Política

Bolsonaro diz que não disputará reeleição se Congresso fizer 'boa reforma política'

Líderes reagem à declaração e defendem que o presidente apresente ele mesmo uma proposta
Bolsonaro no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília Foto: Marcos Oliveira / Agência O Globo
Bolsonaro no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília Foto: Marcos Oliveira / Agência O Globo

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista à revista "Veja" publicada nesta sexta-feira, que desiste de tentar a reeleição, caso Senado e Câmara aprovem mudanças como a diminuição do número de parlamentares . Na entrevista, Bolsonaro disse que "se a gente fizer uma boa reforma política, eu topo ir para o sacrifício e não disputar a reeleição".

— Porque um dos grandes problemas do Brasil na política é a reeleição. O cara chega ao final do primeiro mandato dele, ou ele quer continuar no poder, que lhe deu fama e prestígio, ou ele quer continuar porque se o outro, o adversário, assumir vai levantar os esqueletos que ele tem no armário. Existe isso no Brasil. Então o meu caso é o seguinte: com uma boa reforma política, que diminuiria o número de parlamentares de 500 para 400, entre outras coisas mais, eu toparia entrar nesse bolo aí de não disputar a eleição — comentou Bolsonaro.

Para líderes de partidos na Câmara, o próprio presidente deveria apresentar uma proposta de reforma política ao Congresso.

— É muito difícil que um parlamentar vote contra um sistema que ele está acostumado. Há quatro ou cinco propostas diferentes de reforma política no Brasil e cada um defende a sua. Se o presidente tiver a ideia dele, deveria propor. Quem sabe assim não se vota algo — diz o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA).

O líder do Podemos, José Nelto (GO), diz que concorda com a redução de parlamentares e também defende que a proposta parta do presidente.

— É a frase mais prudente que ele falou desde que está à frente da presidência da República. Meu partido apoia totalmente, também nas assembleias e câmaras. Queremos fazer uma reforma geral, acabando com a reeleição e passando o mandato para cinco anos. Se ele fizer uma proposta dessa, o Congresso vai ficar com o povo ou contra o povo?

Parlamentarismo

À revista, Bolsonaro falou ainda sobre as discussões em torno de uma possível implantação do parlamentarismo no país, defendida por parte dos parlamentares:

— O parlamentarismo foi tentado duas vezes, se não me engano. É preciso realizar um plebiscito. O povo, no meu entender, não seria favorável.

Nelto é um dos defensores do sistema e diz que as discussões sobre ele não ameaçam o mandato de Bolsonaro.

— Sou parlamentarista porque o Brasil nunca esteve tão dividido entre direita e esquerda. Há ódio dos dois lados e não se pode governar com ódio. Tem que governar com paz. Está vergonhoso o Brasil viver de golpe e impeachment. Ninguém quer mexer no mandato dele. Aí é golpe. Seria para daqui a quatro anos — diz Nelto, acrescentando que, para ele, "não há a necessidade de um plebiscito para fazer a mudança".

Para o líder do Solidariedade na Câmara, Augusto Coutinho (PE), a questão sobre número de parlamentares é polêmica.

— Tem Parlamento de país mais desenvolvido que o nosso cujo o número de parlamentares, na relação por habitantes, é maior que o do Brasil. Então, há várias teorias divergentes sobre o número ideal.

Sobre reeleição, Coutinho concorda, mas lembra que a Câmara decidiu, em 2015, acabar com essa possibilidade para presidente da República, governadores e prefeitos. Porém, o projeto parou no Senado.

— E eu concordo com a reeleição. Eu fui um dos 19 deputados que votaram a favor. Acho legítimo o governante querer se reeleger — comenta.

Para Coutinho, um consenso sobre a reforma política ideal é difícil.

— Nunca existiu consenso no Parlamento para se ter maioria e considerar uma reforma mais substancial. O problema do Brasil é que a gente faz reforma pensando na próxima reeleição, por isso nada se avança. Uma reforma nesse formato está contaminada pelos congressistas que vão votar e avaliar seus próprios interesses, o que é natural de qualquer ser um humano.