Por Roberta Oliveira, G1 Zona da Mata


Thiago Augusto de Jesus e Priscila Bruno de Martin se casaram no civil em 4 de maio deste ano em Juiz de Fora — Foto: Thiago Augusto de Jesus/Arquivo Pessoal

A história da farmacêutica Priscila Bruno de Martin e do administrador Thiago Augusto de Jesus poderia ser roteiro de livro ou de filme, mas aconteceu em Juiz de Fora. Eles se conheceram crianças, perderam o contato na adolescência quando trocaram de escola, se reencontraram após um "empurrãozinho" das mães para retornarem à Igreja para crismar. Ficaram amigos, apesar de ele ser extrovertido e ela muito tímida, se descobriram apaixonados, começaram a namorar e se casaram em 4 de maio deste ano.

A simplicidade da narrativa dos dois jovens de 29 anos tem vários detalhes curiosos que permitiram que eles compartilhassem as lembranças de 11 anos e 2 meses juntos e se tornassem padrinhos de sete casais e de três crianças. Mesmo que, atualmente, estejam geograficamente separados por mais de 1.400 km: por causa do trabalho, Priscila mora em Caxias do Sul (RS) e Thiago permaneceu em Juiz de Fora.

"Nossa vida literalmente é uma comédia romântica. O que mais me inspira é a confiança, é a pessoa maravilhosa que ele é. Para a gente ter nossa família, nossos filhos, nosso cantinho, nosso lar. Eu enxergo ele como um bom pai, um bom marido, um companheiro para a vida toda e até depois dela", resumiu Priscila na entrevista ao G1

Já Thiago aconselha, a partir da própria experiência, quem busca um relacionamento duradouro.

"Sejam amigos, tenham cumplicidade, se amem de verdade, utilizem sempre do diálogo e deem valor às famílias. Acima do casamento, noivado e namoro, existe a amizade e o respeito. Nosso diálogo é muito aberto e verdadeiro. Nossas poucas diferenças se ajustam no dia a dia, nas dificuldades e na base de muita conversa".

'Eu enxergo ele como um companheiro para a vida toda e até depois dela", disse Priscila Bruno de Martin sobre o marido Thiago Augusto de Jesus — Foto: Thiago Augusto de Jesus/Arquivo Pessoal

Encontro, desencontro e reencontro na Crisma

A família de Thiago se mudou para o Bairro Manoel Honório e ele foi matriculado na Escola Estadual Francisco Bernardino, na turma onde estava Priscila. Estudaram juntos até os 14 anos. No Ensino Médio, cada um foi para um colégio diferente.

O reencontro surgiu por pressão materna, como contou Priscila. "Às vezes, a gente se encontrava no ponto de ônibus e se cumprimentava, mas não conversava. Em 2007, a minha mãe falou comigo que eu tinha que fazer a Crisma, porque já estava com quase 18 anos. 'Depois quando você casar, vai ter que fazer, porque precisa. Por que você não aproveita e faz de uma vez?'. Aí eu resolvi fazer".

Enquanto isso, Thiago também foi "empurrado" para a Igreja pela mãe. "Ambos fomos 'forçados' pelas nossas mães, pois estávamos chegando nos 18 anos sem crismar e ,quando resolvêssemos casar, estaríamos velhos. A gente se reencontrou ao, coincidentemente, entrarmos para um grupo de crismandos da paróquia que frequentávamos".

Priscila confessou que comemorou a coincidência. "Quando fui para a Crisma, ele estava lá. No primeiro momento, fiquei feliz. 'Oba, tem alguém que eu conheço. Não vou ficar tão deslocada'. A gente começou a conversar, passou a conversar muito, ficou muito amigo, aí começou a namorar".

Thiago e Priscila se conheceram crianças, se reencontraram na adolescência e estão juntos há 11 anos — Foto: Thiago Augusto de Jesus/Arquivo Pessoal

Declaração de amor via MSN

Antes do namoro acontecer, os amigos precisavam perceber que estavam apaixonados. E quem percebeu que sentia mais que amizade foi Priscila.

"Eu comecei a perceber que estava apaixonada pelo Thiago. Não podia ver ele que meu sorriso bobo já estava estampado na cara, meu coração disparava, até minhas pernas ficavam doces. Não podia nem sentir o cheiro do perfume que eu me sentia num desenho animado, onde o bichinho vai atrás daquele cheiro, flutuando. Eu me sentia assim. Ainda me sinto", contou.

Então, numa manhã de domingo, tomou a iniciativa de contar que estava apaixonada por Thiago. E decidiu fazer isso pelo extinto chat de mensagens MSN.

