Economia Defesa do Consumidor

Em tempos de ‘fake news’, consumidor exige de empresas maior transparência

Especialista defende comunicação ativa por parte das organizações sobre sua gestão

Transparência e ética das empresas são atributos que passaram a ser valorizados pelo consumidor
Foto: Arquivo
Transparência e ética das empresas são atributos que passaram a ser valorizados pelo consumidor Foto: Arquivo

RIO — A crise de confiança nos governos e empresas, desencadeada por escândalos financeiros e políticos, como os da Lava-Jato e da JBS, tornaram transparência e ética palavras de ordem no Brasil e no mundo, assim como atributos valorizados pelo consumidor, como mostrou estudo feito pelo Observatório da Comunicação Institucional (OCI). Diretor-presidene do OCI e professor da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ, Manoel Marcondes Neto, desenvolveu uma ferramenta que para medir esta transparência, na prática, que analisa 210 quesitos da empresa — seja pública, privada ou do terceiro setor —, que vão desde a imagem da marca, passando pelo relacionamento com as comunidades do entorno, políticas de patrocínio e até procedimentos de compliance.

A partir desta análise é atribuída à organização uma “nota”, que irá complementar às demonstrações financeiras e relatórios de administração das organizações: o índice de Transparência ativa. O resultado desse trabalho será apresentado nesta quarta-feira, dia 16, no I Workshop de Transparência Ativa, que faz parte da programação do Congresso Mega Brasil de Comunicação 2018, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo.

— Transparência é uma grande demanda neste momento histórico, ainda mais com o fenômeno das fake news , que veio para ficar. E com esse fenômeno de fabricação de pós-verdade, há uma reclamação cada vez maior pela transparência. Esta ferramenta não é restrita ao Brasil, é global. Não há nada parecido em vigor, estamos abertos a parcerias para implementação desta tecnologia a serviço da transparência.

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Segundo o professor, atualmente, o que o mercado aceita como ser transparente é a questão dos demonstrativos financeiros, contábeis, o parecer de uma auditoria independente. Sendo assim, a transparência está baseada em dois pilares — direito e área contábil-financeira, a parte das cifras e número. Mas isso já não basta, afirma: o consumidor quer uma transparência que não se restrinja a números.

— A cidadania não se contenta mais com isso. O cidadão não gosta de cifras, não entende. Não quer uma transparência que se restrinja a números. Isso é bom, mas não está mais sendo suficiente. É preciso acrescentar um terceiro pilar, que é a comunicação. Defendemos uma transparência ativa, que vai entregar ao cidadão a informação que normalmente é dificultada. Não existe transparência por defaut ou por osmose — destaca Marcondes Neto.

FERRAMENTO DE MELHORA

Durante quatro anos de trabalho, Marcondes conta que foram feitos três projetos-piloto para aferição do Índice de Transparência Ativa (5R INDEX), uma instituição pública (1º Setor); uma empresa privada (2º Setor); e uma organização da sociedade civil (3º Setor). Os resultados desses projetos serão apresentados na próxima quarta-feira, no I Workshop de Transparência Ativa, aberto ao público .

Marcondes Neto reforça que há empresas com práticas ainda muito toscas e o Observatório tem ainda um trabaho árduo pela frente. Segundo ele, o grande desafio é que o Índice de Transparência Ativa seja usado e SEJA realmente útil para as organizações. O professor explica que trata-se de uma ferramenta de governança, que avalia toda a organização: desde itens como reconhecimento social, relacionamento com o público-chave, relevânica no setor de atuação, até gestão da reputação (histórico da empresa, princípio e valores) e resiliência instituicional, que é a capacidade de sobreviver a mudanças do ambiente, geografia, gerações de consumo.

— Após a aplicação dos testes, a empresa recebe um relatório para implementar melhorias, para ver onde está errando e onde melhorar. O resultado do exame não vai para página do jornal. É para ele, fica dentro de casa. É uma ética de auditoria, que é fechada entre auditor e cliente. Retém um acordo de confidencialidade de quem faz o exame e quem é submetido ao exame. De fato, isso é muito importante para dar credibilidade ao sistema — conclui.