Edição do dia 22/05/2018

22/05/2018 22h19 - Atualizado em 25/05/2018 17h09

Renato Augusto leva Maracanã tatuado no corpo junto com o Cristo

Ele saiu da Tijuca, mas a Tijuca não sai dele nem na China. Barzinho do bairro carioca tem na parede a camisa do meio-campo do Beijing.

Na série especial de reportagens sobre os jogadores do Brasil na Copa, Tino Marcos apresenta Renato Augusto.

Mora longe, mas levou alguns bens do Brasil.

“Eu tenho o calçadão e o cristo tatuados”, diz Renato.

E tem mais.

“Eu tenho o Maracanã”.

O Maracanã. Em Pequim, na China, é no braço que ele fica. Na Tijuca, é no berço.

“Eu fui muito ao Maracanã. A pé, não dava nem cinco minutos. Ia assistir qualquer jogo, e eu sempre passava por ali e falava: ‘cara, ainda vou jogar aqui, e eu vou ser feliz’, conta Renato.

Renato Augusto, meio-campo do Beijing, da China, para sempre, tijucano.

“Você pode tirar a pessoa da Tijuca, mas não tira a Tijuca da pessoa”, diz a mãe de Renato, Salete.

“Tijuca Futebol Clube. Tijuca”.

A dois quilômetros do Maracanã, na Zona Norte do Rio, o encontro tijucano de sempre é entre amigos de infância, no bar do Dimitri. Todo mundo lá. Até o Renato Augusto, encostado na parede, e a camisa dele, da seleção, também na parede. Todos, amigos de longa data. Moravam no mesmo condomínio do Renato.

“Renato não, Renatinho”.

Renatinho cresceu e virou profissional do Flamengo aos 18 anos. Aos 20, Europa: quatro temporadas no Bayer Leverkusen da Alemanha. E aí, Corinthians e sentimentos em conflito.

“Eu ia no Corinthians, aí fazia grandes jogos e todo mundo falava: ‘ah, o Renato’. Ai, eu machucava de novo. Não é possível, cara, não é possível. ‘Eu vou ter que ir embora’, eu falei. Uma hora eu chamei o Bruno e falei: ‘Bruno, vou buscar um mercado alternativo, só para o Corinthians poder recuperar uma parte do que investiu”, conta Renato.

Bruno Maziotti, então fisioterapeuta do Corinthians.

“A gente precisava de tempo para resetar essa máquina; pouca gente acreditava e ele mesmo também tinha suas dúvidas”, diz Bruno.

“Tu está maluco, rapaz. Tu vai voltar pra seleção”, afirmou Bruno. Falei: ‘Bruno, que isso?”.

Que isso? Título brasileiro com o Corinthians, em 2015; melhor jogador da competição, e seleção brasileira. A máquina foi resetada.

Ao longo da carreira, seis cirurgias.

“Ele tem 11 parafusos”, conta Salete.

“De joelho, três; e de rosto mais três. Eu falo: ‘então está empatado, ninguém pode me arrumar problema aqui, pelo amor de Deus”, diz Renato.

Há dois anos, é meio-campo do Beijing. Acostumado à vida na imensa capital da China.

É longe. Quando na China é dia, no Brasil é noite. Mais de 16 mil quilômetros. Mas a rotina do Renato Augusto não é feita de longos engarrafamentos e grandes distâncias porque mora perto de onde treina e porque, sobre duas rodas, ou duas rodinhas, fica tudo bem mais fácil.

Ir de chinelo para o trabalho, a bordo de um patinete elétrico e com o maior contrato da carreira. Nada mau.

Problema? Longe à beça de casa porque, como sabemos:

“Maracanã é um lugar muito especial para mim, muito especial”, diz Renato.

Em 2006, era do time Sub-20 do Flamengo. O time principal estava na decisão da Copa do Brasil, e ele não perderia um jogo desse, na arquibancada.

“Eu tinha ingresso para final, eu parei na fila”, conta Renato.

Mas, dias antes do jogo, um dirigente informou que ele iria treinar com os profissionais, e acabou sendo escalado, aos 18 anos, numa decisão.

“Eu jogava para minha mãe, para o meu pai e dois periquitos, no máximo, ali nos juniores. ‘O que que eu estou fazendo aqui, cara?”, se perguntava Renato.

“Meu susto foi quando eu vi que ele estava com a camisa 10, aí eu comecei a tremer”, diz Salete.

“Comecei a suar, e eu entrava no banho, meu Deus do céu, vou jogar no Maracanã com a 10 do Zico”, diz Renato.

O Flamengo superou o Vasco. Campeão da Copa do Brasil.  Dez anos depois...

“No hino eu já estava chorando”, diz Renato.

Era Renato, o Renatinho da Tijuca, no Maracanã. Para disputar a final olímpica contra a Alemanha. Em 120 minutos, um a um.

‘A gente já tinha jogado os 90, mais a prorrogação. E eu já não tinha mais perna, mas falei: ‘eu tenho que bater o pênalti”, lembra Renato. 

“Eu saí, eu fiquei muito nervosa”, diz Salete.

“Pênalti: aquilo ali é para matar um do coração, cara”, diz o amigo Dimitri.

Renato e Neymar para abrir e fechar a lista dos cobradores.

“Falei: ‘os deuses do Maracanã não vão fazer isso comigo. Nasci aqui, fui criado aqui, não vão fazer isso comigo. Hoje é o dia, não vai fugir daqui”, diz Renato.

Faltavam mais quatro cobranças brasileiras.

“Quando o Neymar bateu o último pênalti, eu não tive força para correr, eu caí no mesmo lugar”, lembra Renato.

O Renatinho da Tijuca.

O Romeu nasceu em janeiro. Filho de Renato e Fernanda: paixão e admiração.

“Como pessoa, como amigo, como filho, como marido”, elogia Fernanda, esposa de Renato.

Campeão olímpico, realizado economicamente, jogador da seleção numa Copa do Mundo. Enfim...

“Sou um cara feliz, cara”, diz Renato.

Só?

“Muito feliz!”.

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