"Eu tinha medo de que fosse o amor da minha vida que estivesse passando entre os meus dedos. Aí eu digitei que eu podia estar perdendo um grande amigo, mas que precisava falar o que estava sentindo, que eu achava que estava gostando dele, que estava apaixonada. Aí apertei rápido o enter e mandei a mensagem. Porque eu sabia que se pensasse muito, depois eu iria desistir. Depois que você mandava mensagem, não tinha como excluir, essa que era a vantagem", afirmou.

Deu certo. Segundo ela, ele leu a mensagem, disse que estava surpreso e que eles precisavam conversar. E fizeram isso até uma viagem de acampamento com os jovens da igreja. "A gente fez a viagem do acampamento na Canção Nova, na Semana Santa. Sabe quando as coisas estão escritas? A gente passou o tempo inteiro contando da vida um para o outro, se conheceu mais a fundo. E por coincidência, na hora da volta, o destino colocou a gente sentado um do lado do outro. Rolou uma química. A gente ficou uma semana depois. E uns dias depois, a gente estava namorando", contou.

Thiago e Priscila contam que aprenderam a conviver com as personalidades diferentes para construir objetivos comuns — Foto: Thiago Augusto de Jesus/Arquivo Pessoal

Evoluindo junto

Como os primeiros amores um do outro, Priscila e Thiago precisaram aprender como conviver tendo personalidades tão diferentes: ele sociável e ela mais quieta. Ela descreve que "entrar no mundo do outro foi complicado, mas não impossível".

"Foi muita conversa, entendimento, aceitação. Eu sempre fui muito tímida. Então, ele tinha que aceitar minha timidez e eu tinha que aceitar do jeito ele que era. Eu também precisava mudar, porque como ia viver em um casulo, sempre ser um peixinho fora d'água. Eu aprendi muita coisa com ele e ele também aprendeu muita coisa comigo. Essa troca é muito importante em um relacionamento. Buscar o que o outro tem de melhor, absorver para melhorar também," explicou ela.

Thiago destacou que o companheirismo marcou a relação e que superaram juntos a fase de ciúme no início de namoro. Priscila disse que o amadurecimento ajudou nisso.

"A questão de eu ser sempre mais quieta, aflorou muito um ciúme em mim. O Thiago me ajudou a melhorar muito nessa parte. Porque, antes, qualquer coisinha era motivo de ciúme e, às vezes, nada a ver. Até questão de amadurecimento, a gente não veio de relacionamentos anteriores que não deram certo. A nossa proposta é estar junto, é crescer juntos, vamos melhorar juntos", afirmou.

"Eu acho que o nosso fator diferencial é que a gente não é um casal perfeito, aquele casal bonitinho. A gente tem os nossos defeitos, só que diferente de muitos a gente aprende a melhorar. Não é para agradar. Não é deixar de ser o que é por causa do outro. É a gente evoluir junto, colocar objetivos comuns. É confortável estar numa relação onde você dá e você também recebe. É querer ser melhor para ter um companheiro melhor ao teu lado", analisou a farmacêutica.

Uma viagem sem planejamento e com um motorista 'exótico' é um dos 'causos' contados por Thiago e Priscila — Foto: Thiago Augusto de Jesus/Arquivo Pessoal

O pulo, o motorista e os bichinhos

Comédia romântica que se preze tem que ter cenas engraçadas. Claro que a história de Priscila e Thiago teria os momentos que - agora - rendem gargalhadas.

O primeiro deles foi alguns meses depois de Thiago conversar com o pai dela para pedir oficialmente Priscila em namoro. E, justamente, na boa intenção de não decepcionar o sogro, ele quase se colocou em confusão.

"Teve um dia que a gente estava no terraço conversando porque lá em casa todo mundo dorme cedo, já era umas 22h. O Thiago não quis passar por dentro da casa, porque os cachorros iriam latir e acordar todo mundo. Aí ele teve a ideia genial de pular o portão. Só esqueceu que o portão batia. Os cachorros acordaram, latiram, todo mundo levou um susto e um carro que estava passando na rua, achou que ele estava tentando assaltar alguma casa", narrou Priscila às gargalhadas.

O problema foi o tipo de carro que passou na rua. "Na hora que eu pulei para a rua, um carro do policia passava naquele momento e achou que eu estava furtando a casa dela. Acho que naquele dia eu soube os limites do meu corpo, porque corri muito", resumiu.

Para conquistar o sogro de vez, o vascaíno Thiago não se importou em ampliar a torcida. "Ele ganhou meu pai quando vinha aqui em casa torcer para o Botafogo. Meus pais amam o Thiago. Ele tem defensoria completa aqui. Mas a minha sogra também me ama muito. Então, estamos quites", disse Priscila.

A segunda história engraçada tem a ver com uma viagem sem planejamento, na cara e coragem numa parada em Maceió.

