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Economia Previdência

Governo já admite que estados ficarão de fora da reforma da Previdência

Governadores de oposição evitam defender mudanças nas regras de aposentadoria
Governo admite que estados devem ficar fora da reforma Foto: Pixabay
Governo admite que estados devem ficar fora da reforma Foto: Pixabay

BRASÍLIA - O governo já admite que estados e municípios devem ficar de fora da reforma da Previdência . A avaliação é que os governadores que apoiam a ideia não têm força para conseguir votos que assegurem a aprovação do texto. Além disso, estados comandados por partidos da oposição, como Bahia , Pernambuco e Maranhão , não se comprometeram com a defesa das mudanças nas regras de aposentadoria.

A exclusão dos estados da proposta pode agravar ainda mais o quadro de crise fiscal dos governos regionais. O déficit dos regimes dos estados subiu de R$ 47,4 bilhões em 2014 para R$ 88,5 bilhões em 2018.

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O imbróglio envolvendo os estados, combinado com pressões de partidos do centrão para incluir mudanças na reforma e com a demora do governo em liberar verbas prometidas em troca de apoio, pode atrasar ainda mais a leitura do voto final do relator da reforma, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), na Comissão Especial que analisa a proposta. A leitura, que estava originalmente marcada para a semana passada, foi transferida para hoje, mas ainda corre risco de novo atraso. Isso poderia jogar a votação no plenário da Câmara para depois do recesso parlamentar, marcado para começar em 18 de julho.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passou o dia de ontem em reuniões com líderes, representantes do Ministério da Economia e com Moreira para negociar a situação dos governos regionais. As negociações continuaram na noite de ontem, e já está marcado para a manhã de hoje um encontro com governadores para voltar ao assunto. Os técnicos da área econômica estão preocupados com a demora, pois, quanto mais tempo a reforma demorar, pior ficará o humor do mercado financeiro. E isso atrasaria ainda mais a retomada da atividade econômica.

Também falta entendimento entre os líderes dos partidos sobre os procedimentos da votação na comissão. Para acelerar a tramitação, seria preciso retirar destaques ao texto que atrasam o andamento no colegiado. A ideia seria que os destaques fossem apresentados somente na votação da matéria no plenário, mas não há acordo. Diante desse cenário, ganha força um movimento de empurrar a votação da proposta no plenário para agosto.

Em compasso de espera

Fontes do governo afirmam que o Banco Central está esperando a aprovação da proposta para começar a baixar os juros. Outras medidas para estimular a atividade econômica também estão em compasso de espera.

A mudança nas regras da aposentadoria é fundamental para equilibrar as contas públicas, diante do tamanho da despesa com benefícios. Em 2017, a União gastou R$ 671,1 bilhões com o regime de previdência dos trabalhadores do setor privado e servidores públicos. Neste ano, o gasto está estimado em R$ 732,3 bilhões. O rombo com os dois regimes deverá atingir R$ 271,9 bilhões neste ano.

— Oxalá na próxima quarta-feira tenhamos a votação do relatório e aguardamos a orientação do presidente da Câmara para que, no menor prazo possível, isso possa ser colocado em plenário. Quanto mais rápido nós tivermos a solução deste, que é o ponto central e crucial da questão econômica do nosso país, melhor para a sociedade e para a estrutura do governo — disse ontem o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, destacando que após a reforma o país deve receber investimentos internacionais e impulsionar os do empresariado local.

Confira os principais pontos da reforma da Previdência proposta pelo governo Jair Bolsonaro e como ficaram no parecer do relator.

Já foram encaminhados à Comissão Especial 69 destaques, sendo 26 de bancadas e 43 individuais. Entre as principais alterações sugeridas estão regras de aposentadoria mais suaves para policiais federais, que seriam estendidas para vigilantes e guardas municipais. Além disso, já foram propostas também a manutenção da regra de cálculo mais vantajosa, com base nos maiores salários de contribuição e não na média, e retirada do fim dos repasses do Fundo de Amparo aos Trabalhadores para o BNDES.

O líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), afirmou ontem que a intenção do governo é chegar a um acordo com o Congresso sobre o tratamento que será dado aos profissionais da área de segurança na reforma da Previdência. Parlamentares querem que categorias como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal não tenham que cumprir idade mínima e tenham direito a se aposentar com integralidade e paridade. Ao chegar à casa do presidente da Câmara, o líder disse que a intenção é não “embaralhar o processo de negociação” e chegar a um acordo que possibilite a aprovação do texto. Ele afirmou que uma modificação para a categoria vai ter impacto pequeno.

— A gente quer chegar num acordo que possibilite a votação. Se houver algum tipo de desidratação, vai ser algo de pequena monta. Se a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal conseguissem tudo que haviam proposto, o impacto calculado indicado por eles era algo menor que R$ 4 bilhões em dez anos. Certamente vai ser modulado agora, num meio termo. Qualquer desidratação que aconteça será menor que esse patamar — disse ele.

O CAMINHO Do projeto
20 DE FEVEREIRO
O governo entrega ao Congresso a proposta de reforma da Previdência
CÂMARA
23 de Abril
Composta por 66 deputados.
O texto foi aprovado com 48 votos a favor e 18 contra
Comissão de
Constituição e Justiça
ETAPA
ATUAL
10 de Junho
O parecer do relator foi apresentado
Comissão Especial
Composta por 49 membros. O texto final precisa ser aprovado por maioria simples
Votos necessários para aprovar: 308 de 513 deputados
Plenário da Câmara
Formada por 27 membros. Proposta precisa ser aprovada por maioria simples
SENADO
CCJ
Plenário
do Senado
Votos necessários para aprovar: 49 de 81 senadores. Se houver mudanças, texto pode voltar para a Câmara
PROMULGAÇÃO
O CAMINHO Do projeto
20 DE FEVEREIRO
O governo entrega ao Congresso a proposta de reforma da Previdência
CÂMARA
23 de Abril
Composta
por 66 deputados.
O texto foi aprovado com 48 votos a favor e 18 contra
Comissão de
Constituição
e Justiça
ETAPA
ATUAL
10 de Junho
O parecer do relator foi apresentado
Comissão
Especial
Composta por 49 membros. O texto final precisa ser aprovado por maioria simples
Votos necessários para aprovar: 308 de 513 deputados
Plenário
da Câmara
Formada por 27 membros. Proposta precisa ser aprovada por maioria simples
SENADO
CCJ
Votos necessários para aprovar: 49 de 81 senadores. Se houver mudanças, texto pode voltar para a Câmara
Plenário
do Senado
PROMULGAÇÃO

O relator do texto da reforma da Previdência, no entanto, sinalizou que não pretende flexibilizar mais seu voto:

— Tem setores que estão relativamente bem preservados, não há necessidade, especialmente nesse assunto que vamos discutir, de qualquer concessão. Mas é bom discutir, debater. Do ponto de vista do mérito, categorias estão relativamente bem atendidas.

Moreira negou que a leitura do voto complementar possa ser adiada, e disse ainda que não há sacrifício para as categorias em questão:

— Sacrifício é ficar desempregado, a gente precisa melhorar, crescer, gerar emprego.