Brasil Educação

Professores e alunos de universidades federais fazem campanha contra corte de verba pelo MEC

Reação contra bloqueio do MEC e declarações do ministro da Educação se espalham pelos campi e pelas redes sociais
Pesquisadores da UFBA, uma das universidades acusadas pelo ministro da Educação como fonte de 'balbúrdia', protestam contra o corte de verbas Foto: Arquivo pessoal
Pesquisadores da UFBA, uma das universidades acusadas pelo ministro da Educação como fonte de 'balbúrdia', protestam contra o corte de verbas Foto: Arquivo pessoal

RIO — Alunos e professores das principais universidades federais do país iniciaram uma campanha nas redes sociais contando as dificuldades encontradas por eles nas instituições.

A hashtag #oquevinauniversidadepublica traz depoimentos de alunos, ex-alunos e professores sobre a falta de insumos, aulas canceladas por falta de luz, interdição de banheiros e de outras dependências por alagamento, entre outros problemas.

A iniciativa é uma resposta ao anunciado bloqueio de 30% da verba das universidades federais pelo governo federal a partir do próximo semestre.

A medida foi anunciada pelo Ministério da Educação na última terça, após o ministro Abraham Weintraub afirmar que o corte ocorreria em universidades que não apresentassem "desempenho acadêmico esperado" e que promovam eventos com " balbúrdia " em suas instalações.

De início, segundo Weintraub, três universidades teriam os repasses reduzidos: a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA). A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, estaria sob avaliação. Mais tarde, o corte foi estendido a todas as universidades federais do país.

Fernanda Vergara, mestranda em Fisiologia na UFPR, protesta contra as críticas do ministro da Educação e o corte de verbas acadêmicas Foto: Arquivo pessoal
Fernanda Vergara, mestranda em Fisiologia na UFPR, protesta contra as críticas do ministro da Educação e o corte de verbas acadêmicas Foto: Arquivo pessoal

Formada em Biomedicina e mestranda em Fisiologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernanda Vergara precisa estar presente no laboratório da universidade por 14 dias seguidos, por conta do projeto que participa — um estudo sobre como a dopamina (um neurotransmissor) e a dinorfina (um opioide endogeno) estariam interagindo no núcleo accumbens no processo de cronificação da dor (quando ela deixa de ser aguda e se torna crônica).

A estudante conta que, em 2015, por conta de uma queda de luz e da falta de um gerador de energia, vários insumos e materiais foram perdidos, comprometendo, no mínimo, dois meses de uma pesquisa sobre ingestão de agrotóxicos por algumas espécies animais.

— Desde a minha graduação eu vejo uma série de problemas estruturais, justamente pelos baixos valores que são repassados: falta papel nos banheiros, produtos de limpeza, ar-condicionado em algumas salas e muitas outras coisas. No caso dos estudantes, as bolsas pagas, por vezes, cobrem apenas gastos com mobilidade e alimentação — conta Fernanda, afirmando ainda não ter cobertura de seguro de saúde, mesmo trabalhando em ambiente insalubre.


#5diasdebalburdia

O professor Silvio Cunha, do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA), lançou a campanha “Cinco dias de balbúrdia na universidade brasileira” (#5diasdebalburdia), propondo a professores e alunos compartilharem a capa de uma produção acadêmica de sua autoria “para mostrar para todos nós o tamanho da balburdia que fazemos”.

O próprio Silvio compartilhou o registro de uma patente criada em seu laboratório, sobre aplicação de moléculas fluorescentes como marcadores para identificação de adulteração de combustíveis.

Uma publicação em que Silvio e seu grupo de pesquisa aparecem com um cartaz em que está escrito “fazendo balbúrdia no laboratório 502 do Instituto de Química da UFBA, em 01/05/2019”, referindo-se ao trabalho de pesquisa realizado durante o feriado, já teve mais de 13 mil compartilhamentos nas redes sociais.