Política

PT reelege Gleisi e fala em aproximação com o centro político

Documento final de congresso deixa aberta possibilidade de partido assumir o "fora Bolsonaro"
Deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) foi reeleita para comandar o PT por mais quatro anos Foto: Paulo Pinto / PT
Deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) foi reeleita para comandar o PT por mais quatro anos Foto: Paulo Pinto / PT

SÃO PAULO. A deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) foi reeleita neste domingo para comandar o PT por mais quatro anos durante congresso do partido realizado em São Paulo. A resolução final do encontro propõe a busca de setores do centro político e a necessidade de construir "uma maioria consistente na sociedade que não seja apenas eventual".

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Gleisi explicou que as alianças com setores do centro são para “questões pontuais”, como a defesa da democracia.

— É importante deixar claro qual a nossa linha central de atuação, que é a defesa do povo brasileiro. Somos contra essa pauta liberal que está no Congresso, que retira direitos. É em torno disso que vamos fazer alianças.

A presidente do PT disse ainda que o partido tem obrigação de conversar com candidatos do campo progressista que tenham chance de vitória na eleição do ano que vem.

Uma emenda ao texto da resolução, incluída ontem, permite que o partido, a depender das circunstâncias, assuma a defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro.

Com relação à eleição municipal de 2020, o partido diz que um deus objetivos será "derrotar a ultradireita" e que o povo terá a oportunidade de expressar nas urnas o seu descontentamento com o projeto de Bolsonaro.

Gleisi agradeceu a Lula pelo apoio e defendeu a volta dele ao poder.

— Nós queremos Lula percorrendo o Brasil. Nós queremos Lula presidente novamente. O povo vai ter que reagir (...) É nas ruas que vai vencer essa pauta de retrocesso.

Gleisi recebeu 71,5% dos votos dos 792 delegados na votação indireta. Os outros dois candidatos, a deputada Margarida Salmão (MG) e Valter Pomar, tiveram 16,8% e 11,8% dos votos, respectivamente. Margarida e Pomar representavam correntes de esquerda. O deputado Paulo Teixeira (SP) desistiu da disputa na última hora para apoiar Gleisi.

Apesar das resistências de petistas ligados a Lula, que defendiam a eleição de Fernando Haddad, o apoio explícito do ex-presidente falou mais alto para a recondução de Gleisi.

Desde que foi eleita pela primeira vez para comandar o partido em 2017, Gleisi acumulou uma série de conflitos com integrantes da corrente majoritária, a Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual faz parte.

A deputada também teve atritos com o candidato do partido à Presidência da República em 2018, Fernando Haddad. Devido a impasses provocado por disputas por cargo de destaque, como o de tesoureiro, a definição dos demais integrantes da executiva foi adiada para as próximas semanas.No texto final do congresso, prevaleceu a linha de atuação defendida pela CNB.

Correntes de esquerda queriam a adoção da bandeira "fora Bolsonaro", que foi rejeitada com o argumento de que, no momento, sera uma "palavra de ordem vazia" diante da falta de apoio popular.

Como uma forma de contemporizar com esses grupos, a própria CNB incluiu uma emenda que diz que "a partir da evolução das condições sociais e percepção pública sobre o caráter do governo da correlação de forças, a direção nacional do partido, atualizando a tática para enfrentar o projeto do governo Bolsonaro, poderá exigir a sua saída".

Mesmo com a menção a busca de setores de centro, o documento aprovado pelos petistas não demonstra concessões a esse campo político. A reforma da Previdência, que teve adesão de políticos de centro, é chamada de "elitista e excludente".

Os cortes de gastos públicos também são atacados.A resolução fala em necessidade da "mais ampla unidade da esquerda" e diz que a busca de outras alianças deve ser dar para temas como a defesa do Estado de Direito.

"Não há contradição entre consolidar a unidade dos progressistas e, ao mesmo tempo, buscar alianças mais amplas, até com personalidades e setores de centro, em prol do Estado de Direito e de outras causas que extrapolam o campo das esquerdas, como a defesa da universidade pública ou o combate à homofobia, entre outras. Sem falar, naturalmente, na luta pela liberdade de Lula", diz o documento.

O documento vê a ampliação do campo como um caminho para voltar ao poder.

"Trata-se de construir uma maioria consistente na sociedade – que não seja apenas eventual, conjuntural, mas que se afirme como verdadeira hegemonia democrática de ideias e valores – se queremos chegar novamente ao governo federal com efetiva sustentação para promover as mudanças imediatas e históricas", diz.

Ao contrário dos encontros realizados no período em que estava no poder, o congresso encerrado neste domingo foi marcado pela contenção de gastos. Delegados de estados vizinhos a São Paulo tiveram que viajar de ônibus.

Para que o partido não tivesse que pagar mais uma diária de hotel, muitos deles tiveram suas passagens marcadas para a tarde de domingo. Por isso na hora da proclamação do resultado, no começo da noite, havia pouca gente no salão da casa de eventos alugada pelo partido no centro da capital paulista.