Educação

Por Mariane Rossi, G1 Santos


Estudantes criam impressora de baixo custo que transforma textos digitais em braile a partir de aplicativo — Foto: Divulgação/ETEC de Registro

Estudantes de Registro, cidade localizada no interior de São Paulo, criaram uma impressora que transforma textos digitais em braile. O equipamento, que foi desenvolvido com o intuito de propiciar maior inclusão social para pessoas com deficiências visuais, é feito com materiais de baixo custo. Por meio de um aplicativo, o texto é convertido e enviado para a impressora, que entrega os textos impressos em braile.

A impressora foi criada pelos jovens Victor Oussawa, Henrique Oliveira e Willian Pioker, todos com 17 anos e estudantes do Ensino Técnico de Informática Integrado ao Médio da Etec de Registro. A ideia surgiu de William, que compartilhou com os amigos. Juntos, eles resolveram criar o equipamento que virou tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

“Eu tinha uma máquina que desenhava em madeira. Pelo computador, eu mandava o desenho e ela fazia a impressão, como se fosse em 3D. Por isso, veio a ideia de fazer a impressora braile e começamos a desenvolvê-la”, conta.

O projeto foi iniciado e durou cerca de oito meses para ser finalizado. A estrutura da impressora é feita com madeira compensada, três motores e arduíno e uma placa de prototipagem eletrônica.

Impressora transforma textos digitais em aplicativo em textos em braile — Foto: Divulgação/ETEC de Registro

A impressora possuí três eixos que são movimentados por meio de uma barra. O primeiro eixo impulsiona a barra, o segundo é o responsável por criar o relevo da escrita braile e o terceiro puxa a folha para trás. O arduíno coordena todos os equipamentos. “Para fazer os pontos do braile, usamos a ponta de uma caneta para fazer o relevo. Embaixo da folha, utilizamos o EVA para que a ponta da caneta, quando encosta no papel, ela abaixe o papel e faça o relevo”, explica William.

Qualquer pessoa pode utilizar a impressora e não é necessário ter conhecimento sobre o braile para usar o equipamento. O usuário deve escrever o texto no computador ou em um aplicativo para celular. Um programa converte o texto para braile e faz a conexão com a impressora, que transforma e imprime o texto no papel.

Outra possibilidade é realizar a impressão por meio de comando de voz, alternativa prática e necessária aos deficientes visuais. “O nosso aplicativo foi adaptado para o modo acessibilidade do celular, que é o modo que os deficientes visuais utilizam no celular. Ele pode digitar o texto ou usar o modo de reconhecimento de voz. Ele pressiona um botão, detecta a voz do usuário e depois isso é convertido para texto. Ele envia e começa a realizar a impressão”, explica Vitor.

Para utilizar o aplicativo, o usuário ainda precisa ter um computador disponível, que fará a conexão entre o celular e a impressora. “Não necessariamente precisa do computador, ele é só um interlocutor, não é necessário manusear. Dá para fazer sem o computador, mas ainda não adquirimos o material, não chegamos nesse nível da pesquisa, já que é um protótipo de uma impressora. Usamos o computador só para fazer a interlocução.

Protótipo de impressora que transforma textos digitais em textos em braile — Foto: Divulgação/ETEC de Registro

Segundo os estudantes, um dos grandes diferenciais do aparelho é o custo. Para desenvolver a impressora, o grupo gastou apenas R$ 400. Atualmente, no mercado, o valor de um equipamento semelhante é em torno de R$ 10 mil.

“Eles quiseram desenvolver a impressora para tentar deixar uma forma mais simples e mais barata para que as pessoas que não tenham acesso ou não possam custear a impressora consigam fazer o seu uso. Como foi um trabalho acadêmico, o objetivo foi encontrar uma solução para um problema existente, a não inclusão de pessoas deficientes visuais”, disse o Ramon Alves Trigo, professor e orientador do TCC dos alunos.

“A gente sempre tentou pensar no próximo, na inclusão social dos deficientes. Professores em escolas, por exemplo, podem utilizar, pensando na educação dos alunos com deficiência visual. Pensamos no bem do próximo mesmo e não no lucro. Foi bom ter pensando assim. Tivemos a ideia no começo e fomos desenvolvendo durante o ano”, disse Henrique.

O projeto foi colocado em exposição na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que aconteceu em outubro, em Registro. O evento reuniu mais de oito mil pessoas e, segundo a organização, este ano bateu recorde de público. A impressora acabou despertando o interesse de muita gente que enxerga o equipamento como um facilitador educacional.

“Conseguimos um investidor e ele está querendo levar o nosso projeto para uma instituição de deficientes visuais que, no caso, é uma necessidade, é algo que eles precisam”, falou Wiliam. Para o professor, fica a certeza de estar formando profissionais e cidadãos. “Mostra que eles tem consciência e que eles estão utilizando conhecimento que eles tiveram no curso, usando a tecnologia para ajudar as pessoas no dia a dia”, finaliza.

Impressora foi apresentada em Semana Nacional, em Registro — Foto: Divulgação/ETEC de Registro

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