22/05/2015 14h30 - Atualizado em 22/05/2015 15h27

Viagem dos imigrantes italianos para o Brasil podia durar até 40 dias

Imigrantes não sabiam qual seria o seu destino, apenas que era a América.
Chegada dos primeiros italianos ao Brasil completa 140 anos em 2015.

Guilherme FadanelliDa RBS TV

Uma longa viagem rumo ao desconhecido, repleta de obstáculos, mas cheia de esperança. Era assim que, há 140 anos, os primeiros imigrantes deixavam a Itália rumo ao Brasil em busca de uma vida melhor. As dificuldades por eles é o tema da terceira reportagem especial do Jornal do Almoço sobre a imigração italiana na serra gaúcha (veja o vídeo).

No imaginário italiano, o Brasil era a terra da “cucagna”, da fartura, onde as montanhas eram de ouro e das árvores se colhia queijo. Por isso, a saída da Itália para o Brasil abria um novo horizonte para os imigrantes. Mas cruzar o Atlântico em direção à América não era nada fácil:  a viagem, na terceira classe do navio a vapor, podia durar até 40 dias.

“As condições de viagem na terceira classe eram muito difíceis. Era uma condição de pobreza, muitas pessoas e pouca comida. Porém, tinha pessoas que sonhavam, que cantavam. O clima de esperança ajudava muito a enfrentar a viagem e as dificuldades, doenças”, conta o presidente da Autoridade Portuária de Gênova, Luigi Merlo.

Entre 1876 e 1915, 24% dos italianos que saíram da Europa vieram para a América do Sul. As viagens foram documentadas pelos comandantes dos navios e estão preservadas no arquivo do Estado de Gênova.

Somente quando chegavam aos portos brasileiros as famílias descobriam para qual região do país seriam levadas. A chegada ao Brasil ocorria no porto de Santos e também no do Rio de Janeiro.

Quem vinha para o Rio Grande do Sul desembarcava às margens do Lago Guaíba, em Porto Alegre. Em um vapor menor, seguiam o percurso pelo Rio Caí. Quem ia para a região de Bento Gonçalves, desembarcava em Montenegro. Já para a região de Caxias do Sul, a última parada era São Sebastião do Caí.

Imigrantes italianos 140 anos imigração (Foto: Reprodução/RBS TV)Viagens eram feitas na terceira classe de navio
a vapor (Foto: Reprodução/RBS TV)

“Em função desse projeto de colonização, São Sebastião do Caí foi criado como município. Havia uma povoação muito pequena por aqui e, de repente, colocaram delegacia, prefeitura, fórum. Esse ponto do rio onde nós estamos é o último ponto que se pode chegar de barco vindo de Porto Alegre. Então era o lugar ideal para fazer essa base para a colonização”, explica o pesquisador Renato Klein.

Dali pra frente, o percurso era feito a pé. A estrada era aberta pelos próprios imigrantes a facão. Com o fim do trecho plano da estrada Rio Branco, às margens do Rio Caí, tinha início a parte mais difícil do trajeto, que era a subida da Serra. Mas antes de seguir viagem, muitos paravam em hospedarias para se alimentar e descansar.

Os lotes de terras eram distribuídos pelo governo brasileiro. Os primeiros imigrantes se instalaram onde hoje é o distrito de Nova Milano, em Farroupilha. Eram três famílias, entre elas a de Franco Radaelli. O agricultor aposentado ainda mantém nos fundos da casa o antigo galpão construído pelo bisavô e relembra as dificuldades do início da colonização.

“Íamos a pé porque não tinha mula, nada. Descia num dia e no outro voltava porque não dava para ir no mesmo dia. Cansava muito, mas ninguém falou de vontade de voltar à Itália”, afirma o agricultor.

Imigrantes italianos 140 anos imigração (Foto: Reprodução/RBS TV)Descendente da família Toscan reencontrou parente
na Itália (Foto: Reprodução/RBS TV)

Apesar das dificuldades, nas cartas endereçadas aos que ficaram na Itália, os imigrantes contam que o Brasil era mesmo um país melhor para viver. “A terra é fértil na colônia. Há muitas árvores. Aqui um homem que trabalha um mês, alimenta uma família por um ano. A água e o ar são excelentes, como no nosso país”, diz uma carta enviada em 1876.

Alguns laços se perderam ao longo do tempo, mas descendentes logo trataram de reconquistar. É o caso de Vilson Toscan, que mora em Caxias. Depois de 15 anos de procura, ele encontrou parentes na Itália, durante uma apresentação do grupo de teatro do qual faz parte. O primeiro contato foi cercado de expectativa. "Você chega na casa de uma pessoa e diz assim: ‘Bom, eu tenho o mesmo sobrenome que o teu’. Tá e daí? Eu confesso que senti um frio na barriga”, admite o representante comercial.

Mas a desconfiança logo deu lugar à acolhida. É o que diz o funcionário público Sabino Toscan, o parente que Vilson localizou na Itália. Hoje, os dois conversam pela internet toda a semana. “Foi praticamente um acaso. Na nossa região não sabíamos nada sobre a imigração de italianos no Brasil. Uma coisa forte do brasil é o sentimento de acolhimento das pessoas, independente de ser parente. Quando encontro uma pessoa, desperta um sentido de festa e acolhida, muito próprio do Brasil”, relata o italiano.

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