Por Pedro Alves, G1 PE


PF investigará possível uso de recursos públicos pelo PSL em campanha de laranjas

PF investigará possível uso de recursos públicos pelo PSL em campanha de laranjas

A Polícia Civil de Pernambuco investiga denúncias de desvio de dinheiro público publicadas pelo jornal "Folha de S.Paulo" no domingo (10). De acordo com a publicação, a candidata a deputada federal pelo Partido Social Liberal (PSL) em Pernambuco Lourdes Paixão teria atuado como "laranja" nas eleições 2018. (Veja vídeo acima)

Lourdes Paixão recebeu R$ 400 mil da direção nacional do PSL. Ela obteve 274 votos no pleito de 2018. O valor recebido por ela é o terceiro maior concedido pelo partido.

A reportagem da "Folha de S.Paulo" afirma que um grupo ligado ao presidente do PSL, Luciano Bivar, eleito deputado federal por Pernambuco, teria feito de Lourdes Paixão uma candidata "laranja". Bivar foi eleito, no dia 1º de fevereiro, o segundo vice-presidente da Câmara Federal.

O dinheiro do fundo partidário foi enviado para a candidata pela direção do PSL, que tinha como presidente, na época, o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno.

A denúncia foi o estopim de uma crise no governo federal, que se agravou após o vereador Carlos Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), desmentir o ministro. Bebianno disse, na terça (12) ao jornal “O Globo”, que teria conversado sobre o assunto três vezes com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) enquanto este estava internado em um hospital em São Paulo.

Em uma rede social, o vereador classificou a afirmação de Bebianno como "mentira absoluta" e divulgou um áudio que mostra Jair Bolsonaro se recusando a falar com o ministro. Depois, o presidente compartilhou as mensagens do filho na mesma rede social. Diante da crise, passou a ser cogitada a saída do ministro do governo. Ao blog de Andréia Sadi, Bebianno voltou a afirmar que não existe crise e que não pretende pedir demissão.

Investigação

A investigação da Polícia Civil de Pernambuco sobre a suposta candidatura "laranja" está a cargo do Departamento de Repressão ao Crime Organizado e Corrupção (Draco). De acordo com a assessoria da Polícia Civil em Pernambuco, o procedimento é chamado de Verificação Preliminar de Investigação (VPI), que acontece antes da abertura do inquérito.

PF convoca ex-candidata a deputada federal pelo PSL para depor

PF convoca ex-candidata a deputada federal pelo PSL para depor

A Polícia Federal (PF) também apura o caso e intimou Lourdes a depor. O depoimento estava marcado para esta quinta-feira (14), às 11h, mas houve um pedido para adiamento, feito pelo advogado da candidata. Uma nova data ainda não foi marcada. (Veja vídeo acima)

Lourdes deve ser ouvida no que a Polícia Federal chama de "registro especial", um procedimento anterior à abertura de inquérito, para verificar se há indícios suficientes para justificar uma investigação.

"Ela vem na condição de colaboradora. Não tem ainda nenhum tipo de investigação instaurada contra ela. Vamos ouvir informações, tirar algumas dúvidas. Isso é feito através de um registro especial, que é um procedimento que a Polícia Federal sempre faz, antes de qualquer tipo de investigação", afirmou o assessor da PF em Pernambuco, Giovani Santoro.

De acordo com ele, a iniciativa da intimação foi da Polícia Federal, em conjunto com a Justiça Eleitoral. "Tomamos conhecimento da veiculação de uma matéria sobre esse caso e achamos oportuno checar os fatos em andamento. Ela vai ser ouvida aqui como colaboradora, para prestar esclarecimentos. Ela não é investigada nesse momento", disse Santoro.

Em nota, a Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco (PRE-PE) informou que propôs ação de impugnação de contas eleitorais contra Lourdes Paixão. A ação é sigilosa.

Contatos

O G1 tentou contato com a candidata, que aparece nas redes sociais como secretária do PSL no estado, mas não obteve sucesso. O diretório estadual do PSL informou que Lourdes não compareceu ao trabalho esta semana.

No domingo (10), o G1 conversou por telefone com o deputado federal Luciano Bivar, que negou as denúncias. Bivar afirmou, ainda, que falaria pessoalmente sobre o tema e posteriormente desligou o telefone. Desde então, ele não atende mais às ligações.

Prestação de contas

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a única receita de campanha de Lourdes é o repasse da direção nacional do partido, no valor de R$ 400 mil, em 3 de outubro de 2018, quatro dias antes da votação do 1º turno.

A candidata declarou ao TSE que, do valor recebido, R$ 380 mil foram pagos à Itapissu Gráfica para impressão de material de campanha. Procurado pelo G1, o advogado da empresa, Paulo José Carneiro Leão Cannizzaro, afirmou que iria se pronunciar apenas para as autoridades, se necessário.

Cannizzaro enviou a seguinte nota oficial: "A empresa confia na correção de seus atos e de seus representantes, colocando-se à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos que forem necessários no intuito de comprovar a efetiva prestação dos serviços contratados".

Na Nota Fiscal Eletrônica declarada ao TSE consta um endereço no bairro do Arruda, na Zona Norte do Recife, onde funciona atualmente uma oficina de funilaria, conforme o G1 constatou no domingo (10).

Oficina de lanternagem fica no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife — Foto: Pedro Alves/G1

Na época em que o material encomendado por Lourdes supostamente foi impresso, a oficina de funilaria já funcionava no local, conforme informaram os funcionários. A oficina está no edifício ao menos desde março de 2018. (Veja foto acima)

No registro do CNPJ da empresa, no site da Receita Federal, consta outro endereço como sede. O G1 também esteve no local, que fica na Avenida Santos Dumont, também na Zona Norte do Recife. Lá funcionam um café e uma papelaria. (Veja foto abaixo)

Café e papelaria ficam na Avenida Santos Dumont, na Zona Norte do Recife — Foto: Pedro Alves/G1

Segundo funcionários do prédio, há, no primeiro andar do edifício, três salas comerciais. Uma é alugada para cursos, outra para reforço escolar e a terceira, desde ao menos a época da campanha eleitoral, para um casal que atua numa empresa de cosméticos. Eles teriam encerrado o contrato no final de janeiro.

Ministro Marcelo Álvaro

No dia 4 de fevereiro, outra reportagem da "Folha de S.Paulo" apontou que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), direcionou verbas de campanha a quatro candidatas em Minas Gerais que também são suspeitas de terem atuado como "laranjas".

Em entrevista à TV Record na quarta-feira (13), Bolsonaro disse que mandou a Polícia Federal investigar as suspeitas.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!