Política

Vídeo: imagens mostram privilégios para ala de Cabral na cadeia de Benfica

Relatório do MP-RJ cita 'diferença relevante' de tratamento para presos da Lava-Jato
Ex-governador e aliados circulavam livremente pelo presídio.
Ex-governador e aliados circulavam livremente pelo presídio.

RIO — Imagens das câmeras de segurança da Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) estava preso até ser transferido para Curitiba, mostram uma rotina de privilégios que só existia na ala onde o peemedebista ficou detido, na avaliação do Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ).

Os presos da ala C, a de Cabral e de outros envolvidos na Operação Lava-Jato, circulavam livremente por todo o presídio, o que não acontecia com os detentos da ala A — o espaço da galeria B está vazio. Há até um espaço, perto da ala C, que passou a ser chamado pelos promotores de "antessala", pelo cotidiano de encontros entre internos e agentes penitenciários.

"O exame comparativo das imagens revela diferença relevante no trânsito de pessoas nas galerias A e C tanto no que diz respeito aos agentes, quanto aos próprios presos e inclusive, em horários após o fechamento das celas às 18 horas. O fato de o portão não permanecer trancado, propicia aos presos da Galeria C acesso livre ao pátio", diz o relatório.

A análise das imagens também revelou a diferença nos padrões de entregas de alimentos e gelo entre a ala onde estava Cabral e as outras duas. Outro ponto verificado foi a facilidade com que os detentos da galeria C entravam com sacolas e pacotes nas celas.

Ao todo, 10.500 horas de vídeos foram analisados, referentes ao período em que ele esteve em Benfica e à estadia anterior, em Bangu 8. O relatório sobre as câmeras faz parte da ação civil pública em que os promotores acusam Cabral e gestores da Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap) de improbidade administrativa. Em função dos privilégios, a Justiça determinou o afastamento do titular da Seap, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, além de um subsecetário e dos diretores e subdiretores de Bangu 8 e Benfica.

A promotora Andréa Amin, coordenadora do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do MP-RJ, havia criticado, em entrevista coletiva na quinta-feira, o sistema de câmeras de Benfica — "tosco", segundo ela. No relatório, os peritos afirmam que o modelo seria adequado apenas para uso residencial, "sendo inadequado para o monitoramento eficiente de áreas com grande trânsito de pessoas e objetos".

O advogado de Cabral, Rodrigo Roca, já negou que o ex-governador tivesse acesso a regalias e informou que vai recorrer das decisões que determinaram a transferência para Curitiba.

Galeria A da ala onde Sérgio Cabral estava em Bangu Foto: Reprodução/O GLOBO
Galeria A da ala onde Sérgio Cabral estava em Bangu Foto: Reprodução/O GLOBO