Brasil

Combate à corrupção na Saúde é uma das principais cobranças da população, aponta pesquisa

Levantamento encomendado pelo CFM mostra a área como prioridade para 39% dos entrevistados

Pacientes esperam atendimento no ambulatório cheio do Hospital Miguel Couto, no Rio
Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo/28-11-2016
Pacientes esperam atendimento no ambulatório cheio do Hospital Miguel Couto, no Rio Foto: Márcia Foletto/Agência O Globo/28-11-2016

BRASÍLIA - Pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Medicina ( CFM ) ao Instituto Datafolha levantou as principais cobranças da população na área da saúde para os políticos que se elegerem neste ano: 26% pedem medidas de combate à corrupção no setor, 18% querem redução do tempo de espera por consultas , exames , cirurgias e outros procedimentos, 13% reivindicam mais fiscalização dos serviços e 11% querem construção de hospitais e postos de saúde.

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A saúde foi apontada como a área que deve ser prioridade máxima do governo federal por 39% dos entrevistados na pesquisa, acima de educação (29%), combate à corrupção (14%) e combate ao desemprego (14%). O anseio por um serviço melhor parece estar diretamente ligado à insatisfação com a estrutura atual: seis em cada dez usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) classificam o serviço como péssimo, ruim ou regular. Quando se trata da rede de saúde em geral, incluindo o sistema particular, o índice de reprovação é ainda maior: 89%.

Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo CFM. A pesquisa, que tem como um dos objetivos identificar a expectativa dos brasileiros em relação à gestão da saúde nos próximos anos, teve abrangência nacional e ouviu 2.087 pessoas – sendo 59% delas moradores do interior do país. Participaram homens e mulheres, de 16 anos ou mais, que responderam a um questionário estruturado. Segundo o CFM, a amostra é representativa da população brasileira.

Difículdade para conseguir consultas com médicos especialistas

Entre os serviços com mais barreiras de acesso no SUS, os entrevistados apontaram as consultas com médicos especialistas (74% consideram "difícil" ou "muito díficil" obter atendimento), cirurgias (68%), internação em leitos de UTI (64%), exames de imagem (63%), atendimento com profissionais não médicos, como psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas (59%), e procedimentos específicos (diálises, quimioterapia, radioterapia), com 58%.

A qualidade de 14 serviços prestados foi também medida na pesquisa. A pior avaliação ficou para o atendimento em pronto-socorro ou UPA (63% o apontaram como péssimo, ruim ou regular), consultas com médicos especialistas (60%), internações em leitos comuns (59%), consultas com médicos em posto de saúde (59%), atendimento em posto de saúde (58%), internação em leito de UTI (56%); e atendimento com profissional não médico (55%).

Entrevistados dizem que SUS deve ser mantido nos moldes atuais

Apenas três dos 14 serviços tiveram avaliações positivas superiores a 50%, com destaque para vacinas, considerado por 66% dos entrevistados como bom ou excelente. Apesar das críticas, 88% dos entrevistados defendem que o SUS precisa ser mantido nos moldes atuais: com acesso universal, integral e gratuito para os brasileiros. Nem por isso deixam de apontar falhas de gestão. Para 83%, os recursos públicos não são bem administrados e 62% acham que o SUS não tem gestores eficientes e bem preparados.

— A pesquisa converge com as críticas. O CFM trabalha com um tripé para a melhora desse quadro: financiamento mais adequado; controle e avaliação efetiva e mais competência. O conselho tem realizado pesquisas e nós esperamos que a sensibilidade política adequada cumpra a premissa de uma saúde de qualidade para todos — disse o presidente do CFM, Carlos Vital.

Outro dado destacado pelo CFM foi o aumento da demora no atendimento. Em 2014, segundo a entidade, uma pesquisa do mesmo tipo identificou que 29% dos entrevistados que haviam pedido exame, cirurgia ou consulta aguardavam a assistência após seis meses. Em 2018, esse percentual passa a ser de 45%. Entre os que esperam há mais de 12 meses, a proporção saltou de 16% dos entrevistados para 29%, de 2014 a 2018, apontou a entidade.