Por Bruno Oliveira*, G1 Campinas e Região


Professor da Unicamp interage com boneco Joaquim em vídeos de matemática na web

Professor da Unicamp interage com boneco Joaquim em vídeos de matemática na web

Um professor da Unicamp encontrou uma maneira descontraída de ensinar matemática na internet. Com a "ajuda" de Joaquim, um simpático boneco de pano, Régis Varão produz vídeos onde explica cálculos, fórmulas e conceitos de forma simples e divertida, tudo para atrair a atenção de alunos que sentem dificuldade em assimilar a disciplina. "Eu queria que a matemática chegasse às pessoas", afirma.

Varão e o "pupilo" Joaquim já protagonizaram nove vídeos no primeiro mês de vida do canal "Fantástico Mundo Matemático", onde abordam temas como Faixa de Möbius, Topologia e Teoria dos Nós. O mais acessado deles, ultrapassou a marca de 3 mil visualizações.

Antes de criar o canal, o professor passou meses amadurecendo a ideia. Aprendeu a editar os vídeos sozinho e utiliza as madrugadas de sábado, um dos poucos momentos que tem livre fora do ambiente universitário, para gravar o conteúdo semanal. Em um estúdio improvisado em casa, usa o celular como câmera.

"Eu achava que a ideia era legal, mas uma coisa é você achar e outra é testar e ver no que vai dar."

Varão ressalta que sempre sonhou em transmitir conhecimento fora das portas da universidade. Antes de criar o canal no YouTube, pensou em escrever um livro, mas abandonou a ideia por achar que a didática não seria tão boa.

Professor de matemática da Unicamp, Regis Varão e seu pupilo Joaquim — Foto: Bruno Oliveira/G1

Joaquim

Bem humorado, o professor brinca que precisou fazer algumas audições para escolher o melhor parceiro de filmagem. "Bronquinha" e "Sócrates" foram testados antes do menino de pano Joaquim aparecer. Os dois não se encaixaram por não passarem nos pré-requisitos estipulados por Varão.

"Aí apareceu o Joaquim e ficou assim, ele foi convocado pra estar ali... ele fez o teste né?", diz, entre risos.

De acordo com Varão, a presença de Joaquim na telinha traz mais dinâmica aos vídeos, uma vez que somente um "professor de matemática falando sobre matemática não soaria tão original".

Para atrair atenção do público, ele mantém uma página do canal em uma rede social onde interage com os espectadores para tirar dúvidas e qualificar o conteúdo das aulas veiculadas na web, além de criar piadas relacionadas ao tema do último vídeo publicado utlizando a imagem de Joaquim.

Joaquim interage com o público por meio de piadas na web — Foto: Bruno Oliveira/G1

'Ninguém aprende nada de primeira'

Como professor, Régis defende que nem todo mundo tem facilidade em assimilar os temas matemáticos. Porém, acredita que quem assiste aos vídeos, com conteúdo simplificado, pode se interessar e dar continuidade aos estudos. "Isso passa uma ideia muito boa, ajuda a desmistificar aquilo de que quem tá fazendo matemática precisa pegar tudo de uma vez", explica.

"Isso faz uma diferença muito grande na vida da pessoa. A vida é relativamente igual para todo mundo, está todo mundo tentando aprender".

Régis afirma que o objetivo do canal não é transformar quem assiste em matemático. A ideia é transmitir fundamentos necessários para o aluno "se dar bem no conteúdo" e fazer com que a disciplina seja vivenciada por quem não se sente confrotável em uma sala de aula.

Varão reforça que muito daquilo que é estudado em matemática veio de cientistas que viveram há muitos anos, e o que acontece é acúmulo de conteúdo com o passar do tempo.

"Se um médico fizer um procedimento que se fazia há 30 anos ele pode ir preso, mas isso não acontece na matemática porque aquilo que foi estudado 300 anos de Cristo, os alunos veem hoje", afirma.

Recepção calorosa

A recepção do canal no meio acadêmico foi tão grande que o professor ficou surpreso. "Os alunos chegaram e falaram 'você tá famoso, hein? Todo mundo tá falando do canal!', porém eu ainda não tenho muita noção do quanto isso tem atingido as pessoas", garante.

Assim que publicados, os vídeos foram compartilhados por instituições de matemática, como a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Os colegas de profissão divulgaram o canal para seus alunos e outros acadêmicos, criando uma rede de compartilhamento que atingiu pessoas de outros estados do país.

"Fiquei extremamente surpreso porque deu supercerto, a comunidade acadêmica matemática aceitou isso plenamente", festeja.

O próximo passo, avisa Varão, é chegar aos alunos do ensino médio, o público-alvo definitivo do canal.

Página da Sociedade Brasileira de Matemática ajudou na divulgação do canal "Fantástico Mundo Matemático" — Foto: Reprodução/Facebook

Projetos futuros

Mesmo que algumas vezes a relação entre os temas gravados pelo professor sejam parecidos com os abordados em aulas na Unicamp, as duas atividades se mantêm distantes uma da outra. Régis não utiliza os vídeos em classe, mas com o passar do tempo, pretende montar grupos de estudos para selecionar o que vai falar em seu canal e, até mesmo, contar com a ajuda de alunos para editar e produzir os vídeos.

O professor brinca que aprender a fazer vídeos mais profissionais e até mesmo com efeitos especiais. "Eu até gostaria que fizesse um 'ba bum tum', explodir as coisas... mas não sei se é possível", completa.

*Sob supervisão de Fernando Evans

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