Rio

Corpo de menino morto no Alemão é sepultado com pedidos de justiça

Pai da criança cobrou uma resposta das autoridades para o crime
Paloma debruçada sobre caixão do filho: dor e revolta Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Paloma debruçada sobre caixão do filho: dor e revolta Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

O corpo do menino Benjamim da Silva, de 1 ano 7 meses, foi sepultado nesta tarde no Cemitério do Maruí, no Barreto, em Niterói, com pedidos de justiça. A criança morreu com um tiro na cabeça, na noite de sexta-feira, durante uma troca de tiros entre bandidos e PMs em um dos acessos da Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão. Muito abalada, a mãe dele, Paloma Maria Novaes, de 29 anos, passou mal no momento de fechamento do caixão e precisou ser amparada durante o acompanhamento do cortejo. O pai Fábio Antônio da Silva, de 38 anos, cobrou uma resposta das autoridades para o crime.

— Eu pensava que meu filho tinha a liberdade de andar. Tinha um receio, mas se soubesse que ele poderia passar por isso, não teria passado. A gente que cresce na comunidade tem a malícia do sofrimento e consegue desviar das balas. Mas meu filho só tinha 1 ano e 7 meses. É uma criança que foi impedida de sonhar. A gente entrega nas mãos de Deus e espera que os órgãos competentes possam dar uma resposta.

Sem dinheiro para fazer o enterro, Fábio contou com a ajuda de uma pessoa, que preferiu se manter no anonimato, para custear as despesas. A compra da coroa de flores foi rateada durante o velório por um grupo de amigos de infância. Outras pessoas também ofereceram ajuda ao tomar conhecimento do drama da família.

O superintendente da Grande Inhaúma e Complexo do Alemão, Romildo Jucá, procurou a família durante o velório e disse ter sido enviado pelo prefeito Marcelo Crivella, que teria se colocado à disposição para prestar toda a assistência necessária aos familiares. Mais cedo, o pai do garoto havia se queixado de só ter sido procurado pela polícia, após o crime. Ele reclamou de não ter recebido apoio de nenhuma autoridade ou representante ou do poder público, dois dias depois de seu filho ter sido morto.

A mãe de Benjamim permaneceu ao lado do caixão do filho durante praticamente todo o tempo do velório. Ela também foi atingida pelos disparos. Paloma, que foi ferida no braço, que está enfaixado, e na barriga foi atendida no Hospital Estadual Getúlio Vargas na noite do crime e foi liberada em seguida.

Parentes e amigos reclamaram da forma como a polícia atua nas comunidades. O guarda municipal Flávio Neto, de 39 anos, amigo da família, criticou o confronto num momento em que havia diversas pessoas na rua.

— É preciso olhar para as pessoas de bem. Para instalar uma cabine blindada no Alemão morreram 14 pessoas inocentes e não mudou em nada a realidade local. Se tem bandido, tem também a população em volta. A vida de um inocente não vale a recuperação de cinco fuzis ou a prisão de um bandido. Política de segurança de só se confrontar não leva a nada. Morre bandida, polícia e inocente — criticou o rapaz.

Benjamin foi atingido por um tiro na cabeça, a caminho da casa da avó, na Favela Nova Brasília. Paloma havia saído de um ônibus momentos antes de começar o tiroteio. Ela contou que, após colocar o filho num carrinho de bebê, parou em frente a uma barraca para comprar algodão doce e, quando ouviu os tiros começou a correr, empurrando o carrinho. Só quando parou é que percebeu que a criança havia sido atingida.

O tiroteio fez outras vítimas, sendo mais três fatais, além de Benjamin: José Roberto da Silva, de 58 anos, que chegou a ser levado para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu; Maria Lúcia da Costa, de 58 anos; e um acusado de envolvimento no confronto. Outras sete pessoas ficaram feridas, incluindo três suspeitos.