Por G1


Sônia Guimarães foi a primeira professora mulher do ITA. — Foto: Reprodução/TV Globo

Sônia Guimarães foi a primeira mulher negra a se tornar doutora em física no Brasil e a ser professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP). Mesmo após 25 anos trabalhando na instituição de ensino, ela afirma que ainda sofre preconceito por parte de alunos e de colegas.

A faculdade está entre as mais concorridas do país e é reconhecida pelos cursos da área de engenharia. Em nota, a Associação dos Engenheiros do ITA lamentou a situação e expressou repúdio à intolerância (leia abaixo).

Durante entrevista no programa Conversa com Bial, na quinta-feira (10), Sônia denunciou que nem sempre é aceita pelos estudantes do ITA e pelo corpo docente (assista ao vídeo).

“Eles me odeiam, (inclusive) meus colegas do mesmo nível que eu. Depois desse sacrifício de fazer um vestibular tão complicado, eles entram em uma sala de aula e sou eu que vou dar aula, que vou dar nota, que vou corrigir. Sou eu que digo ‘não, você está errado’”, relata. “Você não pode corrigi-los, porque eles são as pessoas mais inteligentes do Brasil”, ironiza.

(No programa de quinta-feira, 10, o jornalista Pedro Bial promoveu uma reflexão sobre os 130 anos da abolição da escravatura, que serão comemorados neste domingo, 13 de maio. O rapper Emicida e os professores Hélio Santos e Sônia Guimarães apontaram as marcas deixadas na sociedade brasileira.)

A professora Sônia Guimarães descreve o desafio de impor respeito diariamente na sala de aula. “Não tá escrito PhD aqui (na testa). A minha autoridade precisa ser dita a cada dia, a cada minuto, a cada correção, a cada nota baixa”, afirma. “Mas eles têm de me engolir, porque sou professora de física experimental. Eles têm de me aceitar. Senão vão repetir de ano. E não pode repetir de ano no ITA, é proibido”, completa.

Minoria feminina

Na 1ª chamada do vestibular 2018 do ITA, 124 candidatos foram convocados – desses, apenas 8 eram mulheres. No ano anterior, os números foram semelhantes: de 110 aprovados, 11 eram do sexo feminino.

“Quem vocês acham que é pobre? Esse tipo de gente tá acostumada a ver esse tipo de gente aqui (aponta para si mesma) limpando, cuidando dos sobrinhos, da casa deles”, afirma a professora.

Alunas são minoria no ITA. — Foto: Arte/G1

Resposta do ITA

Em nota, o presidente da Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA), Marcelo Dias Ferreira, expressou repúdio em relação às declarações de Sônia Guimarães no programa.

Leia a declaração:

“Cabe registrar que o mérito e a excelência de seus alunos são qualidades muito caras ao ITA.

Lamentamos profundamente as referidas declarações. A Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA) repudia qualquer forma de preconceito ou discriminação, seja por motivos raciais, religiosos, sociais, de gênero ou outros, bem como atitudes e comportamentos desrespeitosos no âmbito da Escola, sejam eles entre colegas ou entre estudantes e funcionários, estudantes e professores, funcionários e professores.

Entendemos que quaisquer denúncias nesse sentido, que sejam recebidas formalmente pelo ITA, devam ser apuradas na forma da lei.”

Trajetória da professora

Sônia fez a graduação em licenciatura de ciências na Universidade Federal de São Carlos (1976-1979). No ano seguinte, ingressou no mestrado em física aplicada na Universidade de São Paulo (USP) e já emendou com um curso de especialização em química e tecnologia dos materiais na Consiglio Nazionale dele Ricerche – ela conseguiu uma bolsa de estudos na universidade italiana.

De 1986 a 1989, fez doutorado em materiais eletrônicos na Inglaterra, na Universidade de Manchester. Em 1993, começou a trabalhar no ITA.

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