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Andropausa: entenda o que é o problema que atinge até 20% da população masculina

Ela afeta em cheio não só a libido como todo o bem-estar
Homens não costumam gostar de falar de andropausa Foto: Ilustração Silvana Mattievich
Homens não costumam gostar de falar de andropausa Foto: Ilustração Silvana Mattievich

Toda mulher sabe que, entre os 45 e 55 anos de idade, uma mudança brutal acontece na vida: a menstruação vai cessar e as concentrações dos hormônios sexuais estrogênio e progesterona no corpo vão cair drasticamente. O que se convencionou chamar de menopausa é mais uma coisa para a enorme lista de alterações por que o corpo feminino passa ao longo da vida e das quais o masculino nem chega perto, correto? Nem tanto. Os homens também têm lá suas questões com os hormônios sexuais e uma espécie de menopausa para chamar de sua: a disfunção androgênica do envelhecimento masculino (DAEM), mais conhecida como andropausa. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, isso é uma realidade que atinge entre 15 e 20% dos homens a partir dos 50 anos.

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A andropausa também está ligada à queda da produção hormonal, no caso, a testosterona. No entanto, essa diminuição ocorre de forma mais demorada e com data não tão sinalizada como na mulher.

— A andropausa é a menopausa dos homens entre aspas, porque com eles a diminuição da produção do hormônio sexual começa a partir dos 35 anos de idade e vai seguindo lentamente, ficando mais intensa no homem idoso — explica a geriatra Renata Serra. — Como não é uma coisa tão marcada, os sintomas são mais discretos e, muitas vezes, passam despercebidos.

Se a testosterona é o principal hormônio atuante na libido, a gente já imagina o que pode acontecer quando ela começa a ficar mais rara. Na DAEM, o apetite sexual diminui, mas não só isso. Como a molécula também está relacionada ao desenvolvimento da massa óssea e muscular, tudo isso pode ser afetado. Os resultados, além do comprometimento da performance entre quatro paredes, são ganho de gordura na região abdominal, osteoporose, anemia (a testosterona também tem a ver com a produção dos glóbulos vermelhos), atenuação de vigor para atividades físicas e até depressão.

— Convencionou-se associar o hormônio apenas à saúde sexual — diz Ricardo Meirelles, diretor do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. — As outras reclamações, como a diminuição de disposição em geral, são atribuídas aos fatores tempo e cansaço. Mas, se houver perda de interesse sexual, certamente o homem vai pensar em testosterona.

Por isso, dizem os médicos, é preciso levar em consideração todos os sintomas antes de se chegar a um diagnóstico. Se houver apenas diminuição de libido, pode ser que a andropausa não tenha muito a ver com a história. É o caso do aposentado mineiro Emmanuel Motta, de 59 anos, que andou às voltas com a falta de desejo sexual e fez questão de pedir uma dosagem de testosterona no exame de rotina.

— Fiz ano passado e deu normal. O médico não me receitou nenhuma medicação. Não tomei nada, já que tenho medo do azulzinho (apelido do Viagra) — diz Emmanuel, com uma franqueza pouco habitual para assunto tão caro aos homens.

Quando se chega à conclusão de que o homem está sofrendo de andropausa, não há muita opção além da reposição. Hoje existem alternativas sintéticas que vêm em injeções ou até em gel. E todas elas, dizem as pesquisas mais recentes, não têm o câncer de próstata como efeito colateral.

Andropausa Foto: Ilustração Silvana Mattievich
Andropausa Foto: Ilustração Silvana Mattievich

— Essa história começou porque, nos anos 1940, foi feito um estudo com apenas três pacientes que repuseram testosterona, e dois tiveram tumor de próstata. Hoje em dia, um estudo assim nem seria aceito. Isso acabou ficando na cabeça das pessoas, mas é totalmente superado — diz Ricardo Meirelles, que frisa a necessidade de uma ampla investigação da condição da próstata a partir dos 50 anos.

Embora o assustador fantasma do câncer por causa da reposição de testosterona seja águas passadas na ciência, é preciso ter cuidado para não achar que ela pode ser tomada indiscriminadamente, como é feito por muitos homens que querem ganhar massa muscular de forma rápida ou retardar os efeitos do tempo.

— Quando você repõe sem precisar, o testículo fica preguiçoso e para de produzir espontaneamente. Isso pode causar infertilidade e acarretar outros problemas, como aumento do volume do coração, mais riscos de infarto e AVC — diz Ricardo.

Uma boa notícia para os homens é que nem todos conseguem perceber a diminuição de testosterona no sangue. Apesar de os números caírem, muitas vezes não há efeitos práticos, e o paciente pode terminar a vida sem ter sofrido nenhum “arranhão”. Contar com isso é dar uma chance ao acaso, que pode receber uma ajudinha dos bons hábitos.

— Estresse, excesso de peso e uso frequente de álcool e tabaco são fatores capazes de acelerar o processo de diminuição da produção de testosterona — diz o urologista Igor Dutra. — Não necessariamente o homem deve ter uma rotina de dosagem do hormônio, mas ele precisa, sim, passar por consultas regulares.

Se as mulheres estão acostumadas desde cedo a olhar para a saúde, está mais do que na hora de os homens fazerem o mesmo.

ATENTO E FORTE

Função da testosterona

O hormônio é comumente relacionado à libido, mas não tem apenas essa função. Diz respeito também à manutenção da massa muscular e óssea, produção de glóbulos vermelhos e sensação de bem-estar. A diminuição ou a falta dele pode acarretar perda de desejo, acúmulo de gordura (principalmente na região abdominal), osteoporose e até depressão.

O que é a andropausa

Diferentemente das mulheres, que entram na menopausa quando a menstruação cessa, a diminuição dos hormônios nos homens é progressiva. Essa queda de produção é a chamada andropausa, mas nem todos sentem seus efeitos. Estima-se que entre 15% e 20% da população masculina acima dos 50 anos sofram com ela na prática.

Como é feito o diagnóstico

Os médicos avaliam a questão por dois pontos de vista: exames laboratoriais de contagem hormonal e presença de mais de um dos sintomas. Ter baixos níveis de testosterona sem indícios clínicos (e vice-versa) não caracteriza andropausa.

O tratamento

Os níveis de testosterona podem ser normalizados com reposição do hormônio de forma injetável ou em gel. Mas atenção: isso só pode ser feito por quem realmente precisa e deve ser orientado pelo médico. O uso indiscriminado pode levar à infertilidade e a doenças cardíacas.