Douma, bem como o envio imediato de ajuda humanitária e o envolvimento do governo sírio em negociações de paz mediadas pela ONU.

Nikki Haley disse que os EUA estão preparando novas sanções contra a Rússia por seu contínuo apoio a Assad.

Ela disse que o governo americano não vai sair da Síria, como especulado durante a última semana. Segundo ela, os cerca de 2 mil soldados em solo sírio ficarão até que as metas americanas sejam alcançadas: garantir que as armas químicas não sejam usadas de qualquer forma que represente um risco aos interesses dos EUA; que o Estado Islâmico seja derrotado; e que haja um bom ponto para se observar o que o Irã está fazendo.

As forças americanas na Síria estão instaladas na região curda, no Noroeste do país. Elas dão apoio à coalizão Forças Democráticas Sírias (FDS), controlada pela milícia curda YPG. Essas forças não participaram do ataque de sexta. Além dos 2 mil militares, os EUA têm atualmente 5 mil funcionários de empresas privadas na Síria, que segundo o Pentágono prestam serviço de apoio às tropas, mas não participam dos combates.

O secretário britânico do Exterior, Boris Johnson, disse que o Reino Unido não descarta bombardear novamente a Síria.