Em um país tão diverso e desigual como o Brasil, buscar o desenvolvimento sustentável significa olhar ao mesmo tempo para as enormes carências da população, para o esforço de retomada da economia e para o desafio de atender às necessidades do presente sem comprometer as próximas gerações. Essas são algumas das direções apontadas por especialistas em sustentabilidade durante o seminário Brasil Futuro, promovido pelo GLOBO no último dia 21, com patrocínio da MRV Engenharia.
– O futuro do Brasil passa pela sustentabilidade. Garantir às pessoas o direito à saúde, educação, cidadania plena, segurança, moradia e saneamento básico é um dever de todos – afirmou o diretor do Instituto MRV, Raphael Rocha Lafetá.
A participação do setor empresarial tem sido fundamental para o avanço dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) reunidos na Agenda 2030, um plano de ação firmado em 2015 pelos 193 países-membros da ONU. O segmento privado assumiu papel de liderança ao desenvolver ferramentas e estudos que aproximam o mundo corporativo da construção de um novo modelo econômico e social mais sustentável.
– Pensar de forma sustável é um caminho sem volta para a atividade empresarial. É um desafio construir de forma sustentável diante de tanta diversidade no Brasil. A MRV não faz simplesmente a casa própria, ela não é o fim da nossa responsabilidade. É através da casa própria que nossos consumidores e nossa sociedade vão construir uma sociedade melhor – ressaltou Lafetá.
Objetivo urgente
Entre 2016 e 2017, o Brasil interrompeu um ciclo de 15 anos de redução da desigualdade. Nesse mesmo período, o número de pobres passou de 13,3 milhões para 15 milhões e, pela primeira vez em 23 anos, a proporção da renda das mulheres em relação aos homens teve um retrocesso. Já a renda média da população negra em relação aos brancos está estagnada há sete anos.
Por esses e outros motivos, a redução das desigualdades é considerada pelos especialistas o mais importante entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU. Os números do relatório da Oxfam Brasil reunidos no estudo "Brasil, o país estagnado" foram levados ao encontro pelo diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri.
– A redução das desigualdades no Brasil aconteceu de forma lenta e agora parou – alertou Magri.
Novas cidades possíveis
Com 85% da população brasileira vivendo em áreas urbanas, as cidades deveriam ter papel de protagonismo nas discussões sobre desenvolvimento sustentável. A concentração de recursos e de poder de decisão, porém, são os principais entraves na busca por soluções para os típicos problemas dos grandes centros, como mobilidade e saneamento, alertam especialistas.
– As cidades enfrentam problemas que não são novos, mas ganharam escala e complexidade no século XXI. Há uma necessidade extrema de descentralização e compartilhamento do poder – afirmou Rodrigo Perpétuo, secretário-executivo do ICLEI América do Sul, rede global que reúne 1.500 governos locais para discutir o tema.