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Rio

Confira as belezas naturais e culturais que podem tornar Paraty Patrimônio Mundial da Unesco

Dossiê sobre a região na Costa Verde fluminense inclui curiosidades, como a existência de 36 espécies vegetais raras, incluindo o palmito-jussara, e de duas terras indígenas, além de territórios quilombolas
Emoldurada pelo verde: a Igreja de Santa Rita de Cássia, cartão-postal do Centro Histórico de Paraty. Cidade colonial entre a Mata Atlântica e o mar é candidata a patrimônio mundial misto, por aliar bens culturais e natureza exuberante Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Emoldurada pelo verde: a Igreja de Santa Rita de Cássia, cartão-postal do Centro Histórico de Paraty. Cidade colonial entre a Mata Atlântica e o mar é candidata a patrimônio mundial misto, por aliar bens culturais e natureza exuberante Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — Conhecida pelo casario colonial e pela paisagem deslumbrante, Paraty quer ser muito mais que uma joia da Costa Verde. Ela poderá ser eleita Patrimônio Mundial da Unesco, numa votação que acontecerá em Baku, no Azerbaijão, entre sexta-feira e sábado . Para não correr o risco de ser rejeitada, como aconteceu em 2009, quando se candidatou destacando sua importância histórica, Paraty agora mudou de estratégia e “engordou” seus predicados. Além de mostrar sua arquitetura, vai exibir aos jurados quatro zonas de preservação repletas de espécies raras de fauna e flora. Com isso, almeja a categoria de patrimônio misto, que engloba as riquezas culturais e naturais. Caso a cidade ganhe, será a primeira vez que o Brasil terá um lugar contemplado nesse quesito.

Se Paraty sair vencedora, deverá entrar na rota mundial de destinos turísticos imperdíveis. Mas o título, além de abrir caminho para um aumento do número de visitantes, trará também responsabilidades. Estado, prefeitura e União terão de garantir que a paisagem cultural e natural não sofrerá mudanças. Para isso, será criado um plano de gestão, que estabelecerá o que cada um terá de fazer para manter o desenvolvimento sustentável da região. Caso a área seja descaracterizada, pode deixar a lista de bens da Unesco.

Diretor de Patrimônio Material do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Andrey Rosenthal ressalta que o reconhecimento implicará não só na preservação do casario e da biodiversidade, mas das comunidades tradicionais, como a de caiçaras, e seus hábitos.

— O que muda em primeiro lugar com o título é o compromisso que municípios, estado e União assumem perante o mundo do ponto de vista de gestão: nós temos a obrigação de preservar esse bem. Em segundo, há um reforço das identidades locais. E, em terceiro, como mostram estatísticas, está a transformação da área em destino de interesse turístico internacional — diz Andrey.

De acordo com o Iphan, há dados que mostram que o turismo duplicou na região da Pampulha (em Minas Gerais) após o conjunto entrar, em 2016, na relação de patrimônios culturais mundiais. Dos 21 sítios brasileiros reconhecidos pela Unesco, 14 fazem parte da categoria cultural (como o Cais do Valongo, no Rio) e sete, da natural. Embora não haja uma obrigação de transferência de recursos federais a partir do título, a expectativa em Paraty é grande.

— Esse reconhecimento abre muitas oportunidades para soluções de problemas de infraestrutura — afirma a secretária de Cultura da cidade, Cristina Maseda. Para ela, o principal desafio agora é ampliar o saneamento.

O dossiê da atual candidatura começou a ganhar a atual forma há cinco anos e inclui, além do Centro Histórico, o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área de Proteção Ambiental de Cairuçu, o Parque Estadual da Ilha Grande e a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul. Toda essa área, calculada em 149 mil hectares, extrapola os limites de Paraty, abrangendo parte de Angra dos Reis e também de Ubatuba, Cunha, São José do Barreiro e Areais, cidades no estado de São Paulo. O dossiê destaca ainda a existência de duas terras indígenas, dois territórios quilombolas e 28 comunidades caiçaras, que vivem da relação com a natureza.

O dossiê sobre a região inclui curiosidades, como a existência de 36 espécies vegetais raras, incluindo o palmito-jussara, uma palmeira nativa da Mata Atlântica que é sucesso na gastronomia local. Já a caixeta, também conhecida como pau-paraíba, é uma árvore de madeira maleável muito utilizada pelos caiçaras para a produção de instrumentos musicais. E pesam a favor da inclusão desse paraíso da Costa Verde as paisagens de tirar o fôlego. Na Serra da Bocaina, o visual da sua parte alta atrai turistas. Por lá, há trilhas de diferentes níveis de dificuldade até mirantes, picos e cachoeiras. A visão oposta é a do litoral, onde ficam as famosas praias da Caixa D’Aço, além de piscinas naturais. Tudo emoldurado pela Mata Atlântica.

— Temos uma joia natural aqui, um presente do mundo para toda a população e os visitantes. Aliar o turismo com a preservação ambiental é fundamental —- comenta o guia local, Ubirajara Fernandes, de 36 anos.

Torcida grande

Para torcer pela vitória de Paraty, embarcam nesta terça-feira para o Azerbaijão o prefeito em exercício de Paraty, Valcenir da Silva Teixeira, Cristina Maseda e outros dois secretários. A delegação conta também com o prefeito de Angra, Fernando Jordão, e dois integrantes de seu governo, além da própria presidente do Iphan, Kátia Bogéa, integrante da Convenção do Patrimônio Mundial (hoje o Brasil ocupa a vice-presidência). O grupo, com 21 representantes, é quem decidirá sobre a candidatura de Paraty (o país não vota nesse caso) e de outros 35 locais no mundo. Hoje, há 1.092 sítios reconhecidos como patrimônios mundiais, mas apenas 38 na categoria mista.