Por Ana Carolina Moreno, G1


A brasileira por trás de uma comunidade que ensina programação para mulheres em 45 países

A brasileira por trás de uma comunidade que ensina programação para mulheres em 45 países

A estatística brasileira Gabriela de Queiroz emigrou para os Estados Unidos em 2012 com pouco dinheiro e muito apetite para aproveitar a cultura local de cursos e eventos abertos para se qualificar como cientista de dados e alavancar sua carreira. Como forma de retribuir pela formação gratuita, ela decidiu criar uma comunidade de formação em programação só para mulheres e pessoas queers que, hoje, existe em 145 cidades de 45 países e reúne 43 mil pessoas.

Além de fundadora do R-Ladies, a carioca de 38 anos também é gerente de engenharia e ciência de dados na IBM, e representa a empresa em palestras e eventos que discutem o desenvolvimento da ciência de dados e a aprendizagem de máquinas.

Sua contribuição à diversidade de gênero com o projeto R-Ladies fez com que ela fosse a única brasileira finalista da 5ª edição do prêmio Women in Open Source, dedicado a reconhecer mulheres líderes na cultura do código aberto. O resultado será divulgado em maio.

Gabriela de Queiroz, gerente de engenharia e ciência de dados da IBM em São Francisco, fundou um grupo que hoje ensina programação a mulheres em 45 países — Foto: Divulgação

O que é o R?

R é o nome da linguagem de programação que a comunidade criada por Gabriela ajuda a disseminar entre as minorias de gênero na área de tecnologia. A linguagem, criada por programadores da Nova Zelândia, tem sido cada vez mais usada nos últimos anos para o trabalho de análise de dados, substituindo outras linguagens de programação que não eram de código aberto, como SAS e SPSS.

As duas maiores diferenças entre as linguagens de código aberto e fechado é que, no caso do código aberto, os softwares e programas usados são gratuitos, e eles podem ser melhorados pelos próprios usuários, que se juntam em comunidades para trocar experiências e se ajudar mutuamente. "Eu me lembro de ir ao centro da cidade [no Rio de Janeiro], na Rua Uruguaiana, para comprar CD pirata de SPSS. Porque é o que era usado, e esses softwares são super caros. Então eu fui lá comprar o CD para aprender", contou ela em entrevista ao G1.

Nos últimos anos, os softwares voltados ao R passaram a ser adotados oficialmente por mais empresas, o que aumentou a demanda de profissionais da estatística e de outras áreas do conhecimento pelo domínio da linguagem.

"A ciência de dados é tão ampla que as pessoas vêm de backgrounds diferentes. Tem gente que fez física, geologia, biologia, mas são pessoas que desenvolvem a parte de matemática, aprender a programar. Mais importante é pensar desde cedo em aprender a programar", recomenda a gerente da IBM.

Trajetória acadêmica

Apesar da carreira bem sucedida como cientista de dados, Gabriela levou um tempo até decidir que caminho seguir na faculdade. Em seu primeiro ano de vestibular, ela estava decidida a ingressar na carreira de veterinária. "Mas na noite anterior à segunda fase da UFF [Universidade Federal Fluminense], decidi que não era o que eu queria", lembra ela, que precisou estudar mais um ano e tentar novamente.

Como gostava de matemática, física e química, ela prestou vestibular para engenharia em todas as faculdades, menos uma, na qual tentou a carreira de estatística. Acabou passando em mais de um vestibular, e durante seis meses cursou engenharia e estatística concomitantemente.

Mas a estatística não a deixava feliz na época. Foi só depois de um intercâmbio nos Estados Unidos que ela conseguiu enxergar futuro na área.

"Quando vim para os Estados Unidos, em 2004, fiquei impressionada. Tudo aqui era baseado em números e estatística", explica Gabriela.

Ao retornar ao Brasil, ela mudou o curso de engenharia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) para estatística e trancou a outra faculdade. Foi na Uerj, também, que ela começou a trabalhar com estatística aplicada à área de saúde no Instituto de Medicina Social (IMS), como pesquisadora bolsista.

Seu próximo passo foi fazer um mestrado na área de epidemiologia pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Mas, em 2012, ela decidiu mudar de país para buscar outros rumos na carreira.

"O Brasil estava muito atrás. As pessoas que fizeram estatística comigo ou seguiram carreira acadêmica, viraram pesquisadoras, ou iam trabalhar em banco, ou nas empresas de telefonia. Era mais ou menos isso e eu não me encaixava em nenhum desses perfis."

Workshop gratuito do R-Ladies São Paulo em fevereiro ensinou o básico da programação em R no Centro — Foto: Ana Carolina Moreno/G1

Aprendizado em comunidade

Nos Estados Unidos, ela entrou com visto de estudante para fazer um mestrado em estatística com dois anos de duração. Paralelamente, começou a aproveitar as ofertas de cursos, encontros e eventos gratuitos em São Francisco, onde vivia.

"Pra mim foi uma maneira de adquirir conhecimento. E nesses eventos eles dão comida. Como eu não tinha muito dinheiro, tinha o bônus não gastar muito dinheiro em alimentação", lembra ela.

Depois de uns meses, ela percebeu que a cultura do código aberto e da cooperação é cíclica, e passou a ter vontade de ela também dar de volta o que tinha recebido de outras pessoas. Pensando em como fazer isso, ela percebeu que ainda faltava uma comunidade segura e inclusiva para mulheres e pessoas queer que fosse focada na linguagem R.

"Não gostaria que fosse um grupo de R qualquer, queria que fosse um grupo em que pessoas se sentissem confortáveis para não serem julgadas e serem quem elas fossem", explicou Gabriela de Queiroz.

A ideia tem sido bem-vinda em tempos de debate sobre os motivos que mantêm as mulheres em minoria nas áreas de exatas e de ciências (veja abaixo apresentação do R-Ladies de Madri, na Espanha):

"É diferente de você entrar num evento que só tem homem, você vai se sentir um pouco acuada, você fica no seu canto. Quando entro num grupo com pessoas como eu, sinto que posso ser quem eu sou. E você também não tem medo de ficar vulnerável, sabe que ninguém vai te julgar", diz ela sobre o ambiente de aprendizagem que não intimida as pessoas a tirarem dúvidas ou mostrar que não entenderam o conteúdo ensinado.

"Esse é um dos benefícios. Todo mundo já entra com essa mentalidade de que dividir conhecimento é uma boa coisa."

Ela afirma que o grupo foi crescendo timidamente durante os anos, mas que isso mudou em 2016, quando ela se uniu ao capítulo de Londres do R-Ladies para expandir o projeto. A iniciativa foi selecionada para o apoio financeiro de um consórcio de R. "Em 2016 só tinham quatro capítulos, com essa alavancada foi quando a gente começou a crescer. Hoje estamos em 145 cidades de 45 países", comemora ela.

Mapa mostra os locais onde o R-Ladies está presente — Foto: Reprodução

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