No meio do caminho tinha um muro. Um, não: dois. Só que um era bonito. Já o da escola que a Nika frequentava estava pichado. Os vizinhos também sentiam a rua mais triste.

“Era horroroso, um muro comum, um muro feio”, disse um morador.

E foi desse incômodo geral e de um pedido irresistível que veio a ideia.

“Eu queria um muro bonito”.

“A oportunidade surgiu quando a minha filha mais nova foi fazer um ano. E a gente já tinha até cotado para fazer um aniversário para ela. Só que aí, de repente, veio a luz. E a gente pensou: ‘Ah, por que a gente não usa esse dinheiro para fazer um bem, um presente mais especial?’”, contou Alysson Kudo, pai da Nika e da Lira.

Em 20 dias, o muro maltratado ganhou tinta branca, depois vieram as cores, os bichos, os personagens do Nordeste. Tema sugerido pelo artista contratado para a transformação que mexia com quem passava.

“O pessoal se identificou muito com esse trabalho, porque ele conversa com a cidade de São Paulo e com essas pessoas que vieram do Nordeste fazer nessa cidade grande. Então, eles se veem representados nesse mural”, explicou o artista plástico Reynaldo Berto.

E foi assim que o que existe para separar, para dividir, acabou criando uma conexão amorosa entre um pai e suas filhas, entre os vizinhos, entre adultos e crianças, entre os saberes da região e os que vêm de longe.

Os gritinhos de alegria, as palavras de agradecimento.

Virou o muro das revelações.

A pequena Nika perdeu a festa de aniversário, mas parece que adorou o presente que o pai acabou dando para a escola dela e para tanta gente.