Publicidade

Publicidade

Rio

As mentiras sobre a vereadora Marielle Franco que circulam nas redes

por Gisele Barros

Assassinado da vereadora Marielle Franco mobilizou protestos em todo o país

O assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foi motivo para comoção nas redes sociais, mas também para o compartilhamento de mentiras sobre a parlamentar. Defensora dos direitos humanos e "cria da Maré", como ela mesma se identificava, Marielle foi acusada nos últimos dias de associação com o tráfico de drogas, de ter tido um relacionamento com o Marcinho VP e até de "defender bandidos". 

Até mesmo a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) Marília Castro Neves e o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) compartilharam os boatos sobre Marielle. A equipe de checagem do GLOBO conferiu as informações e confirmou que todas são falsas. 

LEIA MAIS: Assassinato de Marielle gera debate e mais de 500 mil menções no Twitter

Marielle Franco: Negra, moradora da Maré e a quinta vereadora mais votada do Rio

Post de desembargadora sobre Marielle

Marielle Franco foi eleita pelo Comando Vermelho? 

Tag_FALSO_3

Essa foi uma das acusações feitas pela desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) Marília Castro Neves no Facebook. Dados do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) mostram, porém, que os 46.500 votos de Marielle foram pulverizados na última eleição. Cerca de 30% da sua votação foi conquistada na Zona Sul do Rio de Janeiro, em bairros como Botafogo, Humaitá, Laranjeiras e Urca.

Na Maré, região controlado pelo tráfico onde Marielle nasceu e foi criada, a vereadora recebeu 1,6 mil votos. Reportagem publicada pelo Jornal EXTRA mostra o peso dos votos fora da favela na eleição de Marielle. O candidato Del (PR) recebeu mais de 8 mil votos na comunidade, mas no total foi votado por 11 mil eleitores na cidade, e não conseguiu vaga na Câmara Municipal. Infográfico do GLOBO mostra a votação para vereador no Rio, por Zona Eleitoral. 

Foto atribuída de maneira equivocada a Marielle Franco e o traficante Marcinho VP

Marielle Franco era ex-mulher de Marcinho VP?

Tag_FALSO_3

O deputado Alberto Fraga (DEM-DF) compartilhou publicação com essa frase no Twitter, mas ela é falsa. Dois traficantes que atuaram no Rio de Janeiro eram identificados como Marcinho VP. Márcio Amaro de Oliveira atuava na favela Santa Marta, Zona Sul do Rio de Janeiro. O traficante fugiu da prisão em 1997, foi capturado três anos depois e morreu em 2003, no presídio Bangu 3. Já Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, chefiava o crime no Complexo do Alemão e foi preso em Porto Alegre em 1997. Essa afirmação costuma ser compartilhada com uma foto de um casal com um tarja no rosto. Na imagem original, publicada num fotolog intitulado “Ktaputas”, é possível perceber que não há semelhança do casal com Marielle ou ous traficantes citados. 

Deputado compartilhou notícia falsa sobre Marielle

Marielle Franco engravidou aos 16? 

Tag_FALSO_3

Marielle Franco foi assassinada aos 38 anos e sua única filha Luyara Santos, tem 19 anos de idade. A vereadora, portanto, engravidou quando tinha 19 anos e o pai de Luyara é Glauco dos Santos. Marielle vivia com a filha e a companheira, Monica Benício, na Tijuca, Zona Norte do Rio. 

Marielle exonerou 6 funcionários recentemente? 

Tag_FALSO_3

Na mensagem compartilhada por Alberto Fraga, Marielle teria exonerado 6 funcionários recentemente, mas também circula pelas redes boatos de que até 15 funcionários foram demitidos pela vereadora. A informação, porém, é falsa. Na semana passada apenas três funcionárias deixaram o trabalho no gabinete. 

Boato sobre exonerações feitas por Marielle Franco

No Diário Oficial da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (DCMRJ) publicado no dia 14 de março, data em que Marielle foi assassinada, foram publicadas seis resoluções de exoneração de funcionários que trabalhavam no gabinete dela, mas apenas três efetivamente deixaram que atuar ao lado da parlamentar. A outra metade saiu de um cargo apenas para exercer nova função comissionada.

Na página 39 do DCMRJ consta que as assistentes Daniella Monteiro da Silva e Rossana Brandão Tavares e a assessora Verônica Tavares de Freitas foram exoneradas de seus cargos comissionados e substituídas respectivamente por Lucas Batal Monteiro, Nelson de Souza Teles e Mônica Santos Francisco.

Mônica é uma das três funcionárias exoneradas apenas para mudar de função. Anteriormente era auxiliar de gabinete pe agora exerce cargo de assessora. Juntam-se a ela Fernanda Gonçalves Chaves, que passou de assessora especial para assessora-chefe e Renata da Silva Souza, anteriormente assessora chefe e agora assessora especial. Luna Costa de Oliveira foi contratada para assumir a vaga deixada por Mônica como auxiliar de gabinete. Assim, três funcionários foram exonerados e outros três contratados no mesmo dia.

Na lista atualizada de servidores comissionados da Câmara  os nomes das funcionárias exoneradas já foram retirados. Segundo a assessoria da vereadora, duas delas deixaram o trabalho no gabinete após aprovação em concursos públicos e a terceira solicitou exoneração para se dedicar a outro trabalho. A assessoria informou ainda que elas atuavam ao lado de Marielle desde que a vereadora foi eleita.

A equipe de checagem do GLOBO conseguiu entrar em contato com uma das funcionárias exoneradas. Daniella Monteiro confirmou que a decisão de sair do gabinete foi tomada em comum acordo e que precisava deixar a função para se dedicar a outros projetos pessoais. 

 — A Marielle era a cara de uma rede articuladora de mulheres, favelados e negros. Eu fui exonerada porque precisava organizar a minha vida pessoal e já não poderia me dedicar plenamente a agenda intensa do mandato. Marielle tinha muito compromisso com o espaço que ela ocupava no partido, a responsabilidade com a construção de figuras públicas de mulheres, mas também com as tarefas do mandato em si. Decidimos juntas — afirmou Daniella. 

Marielle "defendia bandidos"? 

Tag_FALSO_3

Os internautas que fazem essa afirmação costumam criticar o fato de Marielle ser defensora do Direitos Humanos, denunciar atos de violência cometidos pela Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ), bem como ser relatora da comissão criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do Rio. Mas a vereadora também atuava junto aos policiais.

O coronel da reserva da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) Robson Rodrigues da Silva defendeu Marielle. Rodrigues contou que conheceu a vereadora quando ela o procurou para relatar ameaças sofridas por mães em uma comunidade com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Depois disso, segundo o ex-coronel, Marielle o procurou para saber como ajudar PMs vítimas da violência. 

Publicidade