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Partiu ‘dutão’: viadutos do Rio viram centros culturais

Moradores transformam vãos ociosos em espaços com programação integrada em 2016

Todas as terças-feiras acontecem sob o viaduto de Realengo atividades culturais como aulas de grafite, batalha de rimas e trocas de livros.
Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo/ Daniel Marenco
Todas as terças-feiras acontecem sob o viaduto de Realengo atividades culturais como aulas de grafite, batalha de rimas e trocas de livros. Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo/ Daniel Marenco

A relação do Rio com seus viadutos nunca foi muito bem-resolvida — ora constroem-se novos, ora derrubam-se velhos. Hoje existem 57 deles na cidade, segundo o instituto Pereira Passos (IPP). Embora sejam úteis para desafogar o trânsito, ainda é difícil ter empatia por aqueles pilares de concreto a retalhar a paisagem.

Mas há uma turma de jovens que está mudando totalmente a percepção dos viadutos cariocas como espaços associados a engarrafamentos, buzinaços ou cheiro de escapamento furado: com a campanha “Qual é o seu viaduto?”, que traz a pergunta estampada em grafites nas ruas e nas redes sociais, um grupo de moradores de Realengo está fazendo um levantamento de viadutos mais populares do Rio para integrar o “Circuito de viadutos da cidade”, ação que deseja transformar o vão de alguns dos equipamentos urbanos em pólos culturais com extensa programação ao longo de 2016, incluindo apresentações de hip hop, batalhas de rimas, aulas de grafite, trocas de livros, pista de skate, projeções de filmes e o que mais der para acontecer no espaço árido entre os pilares. Já estão confirmados no projeto, além de Realengo, os viadutos de Bangu e Caju.

— Essa programação já acontece toda terça-feira no viaduto de Realengo, e começou numa necessidade de ocupar, desenvolver e apresentar uma nova proposta para o bairro — conta Oberdan Mendonça, responsável pela iniciativa, que já virou “Espaço Cultural Viaduto de Realengo” no Facebook e foi um dos 85 projetos ganhadores do edital de Ações Locais da prefeitura no início do ano. — Em vez de esperar convites para ir a outros territórios fazer qualquer atividade, decidimos avivar esse espaço público para ampliar a rede de cultura do bairro e a troca com outros territórios. E a rede se ampliou de uma forma muito inesperada, cada vez conhecemos mais pessoas envolvidas em projetos culturais na região que não conhecíamos. Ampliar a ideia para outros viadutos ociosos era a consequência natural. Por isso estamos identificando os que têm mais demanda por parte do público.

SC Rio de Janeiro (RJ) 03/11/2015 - Todas as tercas-feiras acontecem sob o novo viaduto de Realengo, atividades culturais como grafite, batalha de mcs. A partir do ano que vem, outros quatro viadutos tambem serao transformados em centros culturais com o o apoio da prefeitura do Rio de Janeiro. Foto: Daniel Marenco / Agencia O Globo Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
SC Rio de Janeiro (RJ) 03/11/2015 - Todas as tercas-feiras acontecem sob o novo viaduto de Realengo, atividades culturais como grafite, batalha de mcs. A partir do ano que vem, outros quatro viadutos tambem serao transformados em centros culturais com o o apoio da prefeitura do Rio de Janeiro. Foto: Daniel Marenco / Agencia O Globo Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Projeto vira documentário

Idealizado por Oberdan com a ajuda dos amigos Andreia Ruan (que está começando a fazer um documentário sobre o espaço), Renan Marinho “Sick”, Vandré Nascimento, Ernesto “Mike Charlie”, Verônica Fialho, MC Zeg e Nilton Luiz “Pé”, o Circuito será a ampliação do projeto que já acontece há cerca de um ano sob o viaduto Aloisio Fialho, de Realengo, chamado de “dutão” pelos frequentadores, que saem dos bairros da região e até da Baixada Fluminense, incluindo famílias inteiras.

— Já tivemos duas apresentações da cena sonora de São Paulo, a banda Fones e a banda Jovem Palerosi — orgulha-se Oberdan, lembrando que há poucas opções culturais atuantes na região. — Tem o Espaço Cultural Arlindo Cruz, o Lata Doida e o Sarau Maria Realenga, que acontece próximo à Lona Cultural Gilberto Gil.