Para começo de conversa, o óbvio (mas que muita gente tenta ignorar): não existe a possibilidade de não envelhecer. A trajetória humana compreende diferentes fases e a velhice é uma etapa a ser vivida como todas as outras. No entanto, o culto à juventude é tão forte que promessas para deter o curso do tempo são extremamente sedutoras – e perigosas. O Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu o uso das terapias antienvelhecimento no país em 2012, através de resolução que prevê até a perda do registro profissional para os médicos que prescreverem terapias com o objetivo específico de conter o envelhecimento. A resolução se baseou em extensa revisão de estudos científicos, que não comprovou evidências que justifiquem essa prática. Também reforça a limitação, imposta pelo Código de Ética de Medicina e em vigor desde 2010, que desautoriza o emprego de técnicas sem comprovação científica. O CFM ainda proíbe os médicos de anunciarem e prometerem resultados no combate ao envelhecimento.

 

A revista “Allure”, uma “bíblia” de beleza e estilo, já havia anunciado em sua edição de setembro que não utilizaria mais o termo antienvelhecimento. No editorial, um mea culpa: a mensagem que vinha sendo transmitida para suas leitoras era de que esta era uma condição que deveria ser combatida – assim como usamos varreduras antivírus no computador. A capa da publicação trazia a atriz Helen Mirren, famosa por assumir rugas e cabelos brancos sem perder o charme e o poder de sedução. Este é um segmento de mercado com expectativa de faturamento de 560 bilhões de reais em 2019 e ninguém é ingênuo imaginando que sofrerá um baque. Entretanto, terá que se acostumar com os novos tempos: velhice não é algo que demande cura!

 

Portanto, desconfie. Por exemplo, o uso de hormônios do crescimento para “rejuvenescer”, ainda mais quando o adulto não apresenta deficiência desse hormônio, pode aumentar o risco de câncer. A longevidade não é resultado de tratamentos, e sim da adoção de hábitos saudáveis que incluem exercícios, boa alimentação, sono adequado, além manter uma vida social ativa, como afirma o médico geriatra José Elias Soares Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia:

 

“O envelhecimento humano é uma conquista inquestionável. Ele resulta de avanços científicos e de saúde pública que tiveram início no século XIX, com desdobramentos que alcançam os dias de hoje. Na atualidade, é possível envelhecer de forma ativa com autonomia e funcionalidade. Medidas como abandonar o tabagismo, atividade física associada a uma dieta balanceada e com moderação no consumo de álcool, além do estímulo cognitivo desde a infância e a construção de uma reserva econômica para a velhice, possibilitam o melhor envelhecimento possível. Por outro lado, as terapias denominadas de antienvelhecimento, que empregam hormônios, vitaminas em doses altas e outros compostos, geram riscos para as pessoas que delas se utilizam e aumentam a probabilidade de câncer, demência e doenças cardiovasculares. São um engodo, a ilusão de uma ´fonte da juventude´, e condenadas veementemente pelo Conselho Federal de Medicina e pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. O envelhecimento nos impõe limitações com as quais é possível conviver de forma ora criativa, ora resignada, porém sempre com dignidade”.         

 

O geriatra José Elias Soares Pinheiro, presidente da SBGG

 


 

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