Por Kleber Tomaz, G1 SP — Osasco


Polícia analisa câmeras para saber se cão sofreu maus tratos na Grande SP

Polícia analisa câmeras para saber se cão sofreu maus tratos na Grande SP

O cachorro que gerou comoção e indignação nas redes sociais ao aparecer ferido e sangrando em vídeos e fotos no supermercado Carrefour de Osasco, na Grande São Paulo, na semana passada, morreu em decorrência de um choque hipovolêmico, ou choque hemorrágico, segundo depoimento à Polícia Civil, a veterinária da prefeitura que o atendeu e tentou salvá-lo.

A Delegacia de Polícia de Investigações Sobre o Meio Ambiente instaurou inquérito para investigar se o cão abandonado, conhecido como Manchinha, foi vítima de crime de maus-tratos a animais. Também são apuradas as prováveis causas e eventuais responsabilidades pela morte dele.

A médica, que seria funcionária do Departamento de Fauna e Bem-Estar Animal de Osasco, informou à investigação policial que o choque hipovolêmico é uma das principais causas de morte entre vítimas de traumatismos causados por acidentes ou quedas. Nesse caso, ocorre uma diminuição do fluxo sanguíneo, levando à falência do sistema circulatório.

A reportagem não conseguiu localizar a especialista para comentar o assunto, nesta quinta-feira (6). Por conta da repercussão do caso, a delegada Silvia Fagundes não está dando mais entrevistas sob a alegação de que isso pode atrapalhar a investigação.

Cachorro é envenenado e espancado em supermercado, dizem ativistas — Foto: Reprodução/Facebook

A reportagem apurou, no entanto, que a veterinária deverá ser chamada novamente pela polícia para esclarecer dúvidas que os investigadores ainda têm sobre o que causou esse sangramento em Manchinha.

A delegacia especializada quer saber da médica, por exemplo, se a hemorragia pode ter sido provocada por uma agressão, agravada por um sufocamento, possibilidade de envenenamento ou eventual atropelamento. E ainda se foi ocasionada pela soma de um ou mais desses acontecimentos.

Vídeos e fotos

Câmeras de segurança do Carrefour, vídeos e fotos registrados por celulares de clientes e funcionários do supermercado gravaram o momento em que um segurança particular do estabelecimento comercial usa uma barra pontiaguda, que seria de ferro ou alumínio, para espantar Manchinha do estacionamento do local.

Testemunhas contaram a ativistas ligados a defender animais que o segurança feriu o cão com a ponta da barra, provocando um corte na pata esquerda dele. As câmeras do supermercado não flagraram essa agressão relatada pelas pessoas, mas pegaram o instante em que Manchinha volta mancando e sangrando.

Vídeos feitos por quem estava no local ainda registraram funcionários do Departamento Animal de Osasco usarem uma enforcadeira para laçar o pescoço do cachorro. Eles estavam resgatando o animal para leva-lo à unidade da prefeitura. Mas nas imagens é possível ver o bicho se debatendo e depois desmaiando.

Boletim de ocorrência informa que Manchinha teve sangramento e depois parada respiratória, indo a óbito — Foto: Reprodução/Polícia Civil

Veterinária

Levado ao Departamento Animal, Manchinha foi atendido pela veterinária que prestou depoimento à polícia. Antes, no boletim de ocorrência do caso, registrado na Delegacia do Meio Ambiente, foi informado que Manchinha chegou “desfalecido e agonizando” à unidade prefeitura, sendo “diagnosticado” com “hemorragia digestiva alta”.

Posteriormente, após “manobras de reanimação”, o cão “apresentou parada respiratória” e veio “a óbito”, quase três horas após ter sido resgatado.

Como o animal foi cremado na sequência em Mauá, outra cidade da Grande São Paulo, não foi possível fazer o laudo necroscópico dele. Por esse motivo, a médica que o atendeu terá de ser ouvida novamente para esclarecer alguns pontos que a investigação tem dúvidas. Também há relatos de testemunhas de que o cachorro teria sido envenenado ou até mesmo atropelado.

Além de analisar as câmeras de segurança e fotos do caso Manchinha, que foram amplamente divulgadas e compartilhadas na internet e em aplicativos de celulares por ativistas, a delegacia busca mais vídeos que possam ter gravado o momento que testemunhas relataram ter ocorrido a agressão do segurança ao bicho.

Polícia de Osasco, em São Paulo, intima suspeito de ter agredido cachorro em supermercado

Polícia de Osasco, em São Paulo, intima suspeito de ter agredido cachorro em supermercado

Carrefour

Por meio de nota enviada à imprensa, o Carrefour informou que afastou o segurança que aparece espantando Manchinha com uma barra. A polícia ainda negocia com o advogado dele um dia para que possa prestar esclarecimentos sobre o caso.

O supermercado ainda comunicou que “reconhece que um grave problema ocorreu em sua loja de Osasco” e que a “empresa não vai se eximir de sua responsabilidade”.

“Estamos tristes com a morte desse animal, pois já era considerado um mascote por alguns colaboradores”, informa outro trecho da nota do Carrefour. Manchinha ficava no estacionamento do Carrefour, onde era alimentado por clientes e funcionários. Era considerado um cão dócil.

Postagem de ativista nas redes sociais relata que cachorro foi espancado e envenenado por funcionário de unidade do Carrefour — Foto: Reprodução/Facebook

Prefeitura

Também por nota, a prefeitura de Osasco informou que fez o Departamento Animal fez o procedimento padrão para recolher Manchinha.

“O manejo foi realizado por um oficial de controle animal qualificado e o animal foi encaminhado ao departamento para atendimento emergencial”, informa o comunicado da administração pública.

“O animal deu entrada consciente no departamento em decúbito lateral (deitado de lado), mucosas anêmicas, hipotensão severa (pressão baixa), hipotermia intensa, hematêmese (vômito com sangue) e escoriações múltiplas”, informa outro trecho da nota. “Apesar do tratamento instituído, o animal veio a óbito”.

MP investiga morte de cachorro em Osasco, SP

MP investiga morte de cachorro em Osasco, SP

Ministério Público

O Ministério Público (MP) de Osasco também instaurou inquérito para acompanhar a investigação policial. O caso está com o promotor Marco Antônio de Souza, que, segundo a assessoria de imprensa do MP, ainda não quer comentar o assunto porque "o inquérito Civil instaurado está na fase inicial."

O artigo 32 da Lei número 9.605/98 de Crimes Ambientais pune quem pratica ato de abuso a animais. São enquadrados nesse item quem fere ou mutila animais domésticos, silvestres, nativos ou exóticos. Quem for condenado pode receber pena de detenção de três meses a um ano, além de multa.

Manchinha morreu em unidade da prefeitura de Osasco — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1