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Por Jornal Nacional


No Rio sob tempestade, gestos de solidariedade dão amparo e conforto

No Rio sob tempestade, gestos de solidariedade dão amparo e conforto

No meio do caos em que o Rio de Janeiro mergulhou no temporal de segunda-feira (8) à noite, houve desespero, houve lágrimas e muitas ações espontâneas de solidariedade.

Tinha tudo para ser um pesadelo. Mas a loja de colchões apagou a luz e garantiu uma noite tranquila para os clientes que não conseguiram sair do shopping. Uma família com duas crianças ficou pelo corredor. Nem por isso perdeu o sono, também coberta pela generosidade.

Em cada canto da cidade uma virtude: a coragem diante da correnteza, iniciativa do motorista que ajudou a desatar um nó no trânsito, o companheirismo dos vizinhos que ouviram os gritos de quem ficou preso dentro de casa.

“Eu comecei a gritar socorro na janela e a minha vizinha ouviu e conseguiram entrar pelo muro que caiu. Foi quando a luz acabou e eles conseguiram ajudar a gente a sair”, conta a estudante Patrícia Nóbrega.

Momentos gravados para sempre: o esforço de quem carregou uma criança. A estilista Mariana Santiago teve de socorrer 40. Eram meninos e meninas de 7 anos, que seguiam num ônibus da escola para a festa de aniversário dos filhos dela.

“Chovendo multo, trovoando, para atravessar, elas estavam muito nervosas queriam ir ao banheiro, queriam comer, tudo ao mesmo tempo”, diz Mariana.

Enxugar, acalmar, alimentar e cuidar dos pequenos convidados no abrigo improvisado na marquise de um shopping.

Já perto da meia-noite, um gesto simples mudou tudo. A casa de espetáculos ao lado, abriu as portas. Em cartaz, um show de solidariedade. Um restaurante próximo mandou refeições. A festa infantil durou nove horas, até as 4h e, excepcionalmente, ninguém se incomodou quando o público dormiu na primeira fila.

Nesta quarta-feira (10), Mariana voltou para agradecer o espetáculo de gentileza.

“Não foi nada, estou espantado com a repercussão de uma coisa tão básica”, disse o empresário.

Para ajudar o próximo, muitas vezes é preciso tomar uma decisão rápida e surpreender. No bairro de Copacabana, a gentileza estava esperando os moradores na próxima esquina.

Com uma caixa de plástico, dessas de supermercado, Varlei Rocha Alves foi construindo uma ponte sobre a rua alagada. Ele é conhecido no bairro, onde trabalha há 20 guardando carros.

A outra personagem que aparece nas imagens é dona Anúzia, uma aposentada de 86 anos que mora perto. Nesta quarta, na mesma esquina, os dois se reencontraram e relembraram o momento do vídeo que chamou atenção nas redes sociais.

“Falei, pode vir, segura na minha mão que não vai cair não”, contou Varlei.

“Ele segurava na minha mão. Foi muito gentil. É difícil de se encontrar pessoas assim prestativas, ajudar as pessoas, não é mesmo”?

A passarela que o Varlei construiu pode ter sido improvisada. Já a explicação dele tem a solidez das lições que ensina para o filho de 10 anos.

“Acho que é assim que devemos ser, porque a gente pode precisar um dia, amanhã ou depois. Isso vem de inspiração de querer ajudar o próximo. Isso já vem de mim”.

Varlei se emociona quando o filho diz que tem orgulho dele por que ele é um homem honesto. Depois da cena de terça-feira (9), os moradores da vizinhança se emocionaram também e começaram a fazer uma vaquinha para que ele possa comprar uma casa própria.

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