• Ana Laura Stachewski
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Thais Capel começou produzindo máscaras para a família e depois decidiu começar a vendê-las (Foto: Acervo Pessoal)

Thais Capel começou produzindo máscaras para a família e depois decidiu começar a vendê-las (Foto: Acervo Pessoal)

A professora Thais Capel, 36, complementa sua renda com artesanato há 10 anos. Quando o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de máscaras para evitar a disseminação da covid-19, ela usou a experiência com costura e os tecidos que tinha para confeccionar algumas para ela, o marido e as três filhas. Os amigos se interessaram – e outras pessoas, também. Thaís agora produz as máscaras para vender, atendendo quem precisa e garantindo sua renda.

Ela é uma entre várias empreendedoras e profissionais autônomas que recorreram à produção dos itens recentemente. A demanda tem sido alta, favorecida pela possibilidade de comprar e vender por redes como Facebook e WhatsApp. Quem pensa em entrar no mercado tem espaço, mas deve ter alguns cuidados.

Adaptação
Antes da pandemia do coronavírus, o carro-chefe de Thais eram as capas para livros. O estoque de mais de 100 estampas de tecido permitiu que ela começasse a criar as máscaras sem precisar investir nada – além do tempo. Ela hoje divide a rotina entre a produção de videoaulas para os alunos, a costura e os cuidados com os filhos. O intuito inicial foi ajudar as pessoas a se protegerem. Mas as vendas, é claro, ajudam a pagar as contas.

“O dinheiro entrando é menor e vou precisar trabalhar muito mais, mas com a quantidade com certeza vou conseguir complementar”, diz. A primeira postagem de divulgação foi feita na última semana, logo após o aval do Ministério da Saúde. Já são mais de 70 pedidos, além das máscaras que ela tem doado a alguns vizinhos, colegas e profissionais que trabalham nas ruas.

Máscaras vendidas por Thais acompanham manual com instruções de higienização (Foto: Acervo Pessoal)

Máscaras vendidas por Thais acompanham manual com instruções de higienização (Foto: Acervo Pessoal)

Os produtos são feitos por encomenda e vendidos a R$ 10 cada. Alguns clientes optam por ir buscar pessoalmente. Nos outros casos, dependendo da distância, ela realiza a entrega de carro ou pelos Correios. “Eu combinei de mandar sempre às segundas, então já vou com uma leva de pacotes para enviar”, diz. Nas divulgações, ela faz questão de deixar claros os cuidados que toma na produção – do uso de duas camadas de tecido à higienização das matérias-primas.

Thais diz ter atendido principalmente pessoas que estão seguindo a recomendação de isolamento social, mas pretendem usar a máscara em saídas essenciais, como a ida ao supermercado. Ela também percebeu que, após a pandemia, poderá continuar vendendo o produto a profissionais de áreas como veterinária e gastronomia.

“O que eu aprendi nesses anos trabalhando com artesanato é: vá e faça. Planeje, veja se você sabe fazer bem, se tem público e como vai divulgar. Mas depois saia dos planos e entre em ação”, diz ela. Apesar dos resultados, a empreendedora não vê a hora de não precisar mais produzi-las – ao menos nesse contexto. “Espero que a vida volte a ser normal e que não tenha mais essa necessidade.”

Diversificação
A costureira Ivone Araujo, 61, é outra que precisou adaptar a rotina. Ela costumava atender encomendas de roupas casuais e de festa no ateliê montado nos fundos de casa. Mas os pedidos que tinha foram cancelados após o início da pandemia. “Fiquei sem nada. Aí uma cliente me ligou perguntando se eu fazia máscara e eu disse que sim”, conta ela.

Acostumada a criar seus próprios moldes, ela não teve dificuldade com a adaptação do processo. Cada uma é vendida por R$ 5 e entregue de carro pelo genro. Já a neta ajuda a colocá-las em embalagens de plástico, onde também vai uma folha com frases estimulando o cliente a ficar em casa e se proteger. “Está tudo bem bonitinho”, diz Ivone.

Ivone tem usado o ateliê de costura para produzir máscaras para vender; até agora, foram cerca de 300 (Foto: Acervo Pessoal)

Ivone tem usado o ateliê de costura para produzir máscaras para vender; até agora, foram cerca de 300 (Foto: Acervo Pessoal)

Ela diz que as vendas não compensam a paralisação das encomendas usuais, mas foram a forma encontrada de ter alguma receita no período. Ela já vendeu cerca de 300 máscaras até agora. “Para a gente que está sem ganhar nada, vale a pena tentar alguma coisa”, afirma.

O caso das irmãs Jacqueline e Caroline Camanzano, 30 e 24 anos, é diferente. Elas comandam juntas o Dona Onça Personalizados, que vende utensílios, peças de roupa e outros itens estampados sob encomenda. Passado o período de festas e formaturas, a empresa já costumava ter uma baixa em março. Com a adaptação para as máscaras, a expectativa é faturar um pouco mais no período.

Mas isso não impediu que a mudança repentina viesse acompanhada de algumas frustrações. As irmãs haviam desenvolvido produtos especiais para a Páscoa e planejavam a abertura de um e-commerce. As duas iniciativas foram paralisadas e 90% do foco atual está no acessório.

“Muitas pessoas tinham vindo me perguntar sobre as máscaras, mas a orientação era de que não fossem usadas, então fiquei com receio de vender”, diz Jacqueline. “Quando o ministro falou que era para usar, comecei a produzir e anunciar.”

Jacqueline Camanzano e sua filha: máscaras são produzidas nos tamanhos adulto e infantil (Foto: Acervo Pessoal)

Jacqueline Camanzano e sua filha: máscaras são produzidas nos tamanhos adulto e infantil (Foto: Acervo Pessoal)

A empreendedora já era responsável pela costura no negócio; para as máscaras, recorreu a um molde encontrado na internet. A divulgação é feita por Caroline, formada em publicidade e responsável pelas redes sociais da empresa. “A divulgação é 100% online e orgânica. Não precisamos de impulsionamento porque a demanda está muito alta”, diz ela.

Por mais que a oferta também esteja em alta, Jacqueline lembra que a disponibilidade de entrega varia por região. “Tem muita gente vendendo, mas no meu bairro não vi ninguém anunciando. Se você foca no público regional, evita se expor e tem um público que nem todo mundo está atendendo”, afirma. Desde o dia 3, foram vendidas 150 unidades, disponíveis a pronta-entrega ou personalizadas. O preço base é de R$ 10 por uma unidade ou R$ 30 por quatro.

Incluir manual com instruções é recomendado para quem pensa em comercializar as máscaras (Foto: Acervo Pessoal)

Incluir manual com instruções é recomendado para quem pensa em comercializar as máscaras (Foto: Acervo Pessoal)

As entregas são feitas de carro, pelos Correios ou por aplicativos de entrega – neste caso, o serviço é solicitado pelo cliente, que também tem a opção de buscar pessoalmente. Agora, as empreendedoras planejam novas estratégias de vendas. Uma delas é oferecer o produto a supermercados do bairro, permitindo que o estabelecimento compre e forneça aos seus funcionários.

Segundo Caroline, unir-se com outros pequenos negócios da região é uma das dicas que ela daria a outros empreendedores. Enxergar oportunidades, também. “Tem mercado para todo mundo. É uma questão de saber se posicionar e passar o diferencial para os clientes”, diz.

Apoie o negócio local (Foto: Editora Globo)