"Resolvemos ir até Pernambuco, onde havíamos alugado uma pousada, mas não havíamos comprado passagem de ônibus, nenhum translado e muito menos alugamos carro. Fomos até a rodoviária, onde conheci um motorista, idêntico ao personagem Agostinho Carrara (interpretado pelo ator Pedro Cardoso em 'A grande família')", narrou Thiago.

"Ele prometeu nos levar por um preço muito atrativo. Apesar de o medo tomar conta, dei um voto de confiança à simpatia dos nordestinos, muito embora a Priscila estivesse com todos os medos possíveis da situação. Entramos em cada lugar estranho, cada estrada esquisita. No final, conhecemos muitos lugares legais com a carona e mantivemos o telefone de contato guardado. Quem sabe novas aventuras?!", concluiu Thiago.

O terceiro envolve o amor de Priscila por animais. E ela conseguiu convencer o então namorado a resgatar uma filhote de gato na rua. "O Thiago gostava de bichos, mas não tão próximo. Quando a gente começou a namorar, ele me ajudou a resgatar a Tiquinha, que eu vi andando na rua. Eu fiquei com medo de levar para casa e minha mãe brigar. Então, ele me incentivou 'vamos levar e falar pra sua mãe que fui eu quem trouxe'", afirmou.

Estão nos planos dos dois terem um cachorro e um gato. O primeiro possível candidato está na casa da família de Thiago. "A gente adotou um Lhasa Apso. Falei com ele pra gente pegar depois de mudar para nosso apartamento. Ele pegou e a minha sogra apaixonou por ele. É Deus no céu e Bartolomeu na terra. E o Thiago mima ele com tudo", afirmou.

Desde que Priscila se mudou para o RS, Thiago já viajou quatro vezes para encontrá-la — Foto: Thiago Augusto de Jesus/Arquivo Pessoal

Caxias-JF: enfim, casados

Em 2018, eles decidiram que chegou a hora de deixar de ser namorados, se tornarem noivos e então, casados. Thiago explicou o motivo: "Quando a distância no dia a dia começou a pesar e a rotina de casas distintas não fazia mais sentido".

Para chegar na fase de "ter o próprio canto", eles conversaram, programaram mudanças para que as coisas ocorressem como precisavam. "A gente sentiu que estava na hora, que estava preparado para morar debaixo do mesmo teto, que amadurecemos como casal, que estava na hora de constituir a nossa família. Mais um passo dado, mais um sonho realizado", comentou Priscila.

As cerimônias no civil e no religioso seriam neste ano. Mas entrou na história a oportunidade de emprego de Priscila em Caxias do Sul (RS). Ela se mudou em 17 de julho de 2018. "Se fosse por mim, estaria em Juiz de Fora até hoje. Foi ele que me impulsionou para vir para o Rio Grande do Sul. Aí a gente não conseguiu fazer o religioso, mantivemos só o civil que foi lindo, maravilhoso", disse ela.

E, atualmente, eles vivem na conexão - seja a dos meios de comunicação ou de transporte - para amenizar e lidar com a distância.

"Se for de carro, mais de 24h sem parar. De avião, dependendo da conexão, saindo daqui às 10h chego em Juiz de Fora às 19h. Ele conseguiu vir em agosto para conhecer a cidade e voltou em novembro. Depois eu consegui ir para o Natal, ele veio comigo e ficou até início de janeiro. Depois, ele veio passar meu aniversário em março comigo e em maio eu fui para casar. E, no restante, é ligação via Whatsapp e aprendendo como falar, para não ser interpretado errado e ter 'DR' à distância", resumiu Priscila.

As cenas dos próximos capítulos incluem a manutenção do companheirismo construído por eles em todo este tempo.

"Durante esses anos tivemos algumas perdas familiares, algumas dificuldades e saber que o outro estava ali, com um abraço e muito apoio, foram essenciais. Somos muito parecidos, os sonhos de um acabam complementando o do outro", afirmou Thiago.

E Priscila concordou com a avaliação do marido. "Muitas pessoas esperam muito um do outro e às vezes não olham para si, não crescem, não amadurecem. Cobra, sem ter retorno, e sem fazer nada para melhorar. A base, a estrutura de um relacionamento é a conversa. Se não concorda com algo, tem que falar. Às vezes, o outro tem uma visão diferente que pode mudar a sua percepção".

"Dificuldade sempre aparece. Você tem que se sentir feliz ao lado da pessoa e sentir que a pessoa está feliz ao seu lado. Essa é essência do amor e do companheirismo", concluiu Priscila.

Depois de 11 anos juntos, Thiago Augusto de Jesus e Priscila Bruno de Martin se casaram no civil em 4 de maio deste ano — Foto: Thiago Augusto de Jesus/Arquivo Pessoal

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