Por Felipe Grandin e Marco Antônio Martins, G1 Rio


Gráfico mostra a evolução do número de homicídios em decorrência de intervenção policiais — Foto: Arte G1

Nos últimos cinco anos, um índice não para de crescer no Rio de Janeiro: as mortes em decorrência da intervenção policial. Eventos como a Copa do Mundo, a Olimpíada ou a Intervenção Federal na Segurança, que mobilizaram efetivos extras e planos de segurança, não inibiram o aumento do número de pessoas que morreram em ações envolvendo as polícias Civil ou Militar no estado. Segundo o MPRJ, o crescimento se deve à maior presença das forças de segurança nas ruas, que leva a mais confrontos com criminosos.

O número de casos mais que dobrou nos últimos cinco anos. Entre janeiro e julho de 2013, 236 pessoas morreram em ações da polícia. Já nos sete primeiros meses de 2018 foram 895 mortes, um aumento de 279%. A média mensal que era de 33 mortes passou para 127.

O pior mês de 2018, com 157 casos, foi janeiro, ou seja, antes da Intervenção Federal decretada pelo presidente Michel Temer, em fevereiro. Foi o mês com maior número de mortes desde 1998, o início da série histórica divulgada pelo ISP.

Mortes por intervenção policial por mês de 2018 no RJ
Janeiro registrou o maior número de casos em apenas um mês desde 1998, início da série histórica divulgada pelo ISP
Fonte: ISP

Mais policiamento

O crescimento do número de mortes reflete o aumento da presença das polícias e das Forças Armadas nas ruas do RJ, segundo a promotora de Justiça Somaine Cerruti, coordenadora do centro de apoio operacional das Promotorias de Justiça Criminais do MPRJ. O maior policiamento leva a uma maior quantidade de confrontos com criminosos.

"É claro que esse número (de mortes em confronto policial) vai aumentar em razão de uma atividade mais intensa das Forças de Segurança contra a criminalidade em nosso estado", afirma a promotora. "Esse crescimento é fruto de uma ação maior das polícias com apoio das Forças Armadas."

Intervenção

A alta das mortes começou antes da intervenção e a tendência não foi alterada com a presença das Forças Armadas no RJ. No mês de junho, o número de casos quase chegou ao patamar de janeiro, com 155 mortes. Isso quer dizer que, por dia, cinco civis morreram em ações policiais no Rio de Janeiro. Esse foi o segundo maior número de casos em um único mês nos últimos 20 anos, período cujos dados estão disponíveis no ISP.

Meses de janeiro e junho de 2018 registraram o maior número de mortes por intervenção policial nos últimos 20 anos, segundo dados do ISP — Foto: Arte G1

Considerandos apenas o período da intervenção - entre março e julho - o patamar se mantém.

Nessa contagem dos casos, ficam de fora o mês de janeiro, quando o ato não tinha sido assinado pelo presidente Temer e fevereiro, mês em que apenas o interventor, o general Walter Braga Netto estava no cargo. E considera os números a partir de março, quando o secretário de Segurança, o general Richard Nunes e os novos chefes da Polícia Civil, o delegado Rivaldo Barbosa, e da Polícia Militar, o coronel Luís Cláudio Laviano já haviam sido nomeados.

"A intervenção aprofunda o modelo de segurança pública baseada na lógica de guerra, de confrontos armados, sem estratégia, na ostensividade. Não atua na investigação, na prevenção e na proteção da vida das pessoas. O aumento brutal do número de homicídios decorrentes de intervenção policial desde o início da intervenção federal mostram ainda que o avanço da militarização, além de não diminuir a violência, ainda aumenta as violações de direitos humanos." afirma Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional Brasil

"Isso é muito preocupante. Vemos que a intervenção não tem foco na letalidade policial. Não se vê preocupação sobre o assunto. A redução da violência passa pela redução desses casos", disse César Munoz, pesquisador do Human Right Watch.

"Esse número retrata um modelo que aposta na lógica do confronto. Essa letalidade produz casos de balas perdidas e policiais mortos. Esse índice é negativo em qualquer democracia", complementou Pedro Stronzemberg, ouvidor da Defensoria Pública.

Ao mesmo tempo em que registra o aumento no número de mortes, os casos de crimes contra o patrimônio apresentam queda. Apesar disso, a Secretaria de Segurança prepara para a próxima semana uma nova fase de ações contra o roubo de cargas.

A secretaria não se pronunciou sobre o tema.

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