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Ativistas iniciam série de protestos contra premiação a Bolsonaro em NY

Manifestantes se reunirão diariamente na porta do hotel onde está marcado o evento; patrocinadores retiram apoio
Jair Bolsonaro foi escolhido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos para recebera a honraria de "Pessoa do Ano", em uma cerimônia de gala marcada para 14 de maio. O espaço reservado para o evento foi o Museu de História Natural de Nova York Foto: MAURO PIMENTEL / AFP
Jair Bolsonaro foi escolhido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos para recebera a honraria de "Pessoa do Ano", em uma cerimônia de gala marcada para 14 de maio. O espaço reservado para o evento foi o Museu de História Natural de Nova York Foto: MAURO PIMENTEL / AFP

SÃO PAULO —  Doze grupos de ativistas ligados ao meio ambiente e à causa LGBT iniciam nesta terça-feira uma série de protestos diários contra a premiação que Jair Bolsonar o receberá em Nova York. O objetivo dos coletivos é constranger o hotel Marriott Marquis a não receber, no dia 14 de maio, o evento da Câmara de Comércio Brasil- Estados Unidos, onde Bolsonaro será homenageado como “personalidade do ano” juntamente com o secretário de Estado Mike Pompeo, e as empresas que apoiam o evento.

O jantar de gala já está marcado de polêmicas, depois que o Museu Americano de História Natural e o tradicional restaurante Cipriani Hall desistiram de receber o evento da Câmara. No episódio, o prefeito da cidade, Bill de Blasio, chegou a dizer que Bolsonaro não era “bem-vindo” à Nova York e o presidente brasileiro disse que receberá a honraria “nem que fosse na praia”.

—  O que queremos é constranger o hotel a não receber o evento, bem como pressionar os patrocinadores e participantes desta premiação — afirmou James Green, brasilianista e professor da Brown University.  —  Temos muitos grupos mobilizandos. Em outros atos em visitas de presidentes brasileiros eram sempre três ou quatro grupos, formados majoritariamente por brasileiros. Agora, além destes temos nove organizações americanas.

Segundo Green, os grupos protestam contra Bolsonaro por suas políticas, posições e falas contra o meio ambiente, gays, negros, indígenas e os direitos humanos. Ele afirmou que, no passado, um evento chegou a ser cancelado em San Diego depois que um hotel decidiu não dar guarida a uma organização contra os direitos dos gays. Entretanto, ele acha que será difícil o hotel cancelar a premiação, devido às altas multas nestes casos.

—  A imensa maioria dos americanos não acompanha a política brasileira, mas sabe, por notícias quase que diárias no New York Times, Washington Post e Guardian, entre outros, de suas ações. Está claro que ele é muito pior (para os direitos humanos e o meio ambiente) que (o presidente americano Donald) Trump —  disse o professor.

Ele afirma que estão esperando a possibilidade de protestos a favor do evento e de Bolsonaro, mas afirma que isso deve ocorrer de forma democrática e sem violência. Ele contou que conta com o apoio de um senador estadual contra o evento na cidade — Brad Hoylman —  e que os parlamentares americanos estão cada vez mais atuantes contra as políticas de Bolsonaro.

—  Estamos finalizando mais um abaixo assinado contra as políticas de Bolsonaro com os afrodescendentes e indígenas, que será publicado na quinta-feira — adiantou.

Até o fechamento desta edição a Câmara de Comércio não se pronunciou sobre as polêmicas da homenagem e a possibilidade de protestos. O hotel também não respondeu às ligações da reportagem até a publicação desta notícia.

Apesar disso, a pressão começa a incomodar as empresas patrocinadoras do evento. De acordo com a rede de TV americana CNN, a companhia aérea Delta Air Lines e pelo menos outra empresa, a consultoria Bain & Company, anunciaram nesta terça-feira a retirada de seu patrocínio à homenagem a Bolsonaro. Segundo a CNN, a Delta não fez comentários além de confirmar a decisão, mas a Bain emitiu comunicado explicando que "encorajar e celebrar a diversidade" está entre seus "princípios básicos".

Mas cedo, a também rede de TV americana CNBC informou que o diário econômico Financial Times também decidiu retirar seu apoio ao evento. Outros patrocinadores incluem instituições financeiras como o Bank of America Merrill Lynch, Bank of New York Mellon, BNP Paribas, Citigroup, HSBC, JPMorgan, UBS, Credit Suisse e Morgan Stanley. À CNN, o Bank of America, Credit Suisse e Mellon se recusaram a comentar sobre sua participação. Já os demais não responderam aos pedidos de comentários da emissora.

A escolha de Bolsonaro como personalidade do ano gerou constrangimentos dentro da própria Câmara. Um grupo de empresários avaliou que a eleição do novo presidente não se justificaria, devido ao pouco tempo de mandato, onde o presidente não havia tido tempo de mostrar suas realizações, e pela questão ideológica do presidente, que seria, em seu entender, contrário a temas caros aos americanos que compõe a Câmara, como a tolerância e o multilateralismo.

O fato de Bolsonaro ser o primeiro presidente em exercício a receber a honraria também gerou temores de politização da Câmara, criada para facilitar negócios entre os dois países.

Em nota, a rede Marriott afirmou que está atenta aos protestos, avisou a polícia sobre as manifestações e que respeita a liberdade de expressão. "Fomos informados da possibilidade de manifestantes. A polícia foi notificada e está preparada para ajudar se a situação assim necessitar. Embora respeitemos o direito de todos expressarem sua opinião, trabalharemos para minimizaros impactos em nossos hóspedes e das operações do hotel. Até hoje, apenas um pequeno grupo protestou em frente ao hotel", disse a empresa ao GLOBO por e-mail.