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Política Eleições 2018

À PF, Duda Mendonça diz que Odebrecht pagou mais do que delatou para campanha de Skaf

Valor originalmente informado pela empreiteira foi de R$6 milhões
Duda Mendonça (à frente) e Paulo Skaf em debate do governo de Estado de São Paulo, em 23/08/2014 Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo
Duda Mendonça (à frente) e Paulo Skaf em debate do governo de Estado de São Paulo, em 23/08/2014 Foto: Fernando Donasci / Agência O Globo

BRASÍLIA — Os valores dos repasses da Odebrecht , via caixa dois, para a campanha do presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo ( Fiesp ), Paulo Skaf , ao governo de São Paulo, em 2014, podem ter sido maiores do que os R$ 6 milhões mencionados no acordo da empreiteira com o Ministério Público Federal. Nos anexos da delação premiada que firmou com a Polícia Federal, o marqueteiro Duda Mendonça sustenta que os pagamentos da Odebrecht à campanha de Skaf chegaram ao menos a R$ 10 milhões.

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Desse montante, R$ 6 milhões teriam sido pagos por meio de caixa dois diretamente para Duda e outros R$ 4 milhões teriam sido destinados à empresa Ilha Produções, que também atuou na campanha. A produtora pertence a Paulo Rossi, conhecido como Palu, irmão do líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP). Segundo Duda, ele teria recebido o dinheiro em um hotel em São Paulo, mediante apresentação de uma senha.

Duda afirmou ainda que combinou com representante da Odebrecht formas camufladas de quitar uma parte de seu caixa dois que havia ficado como dívida da campanha peemedebista. Segundo o marqueteiro, a construtora o obrigou a firmar contratos com ela para receber, de forma contabilizada, parte da dívida.

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O executivo Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, havia afirmado em seu acordo de colaboração que, na reunião entre o então vice-presidente Michel Temer e Marcelo Odebrecht, ficou acertado um repasse de R$ 10 milhões para o MDB. Deste total, R$ 6 milhões teriam como destino a campanha de Skaf e o restante, R$ 4 milhões, seriam redistribuídos pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A atuação de Temer nesse caso está sendo investigada num inquérito em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).

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COLABORAÇÃO COM O MPF REJEITADA

Quando percebeu que também poderia ser arrastado pelas investigações da Lava-Jato, o marqueteiro pagou os impostos relativos ao caixa dois e procurou o Ministério Público e a Polícia Federal para fazer acordo de delação. A delação de Duda, no entanto, foi rejeitada pela Procuradoria-Geral da República, mas acabou sendo acolhida pela Polícia Federal.

A corporação entendeu que as revelações do marqueteiro vão além das informações fornecidas pelos delatores da Odebrecht e podem ajudar a pôr em pratos limpos não apenas a movimentação financeira da campanha de Skaf em 2014, mas também o papel de Temer nas negociações com os executivos da empreiteira, quando a Lava-Jato ainda estava em seus primeiros passos em Curitiba.

A importância do relato de Duda foi reforçada também por recente decisão da procuradora-geral Raquel Dodge de pedir para que o marqueteiro seja ouvido no inquérito sobre Temer. No início do mês passado, a Polícia Federal tentou, sem sucesso, interrogar o marqueteiro na investigação em vigor contra o presidente. O marqueteiro já deixou claro, no entanto, que não pode falar sobre o assunto até que o acordo dele seja homologado pela STF. Para a polícia, o depoimento dele seria importante para ajudar a esclarecer o destino final do repasse de R$ 10 milhões da Odebrecht para o PMDB.

O acordo de Duda está pendente de homologação pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF. O ministro só deve deliberar sobre a questão depois que o plenário decidir se a PF tem mesmo competência legal para fazer acordo de delação. Uma ação direta de inconstitucionalidade, que trata do assunto, deverá ser apreciada pelo plenário do Supremo ainda esta semana. A ADI foi incluída na pauta na semana passada, depois de O GLOBO revelar que a demora na homologação poderia levar à prescrição de alguns crimes narrados pelo marqueteiro.

Procurado pelo GLOBO, Skaf disse, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que todas as doações recebidas na campanha de 2014 “estão devidamente registradas na Justiça Eleitoral, que aprovou sua prestação de contas sem qualquer reparo de mérito” . Afirma ainda que “nunca pediu e nem autorizou ninguém a pedir qualquer contribuição de campanha que não as regularmente declaradas”.

Paulo Rossi, o Palu, afirma que “os pagamentos referentes aos serviços prestado pela produtora foram pagos pelo CNPJ da campanha, conforme prestação de contas no Tribunal Regional Eleitoral. Não houve interferência de quadros políticos na contratação da produtora. A escolha da produtora foi uma decisão pessoal do candidato Paulo Skaf”. O Palácio do Planalto disse que não iria comentar a delação de Duda Mendonça.